Covid-19: O que mudou para as mulheres jornalistas em Angola
Por Neusa e Silva- Angola/África
A Covid-19 obrigou a uma redefinição da metodologia de trabalho das redacções em todo mundo, e em Angola e demais países da África Austral não foi diferente.
No início da propagação da pandemia, os países africanos reagiram de forma muito diferente dos países do resto do mundo, fechando fronteiras e declarando Estado de emergência antes mesmo de se terem registado casos positivos de pessoas infectadas pelo novo coronavírus.
Tal como em outras geografias, os profissionais do ramo da saúde e da comunicação passaram a estar na linha de frente na luta contra a pandemia. Isto porque o acesso à informação, é até hoje um factor decisivo para a segurança das pessoas.
Em casa ficaram aqueles jornalistas classificados como integrantes do grupo de risco e em algumas redacções e escritórios passaram a trabalhar presencialmente apenas os homens.
De acordo com a nossa pesquisa, a maior parte dos profissionais que conseguiu adaptar-se ao teletrabalho chegou mesmo a desenvolver novas competências.
O colectivo de Mulheres Jornalistas conversou com a Jornalista Kinna Santos da TV Record África para perceber o impacto da covid-19 na sua rotina pessoal e profissional.
Kinna Santos por pertencer ao grupo de risco por apresentar um quadro de doença respiratória crónica teve a anuência da sua direcção para estar em regime home office ou seja em teletrabalho.
“Com esta mudança de local de trabalho, outras alterações se seguiram, como o reagendamento do meu tempo dividido entre as tarefas de casa e do trabalho, a atenção aos filhos, aos quais passei a ministrar aulas neste período de confinamento. Mas o trabalho e as minhas funções na emissora mereceram adaptações em alguns casos, e restrições em outros. Deixei de apresentar jornais e as reportagens passaram a contar com entrevistas via Whatsapp.” disse a jornalista aos microfones do MJ
Para Kinna Santos o confinamento provocado pela covid-19, proporcionou-lhe uma oportunidade de crescimento profissional, permitiu-lhe mesmo experimentar tarefas que não exercia até ao momento, como por exemplo fazer análises das principais manchetes nacionais a partir de casa.
Para Kinna Santos os primeiros dias de confinamento não foram fáceis, uma vez que foi obrigada a dispensar a sua assistente pessoal e a diarista, tendo que dar conta de todas as tarefas sozinha, que antes só fazia aos finais de semana.
“Tenho uma filha adolescente, ela passou a dividir as tarefas domésticas comigo e equilibrou um pouco mais a minha agenda diária. Neste período sou mãe, esposa, jornalista, professora, preparadora física, enfermeira, diarista e minha própria assistente.” refere.
Como 90% da força de trabalho da empresa onde Kinna Santos trabalha, é feminina não houve preferência de género na cobertura da covid-19
O mesmo aconteceu com a Jornalista Joice Neto do principal canal de tv privado Angolano a TV Zimbo. Ela faz parte do quadro de efectivos já há alguns anos como repórter e durante a pandemia foi promovida a pivô de um dos principais diários da covid-19
“No meu caso, a pandemia trouxe consigo uma oportunidade de crescimento profissional. A TV Zimbo criou dois diários informativos para actualizar os dados da covid-19, e com a ausência de profissionais considerados integrantes do grupo de risco, fui desafiada para ser uma das pivôs do programa televisivo o diário da Covid-19.” disse Joice Neto acrescentando que é nas crises que surgem as oportunidades.
Outra jornalista que preferiu não se identificar, confidenciou aos nossos microfones que ficou destacada para cobrir as conferências de imprensa do ministério da saúde presencialmente. Para esta profissional foi mais difícil adaptar-se pois teve que tomar medidas adicionais para segurança da própria família, e viu-se de repente com trabalho a triplicar.
“Nunca trabalhei tanto na minha vida como dessa vez. Foi um pouco difícil, mas consigo até hoje conciliar, no princípio foi pesado e muito difícil” referiu aos nossos microfones.
De acordo com o depoimento de jornalistas em Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Angola a capacidade de readaptar-se para continuar a prestar serviços em teletrabalho, com a mesma frequência não depende apenas da vontade pessoal.
Ao contrário de outros continentes, um factor determinante para o teletrabalho é o acesso a internet e a capacidade ou competências para tirar proveito das novas tecnologias conseguindo apresentar um resultado final de qualidade.
A presente crise permitiu expor de forma muito clara como a digitalização dos serviços, o investimento em infra-estruturas de telecomunicações e a formação dos profissionais são fatores decisivos para o desenvolvimento do continente africano.