Em sua primeira visita ao Brasil, Viola Davis fala de escravidão e racismo
Por Janaina Pereira, do Rio de Janeiro
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista
Atriz veio ao país para o lançamento de A Mulher Rei, que estreia nesta quinta (22)
Ela está no seleto grupo de 15 atrizes que já ganharam o Tony, o Emmy e o Oscar – as três maiores premiações americana do teatro, TV e cinema, respectivamente. Uma das personalidades mais influentes do mundo, Viola Davis chegou ao Rio de Janeiro no último final de semana para uma curta, mas intensa, estadia na cidade. Acompanhada do marido, o ator e produtor Julius Tennon, ela veio lançar A Mulher Rei, longa inspirado em fatos reais que conta a história da Agojie, uma unidade de guerreiras composta apenas por mulheres que protegiam o reino africano de Daomé nos anos 1800. O filme estreia nesta quinta (22) e, para promovê-lo, Viola participou de uma coletiva de imprensa na segunda (19), no Copacabana Palace.
Viola Davis se mostrou surpresa com a sua popularidade no país. “Estou pasma com a comida, a cultura, a gentileza e a celebração dos brasileiros. Aqui sempre estão fazendo alguma festa! Fiquei pasma também com o amor que sentem pelo país e por mim. Eu não fui uma criança muito amada, então eu gosto de me sentir amada agora”, disse.
Encantada com as belezas naturais do Rio, ela disse que a cidade é uma mistura de boa comida e belas paisagens, e destacou a visita ao Cristo Redentor como a mais encantadora. Mas, para Viola, o Brasil está além disso. A atriz comentou que a escravidão foi um dos fatores que a fez olhar para o país. “Estamos conectados. Minha mente está aberta desde os meus 20 anos sobre a conectividade com o Brasil, viemos da mesma fonte, a escravidão”.
A representatividade de Viola é evidente quando lembramos que A Mulher Rei é um drama épico, com uma protagonista feminina negra. A produção estreou na última semana com a melhor bilheteria nos Estados Unidos. “Este tipo de filme precisa fazer dinheiro para que venham outros. O meu recado para o público é que vejam e percebam que pessoas negras podem ser heroínas de suas próprias histórias”, reflete a atriz.
A invisibilidade da mulher negra
Viola Davis também falou sobre a falta de valorização das mulheres, especialmente as negras. “Todas as mulheres são secundárias, todas nós! Não é mais aceitável que as pessoas não nos vejam como mulheres. Eu tenho valor, o mesmo valor que qualquer outra pessoa. Meryl Streep, Julianne Moore, Helen Mirren… elas são grandes atrizes porque tiveram mais oportunidades para demonstrar seus talentos. Já a minha narrativa é de uma mulher preta. Em todos os lugares dizem que não temos tanto valor. Somos a amiga da protagonista, não a protagonista.”
Ela relatou as dificuldades de as atrizes negras conseguirem bons papeis. “Eu vejo uma atriz negra na tela e, quando penso em quem ela é, já saiu da tela. Não quero mais isso! Nós somos parte da raça humana. Por isso, precisamos cada vez mais mostrar as narrativas das mulheres negras.”
Viola ainda comentou o efeito do racismo dentro e fora das telas. “O racismo criou um sistema de castas e as mulheres pretas estão no lugar mais baixo da lista”.
A atriz espera que o protagonismo em A Mulher Rei ajude a abrir portas para outras atrizes negras serem protagonistas. “Eu quero que as mulheres pretas sejam humanizadas”, concluiu.
A Mulher Rei é dirigido por Gina Prince-Bythewood e tem ainda no elenco Thuso Mbedu, Lashana Lynch e John Boyega.