Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista

Abandono de animais cresceu cerca de 70% durante a pandemia, enquanto adoção teve alta de 4%

O cenário financeiro caótico, adicionado à ansiedade e ao descontrole emocional das pessoas, efeitos desta pandemia, geraram uma triste combinação de adoções por impulso e, consequentemente, abandonos irresponsáveis.

Falamos sobre a dificuldade em exercer a função de protetora e os danos emocionais que uma adoção mal feita, ou mesmo um abandono, podem causar aos animais na reportagem Adoções que Retornam.

Não é novidade dizer que as ONGs encontram-se lotadas. A maioria precisa manter seu endereço em segredo, pois o índice de abandono direto na porta é altíssimo. As redes sociais estão sempre repletas de postagens com pedidos e mais pedidos de ajuda.

Vale lembrar que o abando e maus tratos de animais é crime (Lei 9605/98, artigo 32) e atribui detenção de cinco anos quando praticado em cães ou gatos e de três meses a um ano para outros animais.

Panorama Financeiro dos Brasileiros

A cada 10 pessoas, 4 apresentam descontrole financeiro. Esse foi o resultado de uma pesquisa realizada em fevereiro deste ano pelo SERASA, em parceria com a empresa Opinion Box. A pesquisa também apontou que menos brasileiros conseguem pagar suas contas em dia.

Já a empresa TransUnion fez um levantamento em março de 2021, quando no Brasil completamos oficialmente um ano de pandemia da covid-19, e revelou que 91% dos entrevistados estão com uma renda familiar menor e demonstram grande preocupação com a sua capacidade de pagamento integral das contas e de empréstimos.

Alguns Canais de Denúncia

  • Nível Nacional- A cartilha de Defesa dos Animais, do Ministério Público, explica como fazer a denúncia de maus-tratosaos animais diretamente ao órgão. Pelo telefone 0800 61 8080 (gratuitamente) ou pelo e-mail para sede@ibama.gov.br.
  • São Paulo – O serviço de Disque Denúncia Animal, 0800-600-6428, funciona nos 39 municípios da Grande São Paulo. E também existe a Subsecretaria Estadual de Defesa dos Animaispara atendimento às denúncias.
  • Rio de Janeiro- Para denunciar, ligue para a Central de Atendimento ao Cidadão: 1746 opção 2 e depois 9 ou também pela internet em:  http://www.1746.rio.gov.br/servicos.php.
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Equipe AMPARA Animal em comemoração aos 11 anos do projeto. Foto: Divulgação/Ampara Animal

Para entendermos melhor sobre esse processo dos abandonos durante o período da pandemia, conhecemos a AMPARA Animal (Associação de Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados), que atua desde 2010, quando as fundadoras Juliana Camargo e Marcele Becker se uniram para criar um projeto que pudesse mudar a realidade dos animais em situações de abandono no Brasil. Em 2013, o projeto recebeu do Ministério da Justiça a certificação de OSCIP (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público).

Entrevistamos a Dra. Rosângela Gebara, médica veterinária e gerente de projetos da AMPARA Animal.

Mulheres Jornalistas (MJ): Como funciona a AMPARA Animal?

Dra. Rosângela: O projeto, por meio de sua visão sistêmica e estratégica, levou a profissionalização para a proteção animal e abriu caminhos para que a causa ganhasse respeito e notoriedade.

Em 2016, ampliou sua atuação para o segmento de animais silvestres, destacando-se como uma aceleradora de projetos de conservação e promovendo bem-estar. Atuamos de forma preventiva para transformar a realidade em que se encontram animais rejeitados e abandonados no nosso país para que sejam tratados com dignidade e respeito.

MJ: Quantas ONGs e protetores são beneficiados pela Instituição atualmente?

Dra. Rosângela: São 540 ONGs e protetores independentes em todo Brasil.

MJ: Existe algum levantamento sobre a média de adoções que foram realizadas durante o período da pandemia?

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Fundadoras da AMPARA Animal. Foto: Divulgação/Ampara Animal

Dra. Rosângela: A média de adoção durante a pandemia acabou sendo muito inferior a expectativa.De acordo com a nossa pesquisa, houve um aumento de 4% apenas. Algumas ONGs relataram aumento de até 100 ou 200%, principalmente no início da pandemia. Em contrapartida, outras nos relataram que diminuíram muito as chances de adoção por causa das restrições dos eventos de adoção. As ONGs que tinham o hábito de fazer eventos externos passaram por essa interrupção, que reduziu significativamente as chances do animal ser adotado. Já as ONGs que focavam nas divulgações digitais em redes sociais e sites conseguiram manter e aumentar essa demanda, no mesmo período. Portanto, fazendo uma média final, chegamos a esse número.

MJ: E como ficou a média de abandono nesse mesmo período?

Dra. Rosângela: Em uma pesquisa interna realizada com mais de 540 ONGs e protetores independentes cadastrados na AMPARA, em vários estados, chegamos à média de 61% no aumento no índice de abandono e recolhimento de animais de julho até fevereiro. Em algumas ONGs, houve aumento de busca de adoção, mas também houve aumento de devoluções.

Quase todos declararam que houve aumento, mas houve mudanças dependendo do estado e cidade.Alguns protetores declararam crescimento de 300%, de 150%, outros de 30%, portanto a média foi em torno de 70%.

Essa triste realidade se soma ao fato de que as adoções caíram, não é possível mais fazer eventos de adoção, e as doações às ONGs também caíram vertiginosamente.

A crise econômica e social exacerbou um problema antigo que é a falta de responsabilidade das pessoas com os animais. Então quando a pessoa está passando por um momento difícil, a primeira coisa que ela faz é abandonar o mais vulnerável, o menos importante.

MJ: O que fazer quando encontramos um animal perdido na rua?

Dra. Rosângela: É muito importante dar o primeiro auxílio, ainda mais se o animal estiver em algum ambiente de perigo como uma estrada, uma praça ou próximo a uma avenida. Muitas vezes, nós não podemos ficar com o animal para sempre, mas podemos levá-lo para um primeiro atendimento em uma clínica veterinária, podemos também fazer um lar temporário, pedir ajuda para amigos e familiares para alternar essa estada até a adoção por um período e sempre fazer a castração do animal antes de qualquer adoção. Animais doentes, idosos e filhotes são prioridade, pois apresentam maior dificuldade. O animal abandonado fica muito desorientado, nervoso, muitas vezes são atropelados e envenenados. A rua não é um lugar seguro para nenhum animalzinho. Se você puder priorizar a adoção, será sempre a melhor escolha ao invés da compra por impulso.

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Ambiente AMPARA Animal. Foto: Divulgação/Ampara Animal

MJ: Qual o principal motivo pelo qual as pessoas devolvem um animal?

Dra. Rosângela: A maior causa de devolução é a adoção por impulso. As pessoas querem um animal que não solte pelo, não lata, infelizmente não se preocupam em entender a necessidade do animal. O procuram para servir como um mero brinquedo e é bem comum ocorrer de levarem o animal sem comunicar a todos da casa. A adoção é um momento que precisa ser muito bem pensado, pois é necessário levar em consideração que a expectativa de vida do animal é de 15 anos, portanto, a pessoa terá essa responsabilidade por todo esse tempo. Ela precisa ter um plano B para quando for viajar, caso precise se mudar de residência, mudar de bairro, de estado, de país. Depois que pegam o animalzinho, acabam percebendo que não é tão simples assim os cuidados do dia a dia. Por exemplo, muitas pessoas adotam os filhotes para servir como brinquedo para as crianças. Nós não aconselhamos, pois esse animal vai crescer e será necessário avaliar os custos com alimentação, veterinário, e a disponibilidade para passeios e brincadeiras. Enfim, tudo isso precisa ser pensado previamente.

MJ: Como podemos denunciar maus tratos (onde ligar ou abrir ocorrência)?

Dra. Rosângela: Qualquer pessoa pode denunciar um ato de maus tratos. Maus tratos é você infringir sofrimento não somente físico, mas psicológico ao animal. O próprio abandono é considerado maus tratos. Existem as delegacias do meio ambiente, que são especializadas para receber esse tipo de denúncia, mas pode ser realizada em qualquer outra delegacia ou no IBAMA, se for o caso de animais silvestres. Para efetuar a denúncia, é necessário ter alguma prova, uma foto, um filme ou uma testemunha. Todo cidadão não só pode, como tem o dever de denunciar. Os veterinários também têm a resolução 1236/18, de acordo com o Conselho Federal de Medicina Veterinária, que ao atender um animal com características de maus tratos, são obrigados a denunciar.