Por Sara Café, jornalista
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A festividade carnavalesca de 2024 deve fazer o turismo do país aumentar em 10% a mais que a média de faturamento mensal do setor. Com a melhora, pequenos negócios se fortalecem e impulsionam a geração de renda

Segundo estimativa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o Carnaval de 2024 deve injetar R$ 9 bilhões na economia do Brasil. O valor é 10% acima dos R$ 8,2 bilhões registrados no ano passado. É a primeira vez que o faturamento com a folia deve superar o patamar anterior à pandemia de covid-19.

A tendência de crescimento deve se manter durante 2024, aponta Felipe Tavares, economista-chefe da CNC. “A profissionalização da atividade do turismo nos últimos anos, além da maior demanda por esses serviços, justifica o surgimento de destinos menos tradicionais como protagonistas para os turistas que buscam aproveitar esse período não somente para as grandes festas de carnaval”.

Conforme as projeções da CNC para 2024, São Paulo deve ser o estado de maior faturamento no Carnaval, com uma receita de R$ 16,3 bilhões. No Rio de Janeiro, a expectativa para o lucro é de R$ 5,3 bilhões, seguido por Minas Gerais, com R$ 5,2 bilhões. Já nas menores projeções de faturamento, o Distrito Federal aparece com R$ 1,2 bilhões e o Ceará com R$ 9 milhões. Em último lugar, o Espírito Santo projeta um ganho de R$ 6 milhões.

Os estrangeiros que virão ao Brasil durante o mês do Carnaval devem gastar US$ 971 milhões em fevereiro. O valor equivale a R$ 4,8 bilhões na cotação atual. É 19,3% maior que a cifra desembolsada no ano anterior.  A projeção para 2024 supera os US$ 694 milhões de 2020, último ano antes da pandemia a comemorar o feriado nas ruas.

Felipe Tavares também aponta que a previsão é de que as despesas dos turistas brasileiros no exterior cresçam 19%, alcançando U$ 1,3 bilhão (R$ 6,43 bilhões). Já os turistas estrangeiros no Brasil devem gastar 19,4% a mais, o que representará cerca de US$ 971 bilhões (R$ 4,8 trilhões).

O gasto médio previsto é de R$ 320 por folião, com a alimentação representando 72% dos gastos, seguida por fantasias e adereços, com 15%. Esses dados ressaltam a importância dos pequenos negócios no fornecimento de produtos e serviços que sustentam a atmosfera festiva do Carnaval.

Fortalecimento do comércio local

Além do impulsionamento do turismo, a expectativa da CNC é que o Carnaval de 2024 deixe um saldo positivo na criação de empregos temporários no setor de serviços e aumento do faturamento do comércio local. 

A perspectiva de crescimento da efetivação é de mais de 137% em relação a 2023, com 2.057 funcionários temporários sendo efetivados em 2024, contra uma variação negativa de 1.507 em 2023, segundo a CNC com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Devem ser gerados 70.697 mil postos de trabalho no mês do Carnaval deste ano, considerando todas as atividades.

Delícias da Márcia, barraca de venda de pratinhos | Imagem: Divulgação

Além da folia nos dez polos de Carnaval espalhados por Fortaleza, o que mais se vê nesses locais é o comércio de ambulantes. Para muitos, a festa transforma um simples dia de trabalho em um momento crucial para melhorar os negócios. No Parque Rachel de Queiroz, no bairro Presidente Kennedy, 387 permissionários atuam nesse período, sendo 312 ambulantes (entre fixos e volantes) e outros 75 trailers. 

Um deles é o Delícias da Márcia, barraca de venda de pratinhos, que está no parque desde a sua inauguração. “A gente oferece mais pratos, traz mais opções com maior quantidade para os clientes, aqui no parque e na Praia de Iracema, onde o movimento também é muito grande. Nesse período, as nossas vendas aumentam em torno de 30%”, contou Regina Araújo, que trabalha na barraca. 

Edinete Bezerra, costureira que atua há 29 anos, é um exemplo desse empenho e já organizou seu estoque e a agenda para atender às demandas dos clientes. “Trabalho com projetos e com calendário de datas e eventos para conseguir atender às demandas. Já tenho clientes fechados que pediram a personalização de abadás. Neste período, faço estoque de tecidos brilhosos, com lantejoulas, fitas coloridas e vários outros adereços.”

Marcas cearenses e a economia circular 

Maurício Júnior, proprietário da loja ColaBora | Imagem: Divulgação

O mercado carnavalesco representa uma oportunidade significativa para os pequenos negócios. Impulsionando a economia criativa que engloba 56 setores no empreendedorismo, como moda, audiovisual, música, artesanato, artes cênicas e visuais, desempenha um papel crucial na promoção da inovação e da diversidade cultural durante o Carnaval. 

Para atender a uma demanda dos clientes que querem se fantasiar de maneira divertida e criativa para o carnaval, Maurício Júnior, proprietário da loja colaborativa cearense Colabora, começou a desenvolver acessórios para o período carnavalesco e aproveita a data para ampliar suas vendas. 

“Os clientes vinham até a loja procurar acessórios para usar no Carnaval, mas algumas marcas não tinham interesse em fazer e aí, para atender à esta necessidade, comecei a fazer algumas peças. A gente vai vendo a cada ano o que os clientes procuram para irmos inovando e crescendo mais com estes produtos de Carnaval”, disse em entrevista à Agência Sebrae/CE. 

O que começou de forma tímida evoluiu para a criação de uma marca específica para o Carnaval, a “Cola na Folia”, marca interna da ColaBora para o período e para a criação de novos produtos. “A gente começou só com acessórios de cabeça, com arcos feitos de EVA, mas hoje a gente já faz uma variedade maior de produtos, como fantasias, ombreiras, quimonos e saias, tudo isso utilizando penas, flores e muito brilho”.

Cattleya Guedes, gestora estadual de Economia Criativa do Sebrae/CE, a experiência de Maurício Júnior é um bom exemplo de como os empreendedores podem aproveitar este período para aumentar suas vendas e também fortalecer o relacionamento com os clientes. “Os empreendedores, principalmente os ligados à Economia Criativa, precisam estar antenados e preparados para aproveitar as oportunidades geradas neste período”.

Fredericas Moda Atemporal | Imagem: Divulgação

Outro exemplo é a Fredericas, loja de moda autoral que tem colocado a questão socioambiental, o feminismo e a liberdade de corpos na premissa de seu negócio. Liderado por Mariana Figueiredo e sua sócia, a designer de moda Lorena Lima. Ao todo, o time da “Frê” é formado por 12 mulheres, entre diretoras, costureiras, estilista, social media e vendedoras. Além da loja, a Casa Fredericas também recebe outras marcas criadas por mulheres e mães. 

“A gente traz muita informação sobre feminismo, liberdade de corpos, liberdade de atitudes, comentários sobre o cenário político que fazem sentido para o nosso negócio. E agora, no Carnaval, trazemos diversos looks que podemos experimentar e não ter medo dos julgamentos, nem de si mesma e nem do outro”, explica Mari Figueiredo, idealizadora da marca para O Povo. 

Já as marcas AmericaNews Beauty e a Ferrovia Ótica desenvolvem a nova campanha de Carnaval em formato collab, uma tendência que se tornou uma estratégia de fortalecimento da consciência de marca. 

“As collabs se apresentam como uma tendência abrangente no mercado, representando uma chance de desenvolver oportunidades em parceria e consequentemente alcançar resultados mais significativos”, afirma a gerente executiva de Marketing da AmericaNews Beauty, Germana Mara.

“Sempre ousamos em nossas campanhas para proporcionar a melhor experiência possível aos nossos clientes. E essa parceria irá além das lojas. Também estaremos presentes em ativações em bloquinhos de Carnaval de Fortaleza, com distribuição de brindes e ações de encantamento”, ressalta Almir Moreira, gerente de marketing da Ferrovia Ótica.

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