Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha 
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista  
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista 

Cansaço emocional, físico ou psicológico, seja como for, a pandemia mexeu definitivamente com a mente das pessoas, mas as redes sociais agravam esses sintomas

Ainda em 2020, no primeiro ano de pandemia, o uso das redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram aumentou 40%, de acordo com a pesquisa da Kantar, marca de pesquisa de mercado. Um crescimento justificável durante uma época em que as pessoas ficaram confinadas, realizando quarentenas isoladas de amigos e familiares. Como uma forma de conexão com o “mundo lá fora”, as redes sociais permitiram que pudéssemos continuar falando com as pessoas e recebendo informações, mas como controlar tudo que chega até nós?

O aumento de informações e chuva de notícias, falsas ou não, aumentou de forma exponencial no dia a dia, causando um grande problema: a Infodemia. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), nós atravessamos a pandemia acompanhados pela epidemia das informações, em que o grande número de dados, confiáveis ou não, acaba dificultando as buscas por fontes idôneas e de confiança. A Infodemia se refere ao excesso no crescimento de informações relacionadas a um determinado tema, e foi exatamente isso que aconteceu na pandemia. Na procura por informações sobre o novo vírus, como nos proteger ou sobre a proliferação que se alastra por todo o mundo, a sociedade mergulhou em um mar de notícias, ou melhor, nas redes sociais, de uma forma incontrolável. O algoritmo, responsável por nos oferecer temas do nosso interesse, lotou nossos “feeds” de notícias sobre a covid-19, um excesso que pode causar confusão em nossas mentes.

Na luta contra o grande número de notícias falsas que surgem diariamente durante a pandemia, as redes sociais desenvolveram métodos para identificar fake News e diminuir a proliferação de notícias que impactassem negativamente na pior crise sanitária já vivida no mundo. Ainda assim, é comum vermos as inúmeras informações errôneas que são compartilhadas em aplicativos como o WhatsApp.

Segundo a The Economist, apesar do grande aumento do uso das redes sociais para se informar sobre a pandemia, a TV aberta continua sendo o meio mais utilizado pelos britânicos. Em 2020, a procura por informações nas redes caiu de 49% para 45%. No Brasil, a população tem consumido muito mais notícias do que em um ano normal. As informações são da Kaspersky, em um estudo sobre a “infodemia e os impactos na vida digital”.

Se por um lado a população utilizou mais ainda a internet como via de informação, por outro, a pesquisa da Kaspersky mostra que o nível de sentimento de saturação também foi alto, com 67% entre os brasileiros. Isso mostra que a população chegou a um ponto de cansaço mental pelo excesso de informações sobre a pandemia, fazendo cair não apenas o número de busca por notícias, mas também gerando um certo número de desertores das redes sociais.

Saúde mental, ansiedade e cansaço são alguns dos motivos que têm levado jovens a excluírem suas contas das redes digitais. De acordo com a pesquisa realizada pela agência de pesquisa Dentsu Aegis Network, em se tratando da geração “Z”, jovens entre 18 e 24 anos, um a cada cinco afirma ter excluído suas redes sociais. Entre os mais velhos, a partir de 45 anos, esse número é menor, uma a cada dez pessoas. Além das questões mentais, outro motivo para a saída das redes é a questão de privacidade de dados. A geração “Z” tem se mostrado cada vez mais preocupada com o uso dos seus dados do que as gerações anteriores. A pesquisa mostrou que esses jovens, nascidos após o advento da internet, trazem uma preocupação maior com relação ao o mau uso de dados pessoais e levanta a hipótese de um movimento de “ativistas de dados”.

Essa insatisfação que surge aos poucos com as redes sociais pode ser visível também na queda de audiência das lives. Ainda em 2020, quando no início do isolamento social, inúmeros artistas realizaram shows que foram transmitidos ao vivo pelas plataformas digitais. Os primeiros eventos chegaram a alcançar o incrível número de 3,31 milhões de expectadores simultaneamente, no Brasil, entre os meses de abril e maio. Apesar do grande sucesso no formato, o Google afirma que essas buscas caíram até 67% no final de maio, mostrando uma saturação do público em relação às lives.

Apesar dos fatores negativos que o uso excessivo das redes sociais causou, devemos reconhecer o lado positivo dessas ferramentas que, meio ao isolamento e pandemia, ainda nos permitiu manter o contato, mesmo que virtual, com outras pessoas, o trabalho home office, além de ter sido um dos principais meios de informação sobre a covid-19. É certo que muitas dessas redes são efêmeras, como foi o caso do famigerado Orkut, assim como o Facebook, que tem caído cada vez mais na lista de preferências dos usuários. O futuro das redes sociais ainda é incerto, mas esse desejo da geração “Z” em viver mais conectado com a realidade e uma maior preocupação com os dados pessoais pode, em breve, fazer com que as grandes empresas de tecnologia repensem os formatos e políticas de privacidades das mídias digitais.