Tempos de crise. Você está se sentindo para baixo, sem saber o que fazer em determinadas situações e resolve buscar apoio. No entanto, não tem dinheiro suficiente para isso e lembra que na livraria mais perto, na internet e nas redes sociais é possível achar recursos que, com certeza, vão te ajudar. Será? Até que ponto é válido buscar autoajuda e até onde isso realmente pode melhorar seu estado de espírito?
 
A doutora em psicologia Alana Andrade explica que as pessoas buscam a autoajuda para melhorar os mais diferentes aspectos de suas vidas sem ter de procurar por auxílio profissional e pagar caro por ele. Essa alternativa é bastante visada, já que muitos querem instruções curtas, fáceis, breves, com resultados imediatos e por um preço mais acessível.
 
“Especialmente em momentos de crise como agora, a literatura de autoajuda cresce amplamente. As pessoas estão com recursos escassos para investir em tratamentos caros ou em cursos de formação e partem para a autoajuda, aguardando o retorno rápido de um investimento mínimo”, destaca.
 
A profissional ressalta a falta de cientificidade de grande parte dos produtos vindos dessa área. Ela acrescenta que o público acaba sendo “massificado” e as dicas não servem para todas as pessoas. “Cada indivíduo é de um jeito, com personalidades e recursos socioeconômicos diferentes. A estrutura social e econômica também tem papel no suposto fracasso da pessoa”, explica.
 
A jornalista Nathalia Cerri se interessou por esse campo na adolescência quando começou a entrar no mundo adulto e não sabia como agir perante determinadas situações. Buscar filmes e textos que a ajudassem a passar por esses momentos passou a ser corriqueiro.
 
“Algumas coisas que leio me incentivam a ter um dia melhor ou exercitar a gratidão. São coisas que a gente sabe, mas esquece, e quando lê esse conteúdo dá uma renovada e se sente melhor, pelo menos momentaneamente. Sempre busco coisas que me fazem refletir e que podem servir para mudar algo na minha vida”, comenta.
 
Sem citar um livro ou texto específico que a ajudou, Nathalia afirma que buscar por coisas que a tornassem mais positiva diante das diversas situações cotidianas fez com que ela levasse tudo de uma forma melhor.
 
A coordenadora de comunicação Carolina Hamdan conta que busca os meios de autoajuda devido à insatisfação com alguns aspectos de sua vida e à pressão recorrente do dia a dia.
 
“A sociedade, ao longo do tempo, colocou uma ideia na minha cabeça de que eu preciso ter o corpo perfeito e padrão, preciso me casar, ter filhos, ser rica e ter um ótimo emprego. Com as frustrações da realidade, descobrimos que essa vida de contos de fada não é obrigatória de se seguir e não acontece com todo mundo. Eu precisava saber como lidar com isso”, relata.
 
Carolina começou a se interessar por esse campo quando alguns problemas internos com relação a seu corpo começaram a surgir. Uma pessoa próxima lhe presenteou com um livro que aborda exatamente essas questões.
 
“Eu me conectei tanto com a história e enquanto lia, eram momentos de conforto e de felicidade. Comecei a ficar viciada, pois queria sentir isso outras vezes, então fui correndo para a livraria comprar vários outros livros parecidos. Depois comecei a encontrar outros canais de autoajuda na internet também”.
 
Ela acrescenta: “Acabou que virou um ciclo vicioso e algo que seria para o meu bem está me fazendo mal ultimamente – pois não tenho tempo nem dinheiro para adquirir tantos conhecimentos e muito menos colocá-los em prática.”
 
Ela gosta de recorrer a diversos recursos como livros, podcasts, cursos online e presenciais, canais do Youtube, entre outros. Apesar disso, conta que prefere textos de psicologia por ter um base mais consolidada de informações.
 
Alana esclarece que o ser humano busca alívio ao sofrimento mental, porque ele pode impedir a adaptação social, laboral, acadêmica e o desenvolvimento pessoal como um todo. Para a doutora em psicologia, a autoajuda pode contribuir para atenuar problemas menos graves, trazendo um ânimo motivacional mínimo para o dia a dia de algumas pessoas.
 
No entanto, essa pode não ser uma boa opção para quem busca auxílio especializado ou tem problemas mais sérios. “Se a pessoa ainda se sente mal ou piora após a autoajuda é o momento de parar e buscar apoio profissional”, argumenta.
 
De acordo com Alana, o campo da autoajuda precisa ser claro no que diz respeito às suas fontes e transparente na relação com o consumidor. “A ciência não é salvação para tudo, por isso temos religião e outras práticas alternativas, mas a pseudociência muitas vezes contida na autoajuda pode fazer mal para as pessoas que a utilizam”, conclui.