Por Karol Antunes, jornalista

Médica especialista no tema fala sobre o estigma e cenário brasileiro neste Dia Mundial de Cuidados Paliativos

No último dia 14 de outubro, comemorou-se o Dia Mundial de Cuidados Paliativos, uma data para lembrar e apoiar essa abordagem de cuidados criada para melhorar a qualidade de vida de pacientes e familiares. “É errado pensar que esse tipo de cuidado começa apenas na fase terminal. Esse tratamento busca oferecer atendimento integral aos pacientes e familiares desde o diagnóstico e passa por todas as fases da doença, além de cuidar integralmente do sofrimento que o diagnóstico, o tratamento e o desenvolvimento de uma doença trazem”, explica a médica paliativista e intensivista, Carol Sarmento.

Segundo a pesquisa do Atlas de Cuidados Paliativos publicada pela Academia Nacional de Cuidados Paliativos, feita em 2019 no Brasil, foram identificados 191 serviços cadastrados. A maioria teve seus início de 2010 em diante, mostrando a crescente disseminação e relevância dos cuidados paliativos na realidade nacional. Nessa publicação da ANCP, identificou-se que 50% dos serviços eram públicos, 36% pertenciam à iniciativa privada e 14% eram mistos. Ou seja, apenas um serviço oferecido para cada 1,33 milhão de usuários do SUS, e aproximadamente um para cada 496 mil usuários do sistema de saúde suplementar.

Esses dados explicam muito sobre a cultura e o estigma que a sociedade brasileira tem em relação às pessoas que estão em cuidados paliativos. “Apesar disso, a palavra paliativo deriva do latim pallium, que significa proteger. Proteger alguém é uma forma de cuidado, tendo como objetivo amenizar a dor e o sofrimento, sejam eles de origem física, psicológica, social ou espiritual. Por esse motivo, quando ouvir que você ou alguém que conhece é elegível a cuidados paliativos, não há o que temer. Eu garanto, você estará protegido, acolhido e cuidado”, explica a médica Carol Sarmento.

Desestigmatizar, apoiar e incentivar os cuidados paliativos

Quanto mais cedo se começa o acompanhamento com cuidados paliativos, melhor é para o paciente que ganha em sobrevida, além de menor incidência de depressão e ansiedade, menos internações e idas ao hospital e maior aderência ao tratamento. A abordagem para o tratamento consiste no controle de sintomas, alívio de sofrimentos e práticas de bem-estar. A angústia de receber o diagnóstico de uma doença ameaçadora à vida é grande, e o diagnóstico costuma vir acompanhado de questões profundas de ordem social, psicológica e espiritual. Traz à tona questões como o medo da morte, a apreensão em deixar a família desamparada, conflitos do passado e até a queda de renda, entre outras.

Todas essas indagações não podem ser tratadas e abordadas por um único profissional. Por isso, as equipes de cuidados paliativos são multidisciplinares. O médico paliativista atua para melhorar o conforto físico do paciente – amenizar a dor, diminuir o mal-estar causado pela doença ou pelo seu tratamento, controlar fadiga, dispneia, hiporexia, constipação, dor neuropática, boca seca, distúrbios do sono, depressão e ansiedade – e toda a equipe trabalha para que esses incômodos e todos os outros sejam atenuados para melhoria da qualidade de vida de quem está enfermo e de sua família e amigos.

“A visão dos paliativistas é a de que uma doença grave atinge não só o paciente, mas também aqueles que o amam. Por esse motivo, o nosso papel é cuidar de todos. Daí a importância de ter uma equipe que inclua enfermeiros, psicólogos, nutricionistas e demais parceiros como odontólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, capelães, entre outros profissionais, para dar conta de uma extensa demanda de necessidades”, finaliza a médica.