Enquanto países da Europa pensam em afrouxar isolamento social, 25 estados brasileiros decretaram o uso obrigatório de máscaras e estudam o confinamento obrigatório 
 

Por Regina Fiore-São Paulo

 

A pandemia do coronavírus têm sido transmitida e acompanhada dia a dia, praticamente ao vivo, graças ao acesso rápido às informações e aos meios digitais como as redes sociais, sites de notícias e portais. 
 
Enquanto o pico da doença afetou muitos países, principalmente europeus, em meados de março, o Brasil tem sentido com mais força a chegada da pandemia desde de abril. Ao todo, já foram mais de 16 mil mortes e são quase 245 mil casos confirmados de brasileiros que estão com o vírus. 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aconselhou desde o início da pandemia a adoção do isolamento social para evitar o contágio e a disseminação da doença. O que isso significa? Cada família deve permanecer em sua casa e sair apenas para atender suas necessidades básicas, como comprar alimentos e remédios. 
 
A ideia é que o máximo possível de pessoas consigam ficar em casa durante um período para que a doença seja controlada, com exceção de profissionais da saúde e pessoas que trabalham com serviços essenciais. 
 
No entanto, no Brasil muitas empresas não dispensaram seus funcionários ou abriram a possibilidade do home office. Além disso, trabalhadores autônomos se viram em uma situação complicada, mesmo com a ajuda de R$ 1.800,00 divididos em três meses aprovada pelo governo.
 
Outra questão que ainda tem levado as pessoas a saírem de casa é a leviandade que o presidente da República tem tratado a pandemia, minimizando seus efeitos e a gravidade da doença. A partir de suas falas, o presidente Jair Bolsonaro tem incentivado muitas pessoas a descumprirem o isolamento social, seja indo trabalhar seja por lazer. 
 
Mas será que o discurso do presidente realmente afeta a seriedade que as pessoas enxergam a doença? Os diferentes cenários dos países que estão passando pela doença  mostram que sim.

¡Quédate en casa! X E daí?!

Quando as mortes causadas pelo coronavírus apresentaram crescimento exponencial nos primeiros países que foram afetados pela pandemia, muitos líderes já tomaram providências para que a doença não afetasse os países que foram tardiamente infectados da mesma forma que os epicentros foram afetados. 
 
Os dois epicentros da doença até o momento, com exceção da China, foram a Itália e os Estados UNidos, países onde seus governantes em algum momento tentaram minimizar o tamanho da crise por meio de seus discursos. Rapidamente, perceberam que na verdade esta pode ser a pior epidemia de todo o século e voltaram a trás nesta questão. 
 
Alguns estudos americanos já mostram que o Brasil pode se tornar o epicentro da doença em poucos dias, já que estamos atingindo a faixa de quase mil mortos em 24h. O discurso do presidente? Passou por frases como “é só uma gripezinha” até “E daí?! Sou Messias mas não faço milagre” quando confrontado pelo número alarmante de mortes. 
 
Sendo justos, a realidade dos EUA e da Europa é muito diferente da realidade brasileira, por isso, vamos nos comparar com um vizinho nosso, a Argentina. O presidente da Argentina, Alberto Fernández, assumiu o cargo este ano e antecipou diversas medidas, como o confinamento, para evitar que o número de mortes fosse muito grande. 
 
O resultado é claro: a Argentina tem menos de 8 mortes por milhão de habitantes, enquanto o Brasil tem mais de 70 mortes por milhão de habitantes. Diante disso, nosso país vizinho já está estudando a retomada das atividades com segurança, enquanto os estados brasileiros analisam dia a dia a possibilidade do confinamento, conhecido também como lockdown
 
Alguns países como Alemanha, Líbano, Irã, Coreia do Sul e até a própria China afrouxaram as regras de confinamento em meados de março e voltaram atrás logo depois, restabelecendo regras mais rígidas. Hoje, alguns deles já estão voltando aos poucos à normalidade. 
 
A OMS, no entanto, declarou que a curva de contágio do novo coronavírus acelera muito rápido e desacelera devagar, por isso a volta à normalidade deve ser feita de forma lenta e gradual e estabeleu seis critérios básicos para que isso ocorra: transmissão do vírus controlada, sistema de saúde do país com capacidade para atender e testar novos casos sem estar sobrecarregado, acesso restrito a determinados lugares, cumprimento das recomendações de proteção/ higiene e engajamento da comunidade. 
 
O Brasil, por enquanto, não está apto em nenhum dos seis critérios básicos. Por isso, apesar das declarações contraditórias do presidente da República, 25 estados brasileiros declararam obrigatório o uso de máscaras em locais públicos como: transporte público, supermercados, hospitais e outros lugares onde o distanciamento social não pode ser aplicado. 
 
Há medidas de segurança em vigor em quase 60 cidades, como a restrição de deslocamento, permitido apenas para trabalhadores de serviços especiais, o fechamento de comércios, cinemas, shoppings, entre outros serviços e a recomendação de que as pessoas que podem trabalhar de casa o façam durante o período. 
 
Em São Paulo, o rodízio especial que foi decretado já foi suspenso porque se mostrou ineficiente do ponto de vista de evitar aglomerações. No entanto, uma parte da população no estado mais afetado pela doença afrouxou a quarentena. Nos últimos levantamentos, o isolamento social não alcançou nem perto dos 70% projetados como ideal pelas autoridades de saúde pública para que seja eficiente no combate à transmissão da doença.
 
Além disso, os países europeus, asiáticos e os EUA estão trabalhando com seus pesquisadores e cientistas junto à OMS para o desenvolvimento de uma vacina, investindo recursos financeiros, humanos e científicos neste propósito. Por decisão do governo federal, não é o caso do Brasil, o que indica que, quando a vacina for desenvolvida, devidamente testada e liberada para a população mundial, o Brasil deve estar entre um dos últimos países a receber o antiviral.