Por Ana Luiza Timm Soares 

Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista  

Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista 

Eu encontrei uma cápsula do tempo. Não querendo começar esse texto de forma sensacionalista, mas já o fazendo, essa é a verdade. Nem Marty McFly poderia prever isso. Foi vasculhando os pertences da minha sogra que me deparei com ela.

A dona Leonídia – a sogra em questão – foi empresária do comércio por muito tempo. Dessas que já foram donas e proprietárias de um armazém de secos e molhados, sabe? Pois bem, este estabelecimento deixou um rico acervo de produtos. Entre eles, uma infinidade de itens para costura: rolos de tecido, linhas, botões, zíperes (ou “fecheclers”), passamanarias…

Fiquei encantada com a qualidade dos mesmos. Daquelas coisas que a gente não encontra mais, sabe? Sim, é papo de velha. Mas também é uma verdade muito verdadeira. No meu tempo – ihhh, lá vem ela – as roupas eram feitas para durar. Passavam de irmão para irmã, para os primos, para os filhos… Enfim, a parentada toda. Dia desses tive o privilégio de ver minha sobrinha de quase dois anos usando uma jardineira que havia sido minha – e antes disso, do meu irmão (a ministra pira). Coisa linda.

Peguei-me pensando nessas maravilhosidades da História depois de tais acontecimentos. Hoje há muitas referências da minha infância retornando à moda, e é engraçado ver as crianças correndo por aí vestidas de mini-mim, todas trabalhadas naquele perfume PLOC.

Mas naquele tempo a gente não escolhia muito não. Não tenho filhos humanos, mas as amigues mães/pais sempre comentam o quanto a piazada de hoje tá ligada nos paranauês das muóda. Vão até junto na loja selecionar as peças que irão vestir. Como profissional do setor, acho bacana! Já comentei por aqui que a roupa faz parte da construção das nossas identidades, né? Então ponto para a gurizada!

Várias coisas mudaram de lá para cá. Embora a estética possa ser semelhante – já que a moda, assim como a história, gira em um eterno retorno, seja para o bem ou para o mal (alô de novo, dona ministra!) – a cápsula do tempo e as máquinas de lavar atuais comprovaram que a qualidade já não é lá a mesma coisa. Roupa não é mais item descrito em herança, e por vezes vira até pano para limpar a casa antes de pagar a 5ª prestação – ou com sorte, a 8ª.

Como profissional do setor, acho triste. As peças perderam o apelo afetivo que tinham. E com isso, sua importância. Sim, roupa é algo que precisamos usar pois não podemos – ainda – transformar as ruas em uma praia de nudismo. Mas ela não é apenas isso. É memória, história, manualidades, saberes transmitidos de geração em geração…

É para ser feita com o tal do propósito, sabe? Muito se tem falado sobre isso, mas pouco se praticado. Por isso já catei vários itens na casa da sogra, os quais foram honestamente roubados (brincadeira, ela me presenteou com gosto) e fui distribuindo para as amigas costureiras. A felicidade de quem recebe um zíper que não se quebra ao fechar é ALGO (risos). Alguns ficaram comigo, e planos grandiosos esperam por eles. J

Enquanto isso escrevo esse texto e reflito sobre essas mudanças. E você, já parou para pensar de onde vem a sua roupa? Qual a relação de afeto que tens com ela? Em quais ocasiões felizes (ou não) ela foi usada? Vamos pensar juntas sobre isso? Se tens uma história sobre esse assunto para contar, escreve aqui nos comentários!

Afinal, infelizmente ainda está um tanto longínqua a aglomeração naquela festeeeenha anos 80 vestida de Cindy Lauper, né? Vamos vivendo de histórias e memórias. Mas não veja isso como algo negativo. É a partir delas que podemos refletir e iniciar as mudanças que desejamos.

Beijos e até a próxima!