Clara Maria Lino, Repórter Rio de Janeiro
Dezembro vermelho marca prevenção e tratamento do HIV
Segundo o Ministério da Saúde, 135 mil brasileiros não sabem que são pessoas soropositivas
De acordo com o UNAIDS (programa conjunto a Organização das Nações Unidas sobre HIV/AIDS), a violência sexual ou física está ligada ao aumento de mulheres com HIV no planeta. Pessoas que sofrem violência física ou sexual tem 1,5 mais probabilidade de contrair o vírus do que mulheres que não passaram por este tipo de violação.
Cerca de 35% da população feminina em todo o mundo sofreu violência física/sexual em algum momento da vida. Só na África Subsaariana, o índice eleva em 0,5. Mulheres nessa faixa tem 2 vezes mais chances de contrair o vírus do que homens da mesma idade e quatro das cinco infecções entre jovens de 15 a 19 anos ocorrem com as meninas.
Dados do Ministério da Saúde indicados pelo UNAIDS abordam que o diagnóstico tardio é mais frequente em homens heterosexuais e usuários de drogas, e 60% dos novos casos de tuberculose estão associados à AIDS em pessoas que não haviam sido diagnosticadas até aquele momento.
De acordo com a Assessora de Apoio Comunitário do UNAIDS, Ariadne Ribeiro é possível engravidar sem transmitir o HIV para o bebê. O ideal é que o Pré-Natal seja acompanhado pelo médico infectologista, que vai ajudar a gestante a decidir que estratégia será mais eficaz naquele caso específico da gestante ou do casal, mas ainda sim é possível não transmitir o vírus ainda no trabalho de parto e até mesmo após a exposição do bebê.
” Isso pode incluir desde um simples planejamento familiar monitorando a adesão ao tratamento e a saúde da gestante ou do casal, até procedimentos combinados desde os primeiros meses de gestação até os primeiros meses de vida do bebê.”
O HIV é a sigla em inglês da imunodeficiência humana e é distribuído pelos fluídos corporais (sangue, secreções vaginais, líquido pré-ejaculatório, ejaculação). Ainda segundo o UNAIDS, o vírus afeta células relativas ao sistema imunológico. O Tratamento Antirretroviral (TARV) é utilizado para infecções por retrovírus, em especial o HIV.
Para Ariadne Ribeiro dos anos 1980 até hoje houveram muitos avanços no tratamento do HIV. A medicação Dolutegravir é a mais utilizada neste tratamento, foi adotada pelo Sistema Único de Saúde e é considerado o medicamento mais avançado em eficácia e em efeitos colaterais atingindo com mais facilidade a carga viral indetectável.
Sem o tratamento adequado com acompanhamento médico, o vírus destrói as células e o corpo fica sem condições de lutar contra doenças e infecções. Este fato leva o HIV à AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida). UNAIDS define o HIV como um vírus que causa a imunodeficiênci e a AIDS como a síndrome (doença) causada pela deficiência imunológica e consequentes co-infecções.
Em 2018, quase 38 milhões viviam com HIV no mundo e apenas 24 milhões tinham acesso ao TARV até a metade de 2019. O planeta registrou quase duas milhões de novas infecções e 770 mil mortes por doenças relacionadas a AIDS até o final do ano passado.
Silvia Aloia é formada em Administração em Sistemas de Serviços de Saúde pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Ativista no Movimento Nacional das Cidadãs Posithivas (MNCP) atualmente está na Secretaria Nacional do MNCP e representa o movimento no Grupo de Trabalho (GT) do Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV/Aids (GTUNAIDS). Também já participou da Comissão Assessora da Transmissão Vertical do HIV/AIDS, Hepatites Virais e Sífilis (CATV), Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2010 (GTSCA2030) e referente na suplência do Latonoameriano y del Caribe de Mujeres Positivas (MLCM+). Silvia é soropositiva. A uruguaia chegou ao Brasil em 1982 e recebeu o diagnóstico de HIV há quase 30 anos, em 1991 durante o 8° mês de gestação. Ao falar desta fase da vida, Silvia relata que após momentos de inércia resolveu reagir.
“Foram momentos muitos difíceis, visto que não existiam pesquisas e nem medicamentos na época. Devido a estes contextos passados, fiquei um grande período inerte e com muitos medos, ao longo do tempo, vendo que não morria, comecei aos poucos a reagir e, ao invés de aguardar a morte, fui viver! Tenho uma vida intensa, sou casada com uma pessoa soronegativa, sou mãe e avó. Gosto de curtir muito com a família e fazer umas comidinhas gostosas regadas a um bom vinho, namorar, estudar e ficar com amigos.”
Sobre as maiores dificuldades, Silvia diz que no Brasil além do preconceito o acesso aos serviços de saúde são precários. “O acesso aos serviços de saúde, principalmente aos especialistas e exames especificos de agravos correlacionados são a maior dificuldade que enfrento como soropositiva.”
Estudos indicam que o HIV surgiu no século XIX através de um tipo de chimpanzé na África Ocidental. Cientistas relatam que humanos entraram em contato com o vírus imunodeficiência símia (SIV) que sofreu mutação entre os humanos e foi adquirido através da caça e da alimentação (contato com o sangue) através da carne do animal.
A jornalista Clara Maria Lino do Coletivo Mulheres Jornalistas entrevistou a sexóloga Alyne Meirelles que tirou algumas das principais dúvidas sobre o assunto.
1. Existe uma proteção melhor do que a outra quando o assunto é camisinha feminina e masculina?
Não, as camisinhas feminina e masculina possuem índices de proteção que vão de 90% a 95% e são consideradas métodos mais eficazes.
2. É possível adquirir HIV pelo sexo oral?
Sim, é mais difícil porém é possível. O HIV é transmitido por meio de fluídos corporais. Caso faça sexo oral em uma pessoa com HIV e esteja com um machucado na boca, infecção na garganta ou qualquer ferida que esteja exposta nessa região, esse machucado pode ser uma via de transmissão. Por isso que é possível sim, mas pouco provável.
– De acordo com Centros de Controle de Doenças dos EUA, a tabela de propabilidade de infecção por práticas sexuais com risco de infecção por HIV no sexo oral é negligenciável.
3. A camisinha é a única forma de prevenção?
Hoje em dia nós estamos falando muito de prevenção combinada. Prevenção combinada é, por exemplo, para a gravidez usar-se o método contraceptivo da sua escolha através do ginecologista mais a camisinha. No caso do HIV existe a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) que são medicamentos antirretrovirais. O uso contínuo reduz o risco de infecção, mas não substitui a camisinha. Além da Profilaxia Pós-Exposição (PEP) quando existe contato ou dúvida sobre o contato com o vírus.
4. O beijo transmite HIV?
Caso obtenha contato com sangue/fluido corporal existe a possibilidade de transmissão. Hoje em dia o tratamento evoluiu muito, as medicações progrediram, a quantidade de remédios diminuiu assim como os efeitos colaterais. Com isso, é possível, fazer o tratamento correto durante alguns meses (depende da condição física e do estágio pelo qual descobriu o vírus) e atingir o nível de tratamento chamado vírus indetectável que equivale a intransmissível, ou seja, não existe a possibilidade de haver transmissão do vírus. Isso só ocorre quando o tratamento está em dia e é atestado pelo médico a impossibilidade de transmissão.
5. Quem tem HIV tem sempre que usar camisinha?
Conforme colocado anteriormente, se o HIV estiver indetectável o vírus se torna intransmissível.
6. Quem tem HIV não precisa usar camisinha se o parceiro também for uma pessoa com HIV?
É recomendado que o casal use camisinha, porque existem vários tipos de HIV e essa é inclusive uma das dificuldades para ser descoberto um tratamento que leve a cura definitiva. Caso o casal não esteja em dia com o tratamento a necessidade da camisinha é ainda maior. O vírus pode se tornar mais resistente e pode haver recontaminação com outro tipo de vírus. A única possibilidade para não usar camisinha neste caso se vale para quando ambos os indivíduos da relação estão com HIV indetectável.
7. Brinquedos sexuais também transmitem HIV?
O risco não é alto, pois fora do corpo o vírus morre, mas a possibilidade não é nula. A indicação é usar camisinha no brinquedo e sempre trocar, inclusive quando sair do sexo anal para o vaginal e oral. Sempre trocar a camisinha. Em cada relação é necessário usar pelo menos uma camisinha e nunca reaproveitar. A proteção é ofertada pelo poder público e por isso não existe motivo para não se proteger.
8. O HIV é mais recorrente em homossexuais?
MITO. Quando foi descoberto o HIV, grupos de homossexuais, homofílicos e pessoas que compartilham siringas eram consideradas grupos de risco. Hoje em dia não existe mais isso. Existem “comportamentos de risco”, ou seja, qualquer pessoa independente da orientação afetiva e sexual pode estar em contato com o vírus. Comportamento de risco é transar sem camisinha, ter vários parceiros sexuais, compartilhar siringas e principalmente não conhecer a condição sorológica, ou seja, a maioria das pessoas no Brasil nunca fizeram teste de HIV e as que fizeram não fazem com regularidade. Além desses comportamentos, pessoas que trabalham na área da saúde e tem contato com os fluídos corporais devem estar sempre em dia com a saúde pessoal.
Caso você tenha lido esta matéria e precisa de ajuda com relação ao tema, esteja em busca de mais conhecimento ou conheça alguém que precisa de ajuda, acesse o site da UNAIDS Brasil através do hiperlink: Deu positivo, e agora? ( https://unaids.org.br/deu-positivo-e-agora/ )