Por Monique Dutra- Rio de Janeiro

As mulheres têm quase três vezes mais probabilidade de dizer que a saúde mental piorou após a pandemia. Esta foi a conclusão do estudo inédito feito pela Care International, uma agência humanitária global que entrevistou 10 mil pessoas em 40 países sobre os impactos da crise de saúde pública e descobriu que 27% das mulheres relataram um aumento nos problemas ligados à saúde mental, em comparação com apenas 10% dos homens.

As principais preocupações citadas pelas mulheres foram: manutenção da renda, dificuldades para se alimentar e ter acesso a cuidados de saúde e maiores responsabilidades de cuidado como fatores que levam à deterioração da saúde mental. Os pesquisadores descobriram que 55% das mulheres disseram que a perda de renda é um dos maiores efeitos da emergência da Covid-19, em comparação com 34% dos homens.

Diante desta crise global de saúde pública e mental – que ainda está entre nós – algumas mulheres buscaram novos caminhos para lidar com a situação e se redescobriram. Este é o caso da Cíntia Abreu, profissional de marketing e agora artista plástica. Ela é a entrevistada desta edição do “Mulheres Incríveis e Possíveis”, no Mulheres Jornalistas.  

Como surgiu seu envolvimento com causas femininas?

Sempre tive interesse em todos os assuntos relacionados as relações de consumo e suas conexões afetivas. Em 2016, quando a crise econômica assolava tantos lares, percebemos um movimento crescente de vendas de produtos de transformação nos mercados de Auto Serviço. ELAS entraram em AÇÃO! Diversas mulheres fizeram um esforço e viraram o jogo movimentando o mercado e garantindo a renda familiar. Elas passaram a protagonizar, o que antes era um mercado dominado pelo empresariado formal, ganharam voz, foco das indústrias. Percebi que sim, elas poderiam ser também mulheres de sucesso, com o toque de afeto da própria mesa. Me envolvi em ações de apoio a esse público, me encantei com a possibilidade real de ser múltipla, mas até então só me via como facilitadora, nada me despertava a esse movimento pessoal.

Em que momento você resolveu empreender? Por quê?

Foi na pandemia, onde todas as demandas se concentraram em casa e com o papel da mulher e suas múltiplas funções a pleno vapor, que o corpo pediu pausa. A tão falada ansiedade e estafa deram sinais físicos. O distanciamento social associado as cobranças pessoais por executar – bem – todos os papeis fizeram o movimento de desaceleração ser inevitável. Em um dia comum, escrevendo em um rascunho me lembrei de quando era criança e gostava de rabiscar.

Como foi este momento?

Como numa catarse, iniciei os movimentos e senti uma profunda conexão com a criança que se perdeu com o tempo. Os traços, que formavam ondas, induziam a um movimento de respiração, produzindo um estado meditativo. O resultado desses traços, formaram mais que um desenho, mas uma descoberta de propósito. Uma arte, uma terapia, uma cura, que não alcança somente a si, mas transmite e comunica essa calmaria.

O primeiro desenho veio como uma explosão de emoções. Nascia ali uma paixão. A arte despertou em mim algo que não conhecia, mas estava escondido. Não foi necessário sair do lugar comum e da simplicidade para essa descoberta, mas me permitir respirar e desacelerar, lembrar que a mulher multitarefas também é uma menina que brinca de rabiscar. Hoje, essa descoberta recebeu um grande incentivo e a levou ao empreendedorismo.

Como está sendo sua rotina de empreender na arte e conciliar com o trabalho formal?

Minha casa agora funciona como Ateliê nos finais de semana. Minhas peças já passeiam pelo Brasil, através de pedidos de amigos e de quem chega às suas redes sociais. Desejo que essa jornada leve às pessoas essa mensagem de que podemos nos redescobrir, ver outras perspectivas de nós mesmas, nos abrir para o novo nesse momento tão desafiador e, mais do que um produto, levar uma mensagem de esperança.