Pleito deste ano é marcado pelo derretimento da extrema-direita e aumento da presença de mulheres, negros e trans em prefeituras e câmaras municipais 

Comentarista Melissa Rocha- RJ
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As eleições municipais ainda não acabaram, mas já é possível apontar a extrema-direita como a grande perdedora do pleito. Isso porque a onda ultraconservadora, que em 2016 e 2018 varreu o país, começou a dar sinais de que está perdendo força. 

Prova disso foi o resultado alcançado pelo PSL. A sigla responsável por colocar Jair Bolsonaro na presidência da República em 2018, neste ano obteve um desempenho abaixo do esperado. Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a legenda lançou 727 candidatos a prefeito, mas elegeu apenas 90, todos eles em municípios com menos de 200 mil habitantes. Isso mesmo tendo em caixa uma fatia do fundo eleitoral de quase R$ 200 milhões. 

Além disso, duas estrelas do PSL, as deputadas Joice Hasselmann e Carla Zambelli fracassaram nas urnas. Candidata a prefeita de São Paulo, Hasselmann obteve um pífio resultado: apenas 1,55% dos votos. O percentual é muito abaixo do esperado diante dos R$ 6 milhões injetados na campanha da deputada. Por sua vez, Zambelli fracassou em eleger três parentes: pai, irmão e cunhada. A expectativa era usar a influência da deputada para conquistar votos, mas a tática teve o efeito oposto. 

Outro que fracassou em obter apoio para aliados foi Jair Bolsonaro. Se anos antes, aparecer ao lado de Bolsonaro era garantia de sucesso, hoje isso mudou. Dos seis candidatos a prefeito nas capitais apoiados pelo presidente, apenas dois conseguiram chegar ao segundo turno: Marcelo Crivella (Republicanos), no Rio de Janeiro; e Capitão Wagner (Pros), em Fortaleza. E tudo indica que o presidente deve sofrer nova derrota, já que no Rio Crivella aparece bem atrás de Eduardo Paes (DEM) nas pesquisas de intenção de voto. Ademais, aliados que tentaram usar o nome do presidente para obter votos – como a ex-funcionária fantasma Wal do Açaí e a ex-mulher do presidente, Rogéria Bolsonaro – não conseguiram se eleger. Já o filho do presidente, Carlos Bolsonaro, foi eleito com um número de votos inferior ao obtido em 2016 – 71 mil votos neste ano, contra 106 mil em 2016 – e perdeu o posto de vereador eleito com mais votos para Tarcísio Motta (Psol). Isso mostra que Bolsonaro perdeu relevância como cabo eleitoral, embora isso não seja suficiente para afirmar sua derrota nas urnas em 2022. 

Mas à parte a rejeição do eleitor à extrema-direita, o aspecto mais positivo destas eleições foi aumento da diversidade, tanto nas câmaras municipais quanto nas prefeituras. Nas eleições deste ano, as mulheres representaram 16% do total de vereadores eleitos no país – um aumento frente aos 13,5% registrados em 2016. Além disso, as mulheres também representam 12,2% do total de prefeitos eleitos em primeiro turno, um avanço frente aos 11,57% alcançados em 2016. Os percentuais ainda são baixos se for levado em conta que elas representam 52,5% do eleitorado brasileiro, mas mostra que as iniciativas de inclusão das mulheres na política vêm dando resultado. 

O mesmo ocorre em relação a candidaturas negras. No pleito deste ano, segundo dados preliminares do TSE, o percentual de negros eleitos para prefeituras subiu de 29%, em 2016, para 32% neste ano. Além disso, nas câmaras municipais, os negros aumentaram a presença de 42%, em 2016, para 44% neste ano. Assim, como no caso das mulheres, os percentuais ainda são tímidos, mas marcam uma mudança de paradigma no eleitorado brasileiro. 

As eleições deste ano também foram um marco no quesito diversidade sexual. Pela primeira vez, candidatas e candidatos trans puderam disputar usando seus respectivos nomes sociais. Além disso, foram eleitas 25 pessoas que se identificam como transexuais, um salto frente ao total de 8 eleitos em 2016. 

O derretimento da extrema-direita e o avanço da diversidade na esfera municipal fazem das eleições deste ano uma vitória progressista e refletem um eleitorado que se cansou das narrativas ultraconservadoras – que têm uma alta carga sensacionalista, mas alcançam pouco ou nenhum resultado em direção a um país mais justo e igualitário. As eleições deste ano também refletem uma conquista de movimentos feministas e da comunidade LGBT e fazem florescer a esperança de que, em 2022, o Brasil pode retornar à sobriedade política.