Por Vanessa Van Rooijen, Jornalista – SP
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Guia desenvolvido pelo Ministério da Educação dá orientações para a alimentação escolar com a retomada das aulas presenciais

O pequeno Daniel Tarrago, de 10 anos, já voltou para as aulas presenciais e, antes de sair de casa, recebeu todas as orientações de sua mãe, Daniela. A dona de casa explicou sobre os cuidados necessários na escola: uso de máscaras, álcool em gel e distanciamento social. Assim como Daniel, outras crianças receberam orientações de seus pais, mas quando o estudante passa da porta da rua e adentra no estabelecimento escolar, a responsabilidade passa a ser da escola sobre as ações de combate à covid-19. 

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Daniel Tarrago recebeu todas as orientações antes de voltar para a escola.
Foto: Arquivo pessoal

Segundo dados divulgados pela Agência Brasil, portal de notícias vinculado ao Governo Federal, em São Paulo, a retomada das aulas presenciais foi autorizada e está em vigor desde o início de agosto. Tanto escolas da rede estadual e municipal quanto particulares do estado já recebem alunos e podem atender 100% dos estudantes, desde que seja obedecido um metro de distanciamento entre eles. Por tanto, cada escola é responsável por estabelecer um limite de acordo com a capacidade física que oferece, ou seja, se a escola não puder receber a totalidade dos alunos presencialmente, poderá adotar o revezamento entre eles.  

Com a retomada das aulas presenciais, entre um dos principais cuidados, além das medidas de prevenção constantemente reiteradas, está o momento da alimentação. Por isso, um guia foi desenvolvido pelo Ministério da Educação para retomada das atividades presenciais, com diversas regras elencadas para o cumprimento das escolas e garantia de saúde das crianças e adolescentes. Um dos tópicos abordados no documento é a alimentação dos estudantes. 

O guia teve como base para os cuidados relativos à educação alimentar e nutricional e à segurança dos alimentos documentos elaborados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Além disso, utilizou orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), da Organização PanAmericana de Saúde (OPAS), da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do próprio Ministério da Saúde do Brasil (MS), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e pela União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime).

O que diz o guia

No documento, constam informações sobre a alimentação das crianças e dos adolescentes, adoção de escala para os intervalos em horários diferentes, conduta dos profissionais e orientações sobre a retomada das aulas presenciais.

O guia orienta as escolas para decidir como será o processo de alimentação dos alunos: “se ocorrerá dentro das salas de aula ou em cantinas/refeitórios, se há espaço de atendimento para garantir a distância mínima entre pessoas, se há condições para revezamento de horários; como será a distribuição de alimentos”, pontua o documento. 

Além dos cuidados com a alimentação propriamente dita, o guia sugere que seja iniciada uma capacitação para as equipes responsáveis pela limpeza, manutenção, alimentação, transporte e de atendimento ao público. O objetivo é garantir a correta higiene do espaço escolar antes do início das atividades presenciais. Antes da capacitação ocorrer, as escolas precisam providenciar o fornecimento de equipamentos de proteção individual (EPIs) para os profissionais, que devem ser sempre repostos. 

Os EPIs são de extrema importância tanto para a proteção do profissional, quanto dos estudantes, professores e familiares que, ao fim do dia, receberão seus filhos em casa. Todo o preparo e processo para servir os alimentos devem ser executados com a utilização e EPIs, seguindo rigorosamente os protocolos de higiene e manipulação dos alimentos, de acordo com os cuidados relativos à educação alimentar e nutricional e à segurança dos alimentos, elaborados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). 

A alimentação escolar deve ser realizada, preferencialmente, nas salas de aula. Se não for possível, a instituição deve escalonar o acesso de estudantes ao refeitório e às praças de alimentação. Da mesma forma, é necessário planejar e comunicar a organização de horários intercalados para a entrada, saída, alimentação e intervalo escolar de modo a evitar aglomerações;

Por fim, as escolas também devem organizar a rotina e escala de limpeza do ambiente de trabalho e dos equipamentos para refeições, como a limpeza de talheres, copos e pratos, caso sejam utilizados nas merendas.  

Cuidado extra com os pequeninos

Para a rede estadual, municipal e particular, o retorno à aula presencial é opcional. Os pais ou responsáveis podem decidir entre manter o estudante nas aulas virtuais ou não, porém, as escolas já devem estar preparadas para receber total demanda ou adotar o método de revezamento. A diferença está nos Centros de Educação Infantil (CEI). Essas instituições poderão atender 60% das crianças e bebês matriculados, exceto para os que compõem o grupo de risco. Esses devem permanecer em educação remota. 

Na escola em que Silvia de Almeida trabalha, localizada em Sorocaba (SP), as aulas presenciais já retomaram, mas com escalas entre os alunos. Silvia conta que segue firme as recomendações das autoridades de saúde e educação, para garantir saúde e segurança aos pequenos. 

O processo de retomada das aulas presenciais aconteceu num clima bastante tenso porque o momento era de muita insegurança. Como trabalho em uma escola municipal, ela fornece os alimentos para as crianças, então respeitamos as orientações dos órgãos de educação, pautadas nos protocolos da Organização Mundial de Saúde. Mantemos o distanciamento social dos alunos nas salas e durante a refeição”, explica. 

Com um público de 4 meses de idade a 3 anos, o cuidado com a alimentação dos bebês deve ser redobrado. “Trabalhamos com crianças bem pequenas e precisamos alimentá-las As merendeiras servem nos pratinhos e nós, com luvas, levamos o alimento a quem não consegue se alimentar ainda e os que já conseguem o fazem sozinhos”, explica. 

Como cuidar da alimentação nas escolas

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Solange Cassar descreve quais são os cuidados necessários durante a manipulação de alimentos nas escolas.
Foto: Julio Salvo

Para reforçar os cuidados quanto à manipulação e produção dos alimentos nas escolas, o Instituto Mulheres Jornalistas conversou com a nutricionista especialista em segurança alimentar e diretora da Normalize Nutrição, Solange Cassar.

MJ: Quais cuidados as escolas devem ter em relação à contaminação dos alimentos?

Solange Cassar: Os cuidados para a retomada das aulas e evitar qualquer tipo de contaminação para as crianças, seja por covid ou qualquer outra doença. É necessário sempre respeitar as boas práticas de fabricação e manipulação dos alimentos, respeitando, principalmente, as regras de higiene pessoal e ambiental que toda cozinha deve ter.

MJ: Neste período, quais alimentos devem ser evitados ou mais utilizados para o lanche dos estudantes, tendo em vista o maior contágio do vírus?

Solange Cassar: Todos os alimentos, quanto mais manipulados e expostos ao meio (sem proteção, cobertura ou tampa nos recipientes que os comportam), são mais propícios à contaminação. Para evitar riscos maiores, é recomendável servir itens que passaram por processo de cocção e atingiram uma temperatura superior a 74 graus celsius e, após isso, foram pouco manipulados. É importante destacar que eles devem ser produzidos respeitando boas práticas de higiene pessoal.

MJ: Apenas distanciamento social é o suficiente para evitar o contágio da covid-19 e outras doenças?

Solange Cassar: Não, pois os micro-organismos pegam “carona” em itens mal higienizados. Se não higienizarmos nossas mãos e sairmos pegando em tudo, deixaremos pelo caminho micro-organismos que estavam em nossas mãos. Por isso, a lavagem correta das mãos e dos utensílios com produtos eficazes também evita o contágio.

MJ: A contaminação por covid-19 pode ocorrer de forma biológica. O que seria contaminação biológica?

Solange Cassar: A contaminação biológica ocorre quando há a transferência de contaminantes de um determinado local para outro, como da mão para a bancada, do utensílio para a mão, da mão para o alimento, do utensílio sujo para o alimento etc. São micro-organismos que podem estar presentes na contaminação biológica: fungos, bactérias, vermes, vírus e protozoários.

MJ: Para crianças, que costumam estar sempre atentas para brincadeiras, quais cuidados as escolas devem ter na hora do lanche?

Solange Cassar: É preciso ensinar a importância da lavagem de mãos antes de comer e desenvolver desde cedo projetos com educação nutricional que vão trabalhar a questão da segurança dos alimentos.