Por Ana Luiza Timm Soares
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista 
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista

Não é de hoje que as vestes exercem uma função importante no controle sobre corpos, principalmente o feminino. Diferentes ondas do feminismo compreenderam a função política do vestuário e se apropriaram destes discursos, denunciando a opressão e pregando a liberdade de movimentos a partir da consciência de que as roupas que nos cobrem dialogam não apenas com preferências estéticas particulares, mas com o “espírito do tempo” em que foram idealizadas.

Embora haja discordância entre os historiadores sobre a derradeira aposentadoria do uso dos espartilhos em fins do século XIX e princípios do XX, é sintomático que o movimento feminista e os reformistas do vestuário contribuíram com o debate de forma indelével, argumentando que a peça seria responsável por inúmeros problemas de saúde da mulher, tais como deslocamento do útero, doenças respiratórias e abortos espontâneos, só para citar algumas das reverberações da utilização frequente da peça.

Já com o fim da Segunda Guerra, as mulheres foram “convidadas” a retornar ao lar, restabelecendo a paz na medida em que cuidavam de seus maridos e filhos, garantindo, assim, o repovoamento. O new look proposto por Christian Dior corroborava esses anseios com peças que marcavam a chamada “cintura de vespa”, evidenciando formas e restringindo movimentos, lembrando que a condição e o papel da mulher na sociedade eram diametralmente opostos ao do homem.

Posteriormente, o simbólico episódio da “queima de sutiãs” – os quais não foram efetivamente incinerados neste primeiro momento, mas acabaram por se tornar um marco na luta feminista – de fins dos anos 60, também foi uma resposta aos signos de feminilidade impostos no período.

Queima de sutiãs
O Women’s Liberation Movement protestou contra a exploração comercial do corpo feminino durante o Miss America, em 1968. Sutiãs, sapatos de salto e batom foram para o lixo. Foto: Terceiro/Divulgação

Apesar desta introdução ter sido um tanto longa, é sobre eles – os sutiãs – que gostaria de falar mais especificamente hoje. Com o advento da pandemia do coronavírus, a peça novamente parece ter caído em desuso, principalmente por quem tem o privilégio do home office. Afinal, quem aí nunca chegou em casa depois de um longo dia de trabalho e a primeira coisa a fazer foi tirar o dito-cujo para respirar aliviada?

Particularmente sou uma dessas entusiastas, já que o uso da peça tem sido bastante reduzido por aqui. Quando “preciso” – infelizmente ainda não me sinto totalmente confortável em sair de casa sem sutiã – percebo que fico com dor nas costas e um pouco de falta de ar. Pois é, o aparentemente inocente bra me traz sintomas semelhantes, dadas as devidas proporções, é claro, com o que as mulheres de fins XIX relatavam em relação ao espartilho.

Obviamente, não faltam especialistas para contrariar tal decisão: muitos afirmam que o retardamento da flacidez dos seios está diretamente ligado ao uso desta peça de roupa. Já outros dizem que não: tratando-se de um processo natural, faz parte do processo de envelhecimento do corpo, e a utilização do item teria um papel ínfimo neste aspecto. Há, ainda, estudos que apontam o resultado de que quanto mais jovens as mulheres iniciarem o uso do sutiã, mais cedo seus seios ficam flácidos. MAMILOS POLÊMICOS! 😛

O fato é que somos donas de nossos próprios corpos e, desde que não haja nenhuma recomendação médica específica, qual o problema em sair por aí livre, leve e solta? FREE THE NIPPLE! E vocês, também estão pensando em abolir de vez o sutiã de suas vidas? Conta pra gente!

Beijos e até a próxima.