Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Como identificar e combater essa doença gerada pelo mundo moderno

Dia 23 de setembro foi o Dia Mundial de Combate ao Estresse. Um tema tão atual e presente em nosso dia a dia que merece uma pausa para nos aprofundarmos e refletirmos sobre os seus impactos na sociedade e dentro da nossa própria casa. O corpo humano e o corpo animal vão muito além em suas semelhanças do que imaginamos. Você sabia que as asas de um morcego são como nossas mãos abertas e as asas das aves são como nossas mãos fechadas? Externa e internamente, somam-se diversas características que nos aproximam. Outro ótimo exemplo é o sistema auditivo dos gafanhotos, segundo um estudo realizado pela revista Science em 2012. Assim como nós seres humanos, eles possuem em seus ouvidos tímpanos e todo um sistema ósseo de alavanca que amplifica as vibrações e transmitem as informações ao sistema nervoso.

Quando o assunto é sobre sentimentos, essa proximidade se torna maior ainda. Conforme falamos nas reportagens Voltei, e agora? e Adoções que retornam, os animais demonstram, comprovadamente através de estudos, sentimentos como amor, medo, carinho, ansiedade, tristeza e porque não falarmos sobre o estresse? Sim, isso mesmo! Animais também ficam estressados, aliás, esse é um comportamento bem mais comum do que se pensa.

O que é o estresse?

De acordo com a Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde, o estresse é uma reação natural do organismo que ocorre quando vivenciamos situações de perigo ou ameaça. Esse mecanismo nos coloca em estado de alerta ou alarme, provocando alterações físicas e emocionais. A reação ao estresse é uma atitude biológica necessária para a adaptação às situações novas.

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    Foto: Júlio Salvo

    Tipos de estresse

Agudo: é mais intenso e curto, sendo causado normalmente por situações traumáticas, mas passageiras, como a depressão na morte de um parente.

Crônico: afeta a maioria das pessoas, sendo constante no dia a dia, mas de uma forma mais suave.

  • A evolução do estresse

Fase de Alerta: ocorre quando o indivíduo entra em contato com o agente estressor.

Sintomas: mãos e/ou pés frios; boca seca; dor no estômago; suor; tensão e dor muscular, por exemplo, na região dos ombros; aperto na mandíbula/ranger os dentes ou roer unhas/ponta da caneta; diarreia passageira; insônia; batimentos cardíacos acelerados; respiração ofegante; aumento súbito e passageiro da pressão sanguínea; agitação.

Fase de Resistência: o corpo tenta voltar ao seu equilíbrio. O organismo pode se adaptar ao problema ou eliminá-lo.

Sintomas: problemas com a memória; mal-estar generalizado; formigamento nas extremidades (mãos e/ou pés); sensação de desgaste físico constante; mudança no apetite; aparecimento de problemas de pele; hipertensão arterial; cansaço constante; gastrite prolongada; tontura; sensibilidade emotiva excessiva; obsessão com o agente estressor; irritabilidade excessiva; desejo sexual diminuído.

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Foto: Júlio Salvo

Fase de Exaustão: nessa fase podem surgem diversos comprometimentos físicos em forma de doença.

Sintomas: diarreias frequentes; dificuldades sexuais; formigamento nas extremidades; insônia; tiques nervosos; hipertensão arterial confirmada; problemas de pele prolongados; mudança extrema de apetite; batimentos cardíacos acelerados; tontura frequente; úlcera; impossibilidade de trabalhar; pesadelos; apatia; cansaço excessivo; irritabilidade; angústia; hipersensibilidade emotiva; perda do senso de humor.

  • Prevenção e controle

Alimentação: durante o processo de estresse, o organismo perde muitas vitaminas e nutrientes, portanto, para repor essa perda é recomendado comer muitas verduras e frutas, pois são ricas em vitaminas do complexo B, vitamina C, magnésio e manganês. Brócolis, chicória, acelga e alface são ricas nesses nutrientes. O cálcio pode ser reposto com leite e seus derivados.

Atividade Física: qualquer atividade física proporciona benefícios ao organismo, melhorando as funções cardiovasculares e respiratórias, queimando calorias, ajudando no condicionamento físico e induzindo a produção de substâncias naturalmente relaxantes e analgésicas, como a endorfina.

Fonte:
Universidade Estadual de Campinas. Cérebro e Mente: Revista Eletrônica de Divulgação Científica em Neurociência

No mundo animal, o estresse pode ser ocasionado por diversos motivos:

  • Sons – Enquanto a frequência humana audível vai de 20 Hz a 20.000 kHz, a frequência de animais como os cães, por exemplo, fica entre 15 Hz e 50 kHz. Devido a essa diferença, alguns sons comuns aos nossos ouvidos, os incomodam tanto. Fogos de artifício, apitos, buzinas e qualquer reprodução de som alto, geram tal desconforto.

 

  • Imagens – Diferente do que muitos acreditam os cães não enxergam somente em preto e branco. Eles também possuem receptores coloridos, mas possuem capacidade bem inferior à visão humana, cerca de 10%. Porém, estudos comprovam que essa espécie possui apenas dois tipos de células para diferenciar as cores, já nós humanos possuímos três células.

 

  • Odores – Algumas raças caninas apresentam até 220 milhões de células receptoras de odores, enquanto nós humanos possuímos cerca de 5 milhões. Essa grande capacidade os tornam grandes farejadores, mas também nos exige cautela na hora de manusear alguns itens que são bem comuns na nossa rotina como a pimenta, o vinagre, alguns produtos de limpeza, álcool, perfumes, esmaltes, acetonas e outros fortes odores.

 

  • Mudança de espaço físico – Uma preocupação muito comum na hora de escolher um animalzinho para a família é se haverá espaço suficiente para o mesmo crescer feliz e saudável. Os animais possuem uma grande capacidade de adaptação e se limitam a desfrutar de acordo com o que lhes é apresentado. Portanto, se você morar em um apartamento e resolver trazer para a família um animal de grande porte, precisará sim organizar sua rotina com bons hábitos como passear na rua e promover brincadeiras de interação com o objetivo de gastar a energia do peludo, mas nada o impede de viver e ser feliz mesmo habitando em um espaço reduzido. Veja na reportagem Como adaptar seu Pet em um novo lar.

 

  • Estresses comportamentais – Esse tópico é bastante amplo e abrange desde uma disputa territorialista, até uma consequência devido às agitações e confusões de convivência com seus tutores e/ou outros animais que residam no mesmo local. Estudos apontam que animais residentes em ambientes cujos tutores apresentam comportamento agressivo, agitado ou mesmo estressado, fazem com que os animais de certa maneira absorvam tais comportamentos.

 

  • Manipulação e procedimentos – Na vida de um animal existe a necessidade de manuseios por terceiros para manutenção, prevenção e cuidados periódicos. Idas ao veterinário para aplicação de vacinas, check-up e cuidados regulares com a limpeza e bem-estar ligados à área de banho e tosa fazem parte da rotina de um animal saudável e apto a viver em sociedade. A hora do banho também gera muitas dúvidas, mas a melhor opção será sempre aquela em que o animal se sentir mais confortável, seja em pet shop ou a domicílio.
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Entrevistada Groomer Natália Espinosa. Foto: Júlio Salvo

Sobre a importância e os cuidados que um ambiente de um banho e tosa precisa ter, conversamos com a Natália Espinosa, que atua na área desde 2009. A Groomer é proprietária da Uau Escola de Estética Animal, em Sorocaba, São Paulo.

Mulheres Jornalistas (MJ): Quais as dicas para efetuar um bom atendimento a cães idosos e o que é importante que seja relatado ao estabelecimento pelos tutores para o bem-estar do animal?

Natália Espinosa: Inicialmente, é importante esclarecer que cães são considerados idosos a partir dos 7 anos de idade. De início, é necessário que haja uma conversa com o tutor para entender quais são as particularidades daquele animal, mas em regra, ao trabalharmos com cães idosos, sabe-se que de cara já existem alguns cuidados necessários, assim como ocorre com o ser humano. A pele de um animal idoso tende a ser bem fina e sensível, então é necessário redobrar a atenção ao manusear máquinas, geralmente eles desenvolvem verrugas pelo corpo, nessa conversa prévia com o tutor será possível colher essas informações. É comum também esses animais apresentarem dores articulares, portanto é necessário tomar bastante cuidado no momento do manejo para evitar as dores. Alguns podem estar cegos, surdos e/ou serem cardiopatas, tudo isso precisa ser observado e devidamente realizado com a maior cautela possível.

MJ: Qual o procedimento adotado quando se observa que um animal apresenta sinais de estresse e/ou agressividade durante seu atendimento no banho e tosa?

Natália Espinosa: Algumas situações são bem específicas, por exemplo, alguns animais não gostam do toque na região das patas, do bumbum ou da cabeça, então o primeiro ponto é identificar quais os incômodos e, através dos estímulos positivos, fazer com que esse animal confie no seu trabalho. Caso ele apresente alguma agressividade, existem algumas alternativas para a segurança tanto do animalzinho quanto do profissional, como a utilização do colar elizabetano ao invés da focinheira, pois muitas vezes atrapalha o processo de respiração do animal e acaba o deixando mais agressivo e estressado. Nos piores casos, aconselha-se um acompanhamento veterinário para avaliação ou até mesmo dos próprios tutores. Mas existe um limite que precisa ser respeitado para evitar um problema cardiorespiratório por conta do estresse excessivo. Precisa haver uma cumplicidade de ambas as partes, tutor e profissional.

MJ: De acordo com a rotina do atendimento, quais as raças que apresentam o comportamento mais agressivo?

Natália Espinosa: Não existe essa possibilidade de pré determinarmos as raças mais agressivas. É importante reforçar que o comportamento pode ter influência genética, como ocorre em algumas raças consideradas cães de guarda. Porém, observa-se uma mudança bem significativa de comportamento quando uma determinada raça entra na moda, pois o aumento na demanda gera ninhadas desordenadas que acabam resultando numa alteração no padrão existente.

MJ: Existe algum profissional específico na área de banho e tosa para lidar com esses animais que apresentam um comportamento inadequado?

Natália Espinosa: Procure sempre buscar estabelecimentos certificados e que possuam profissionais devidamente habilitados para exercer tais funções. O local precisa estar limpo, bem organizado, bem iluminado e bem ventilado. Caso opte pelo atendimento domiciliar, certifique-se que seja uma pessoa de confiança, com referências. O ambiente da loja acaba sendo mais dinâmico e rápido, porém a melhor opção será sempre a que esteja de acordo com a preferência do cliente e a que proporcione uma melhor experiência ao animal.

MJ: Como evitar que um filhote se torne um cão adulto com problemas relacionados ao manuseio?

Natália Espinosa: Especificamente, sobre o serviço de banho e tosa, é importante entendermos que aquele animal já passou por uma experiência recente de afastamento da sua mãe e irmão, está ainda em adaptação em uma nova família. No primeiro momento, dê bastante carinho e tenha paciência para que essa experiência seja a melhor possível, evite usar o soprador nesse primeiro contato para não assustá-lo e o seque somente no secador mesmo. Caso ainda assim aconteçam alguns comportamentos inadequados, aconselha-se procurar um profissional na área de adestramento.

O corpo fala

Se o animal apresentar atitudes como falta de apetite e perda de peso, agressividade, sono em excesso ou insônia, latidos compulsivos, problemas gastrointestinais, isolamento ou lamber demasiadamente suas patas, pode estar lhe mostrando sinais de estresse. Fique atento!

Caso o seu animal se enquadre em algum dos quadros acima, não se desespere. Daremos dicas de como extravasar essa tensão e aproveitar da melhor maneira os momentos com o seu melhor amigo:

  • Procure trazer ou alternar brinquedos para aumentar o interesse e quebrar a rotina das brincadeiras;
  • Estabeleça horários para acordar, comer, brincar, passear e dormir. Essa rotina faz bem ao animal;
  • Passeie! É uma ótima maneira de gastar a energia do seu pet, melhorar o seu convívio social e ainda praticar um exercício;
  • Capriche na criatividade e reserve horários para compartilharem brincadeiras;
  • Se não tiver outra alternativa, ok! Mas evite deixá-lo por muito tempo sozinho ou invista em um irmão ou irmã para lhe fazer companhia nas suas ausências.