A evolução do adestramento
Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
giselle.cunha@mulheresjornalistas.com
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
A importância dessa metodologia e como ela se desenvolveu nos últimos anos
No período de 127–116 aC, foram encontradas escritas sobre como criar e treinar filhotes para pastorear gados. O autor dessas escritas foi um fazendeiro romano chamado Marcus Varru. Mas, somente na metade do século XX que o Brasil iniciou formalmente essa atividade com a chegada de estrangeiros fugidos da Segunda Guerra Mundial.
Culturalmente, o adestramento é lembrado apenas como uma alternativa eficaz para animais que apresentam um comportamento inadequado, porém essa técnica possui um objetivo muito maior. Seu verdadeiro propósito é sociabilizar os animais com nós humanos. Ações simples como tomar medicamentos, cortar as unhas e frequentar lugares públicos se tornam estressante e cansativo quando o animal não apresenta a atitude apropriada.
Existem vários métodos de adestramento. É importante conversar com o profissional e avaliar quais as expectativas e também o tempo que será disponibilizado para os treinos.
- Reforço positivo– Aumenta o comportamento adicionando algo que o cão considera agradável. Exemplo: Dar elogios ou um petisco como recompensa para o cachorro que “sentar” quando solicitado;
- Punição positiva– Diminui o comportamento adicionando algo que o cão considera desagradável. Exemplo: Quando seu cachorro pula em você, você deve se afastar e o ignorar;
- Reforço negativo– Aumenta o comportamento tirando algo que é desagradável. Exemplo: Puxando a guia do seu cão até ele se sentar. Quando ele se senta, você afrouxa a guia. Então, uma coisa desagradável é removida quando o comportamento é realizado;
- Punição Negativa– Diminui o comportamento tirando algo que é desejável. Exemplo: Você quer brincar de jogar bola, mas seu cão repetidamente salta e tenta pegar o brinquedo. Você pode segurar o brinquedo de tal maneira que ele saiba que não conseguirá até que ele pare e relaxe. Ele vai aprender que você só vai jogar quando ele estiver calmo e pacientemente esperando, reduzindo, assim, os saltos e a excitação.
(Fonte site: www.cachorrosincriveis.com.br)
Conheça as classificações do adestramento que também variam de acordo com o objetivo e a necessidade do peludo.
- Adestramento básico – Utilizado para comandos básicos como o animal aprender a ficar, sentar e deitar;
- Adestramento avançado – Para animais que participam de circuitos como o agility;
- Adestramento comportamental – Atua na socialização, facilitando o convívio e corrigindo hábitos inadequados;
- Adestramento para cão guia – O animal auxilia deficientes visuais em tarefas do dia a dia. Outros cães de serviço também foram citados na reportagem Cães de Serviço para a Saúde;
- Adestramento para Guarda e Segurança – Mais utilizado para tutores que necessitam proteção da casa e identificação de invasores, por exemplo.
O Instituto Mulheres Jornalista entrevistou Renan Nunes Fernandes, proprietário da empresa Família Canina Adestramento e que também atua como consultor em comportamento animal sobre o assunto.
Mulheres Jornalistas (MJ): Como funciona o adestramento à distância, uma vez que não haverá a presença do tutor?
Renan Fernandes: Em um adestramento à distância, o cão é levado a um centro de treinamento onde passará por um treino intensivo somente com o adestrador, tendo pouco ou nenhum acesso à família. Geralmente, esse tipo de adestramento é utilizado para cães com problemas graves de comportamento, como agressividade. É fundamental que o adestrador acompanhe a família após o regresso do cão para que o treinamento seja mantido em casa e para que não haja retrocesso. Para cães que não possuem comportamentos graves de agressividade, recomenda-se o adestramento residencial.
MJ: Para quem é leigo, como identificar se o profissional utiliza técnicas mais humanizadas ou técnicas antigas?
Renan Fernandes: Adestramento mais humanizado ou moderno consiste em criar uma conexão melhor do tutor com o seu cachorro, ensinando comandos importantes (ex.: senta, fica, desce, sobe, sai, entra e outros) e disponibilizando petiscos ou outros tipos de recompensas quando o cão realiza o comando pedido. Nesse tipo de adestramento, não se utilizam punições, broncas ou castigos. Já os métodos mais antigos de adestramento giram em torno de uma associação de maus comportamentos a punições (ex.: toques no pescoço ou virilha, chacoalhar moedas em uma lata, borrifador de água etc.).
MJ: Em que momento houve essa alteração na abordagem para o adestramento do animal?
Renan Fernandes: A modernização das técnicas de adestramento se deve muito ao avanço da ciência e aos estudos de psicologia e comportamento animal, que comprovam que um cão que é treinado com paciência, carinho e recompensas associadas aos bons comportamentos tende a repetir esses comportamentos com mais frequência, deixando assim os maus comportamentos de lado.
MJ: Alguns cães não gostam de petiscos. Existem outras formas de recompensa?
Renan Fernandes: Sim! Tudo que o cão gosta pode ser uma recompensa. Um brinquedo, um carinho ou um simples elogio servirá como reforço de um bom comportamento. Aliás, para alguns cães, esses recursos poderão surtir mais efeito do que um petisco.
MJ: Para chamar a atenção do animal, é necessário estar presente no momento em que houver a travessura. Mito ou verdade?
Renan Fernandes: Os cães possuem uma boa memória, mas não o suficiente para relacionar exatamente o que fizeram de errado com a bronca. Além disso, vale dizer que alguns cães fazem travessuras para chamar a atenção de seus donos. Por isso, brigar pode ter o efeito contrário do desejado e funcionar como um estímulo para o mau comportamento. O ideal é não corrigir o cão após a travessura, pois de nada vai ajudar em seu treinamento.
MJ: A partir de que idade recomenda-se iniciar o adestramento?
Renan Fernandes: A partir do momento em que o cachorro se torna independente de sua mãe canina, o que geralmente ocorre com 7 ou 8 semanas, o treinamento já pode ser iniciado. Regras e limites já podem ser ensinados, mas sem a utilização de gritos e, em hipótese alguma, punições físicas. Filhotes com poucas semanas de vida são frágeis física e emocionalmente e estão em formação, portanto, alguns cuidados redobrados são fundamentais.
MJ: Cães de pequeno porte apresentam maior dificuldade para aprendizado?
Renan Fernandes: O porte do cachorro não interfere em seu aprendizado, mas interfere muito nas ações de seus donos. Por exemplo, cães pequenos geralmente ficam no colo, colados quase 24 horas por dia com seus donos, e tendem a desenvolver uma dependência e uma humanização que podem afetar negativamente seu aprendizado e qualidade de vida.