Por Marta Dueñas, Jornalista
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Como a despolitização abriu caminho para fake news e negacionismo

O Ano de 2018 foi muito político! E levou às ruas e ao voto pessoas que dizem não gostar de política. A última eleição testou famílias, relações, paciência e o respeito. Apesar de nos parecermos uma nação que se diz “apolítica”, somos um país com 35 partidos registrados no Tribunal Superior Eleitoral. Fiquei pensando nessa idiossincrasia e na verdade ela tem lógica, ela é a lógica. Somente quem não gosta da política e transforma política numa seara de interesses privados poderia ter 35 partidos que disputam atenção em diferentes graus para representar questões bastante centrais: desenvolvimento social, econômico, infraestrutura, saúde etc. 

Se vamos ter que voltar alguns capítulos da nossa história para bem definir o que é ditadura, feminismo, machismo e, principalmente, direitos humanos, voltemos a refletir sobre o que é política. Política não é politicagem e tampouco resume-se à atividade de governar (caso alguém tenha corrido dar um Google na palavra).

Política é a ciência de governar Estados e Nações, mas é, também, habilidade e ética de negociação e compatibilização de interesses da sociedade, do público, do espaço público. 

E quando falamos em espaço público, sempre penso o lugar de todos. Mas o que é todos? Tudo é nada, todos, ninguém. É preciso representar todos. Daí chegamos em maioria. Fica difícil, ainda. Mas a maioria pode ser traduzida por quem está em maior número. Quantas pessoas na sociedade precisam de transporte, por exemplo. E quantas delas dependem do transporte público. Se a maioria depende desse, política pública seria, portanto, pensar a cidade de maneira que atenda às necessidades da maioria: fluxo, mobilidade e estrutura para que transitem os coletivos. Política está nas empresas. Quando não há planos de crescimento salarial ou regras para admissão e demissão, fica claro que a empresa não tem política de Recursos Humanos. Quando ética (que é valor de 100 entre 100 empresas grandes no mundo) está listada junto a resultado, um precisará estar subalterno ao outro. A definição do que for mais importante a esta corporação traduzirá como ela se relaciona, qual sua política enquanto empreendimento. 

Nós, afinal, gostamos de política? Me parece que sim. Mas nos falta maturar o exercício dela em comunidade. Nos falta entender que numa negociação coletiva, sistemática, complexa e frequente, não se ganha todas e, muito menos, sempre. No exercício de negociar o bem comum, uns recuam para o avanço de outros. Isso não é ser Cuba. É preciso entender que direito privado (propriedade ou o que quer que seja) está sob o guarda-chuva do bem comum, dos direitos da coletividade, nos EUA é assim! Política exige sapiência e na falta dela, impõem-se a violência. Sai de campo a negociação, entra em cena a violação e a aniquilação. Matamos a política porque gostamos dela (quase) sempre a nosso favor. E assim vamos dando espaço a esta ideia de que mais vale um gerentão na governança para ter resultados. Então me diga lá: qual resultado deve ter uma nação? Essa reflexão me leva a um pesadelo: mercado impondo-se à sociedade. Mercado não me representa, sociedade sim. Mercado PRECISA da sociedade. Somos nós que, por meio de nossas trocas comerciais, culturais, artísticas, empresariais e sociais, constituímos uma rede que se pode chamar mercado. Somos uma sociedade e somente a partir dela resultamos num mercado que gera riquezas. Qual a política do nosso mercado? Ele negocia a favor de qual maioria?

A questão daqui para frente não vai se resumir em “ditadura com Bolsonaro” x “corrupção com PT”. A questão transcorrerá por nós. Qual visão de mundo temos, que cidadão eu sou e o que eu penso de espaço público, serviços públicos, direitos, deveres. Este ano teremos mais um ano eleitoral, novamente a política estará na mesa de jantar. Vamos nos deliciar com ela pensando também que os partidos se organizam em torno disso. Não odeiem a política. Despolitizar as conversas é parte do jogo de alguns partidos. Não se engane! 

Além disse, olho aberto ao suposto caminho do meio. Taí um possível ouro de tolo. Não odeiem a imprensa, o jornalismo, a opinião. Não pense que a publicidade não está enlaçada naquele canal de YouTube que você considera independente. Não é possível venerar o mercado como única organização possível e querer canais independentes. Não tem como. Pode ser que o jornalismo esteja pouco interessante, mas é ainda um porto seguro de informações evitando, na maioria das vezes, a perigosa confusão entre opinião e informação.  

Quando jornalismo vai falindo e fake News vai subindo, temos uma leve noção do quadro que estamos pintando. Algo, não por acaso, nos trouxe até aqui. Resultado da nossa política como nação e da formação política dos jovens num cenário polarizado. A atmosfera forçosamente polarizada do cenário político e eleitoral faz com que muitos jovens pensem que a política só se dá num ambiente de guerra, aniquilador, estressante. A política é mais negociação do que belicosidade. A política é mais ter adversários do que inimigos. Que tenhamos um ano de 2022 de mãos dadas com a política sem matar o tio do zap (até porque ele é o que vai andar armado!)