Por Luiza Pinheiro, Repórter Rio de Janeiro

A definição do termo geek foi mudando ao longo do tempo e passou de algo que desmerece alguém para falar de pessoas que entendem muito sobre um determinado assunto. Atualmente, usa-se mais essa palavra para se referir àquele que se interessa por internet e tecnologia, principalmente ficção científica, games e quadrinhos, um mundo que, em outros tempos, era muito conhecido por ter quase em sua totalidade fãs homens e protagonistas masculinos.
As super-heroínas que existiam eram vistas de uma forma mais sexualizada ou não era dada uma importância igual. Além disso, elas normalmente dependiam de algum personagem masculino para salvá-las quando estavam em perigo. Aos poucos, isso tem mudado, mas é um processo contínuo. A força do feminismo e a busca por representatividade nas produções tem impulsionado a grande inserção das mulheres nesse universo, onde elas têm conquistado seu espaço.

Personagens femininas fortes têm ganhado cada vez mais protagonismo nas telas. O primeiro filme da Mulher-Maravilha, por exemplo, arrecadou US$821,8 milhões durante sua exibição em 2017 e Capitã Marvel chegou à marca de mais de US$1 bilhão. Além delas, a série da Netflix Jessica Jones, que segue uma super-heroína nem um pouco convencional, é um grande sucesso da plataforma.
Outras mulheres chamam a atenção e terão sua história mostrada como Natasha Romanoff – a Viúva Negra -, que em 2020 ganhará um filme solo, e a Feiticeira Escarlate, que vai ter uma série como o nome WandaVision, prevista para ser lançada em 2021 na plataforma Disney+.

Na última quinta-feira, dia 5, começou a CCXP 2019 (Comic Con Experience), maior evento sobre a cultura nerd no Brasil, realizado em São Paulo e que recebeu 280 mil fãs. Durante quatro dias, foram diversos painéis, atrações e o lançamento, em primeira mão, do trailer muito esperado de “Mulher-Maravilha 1984”, sequência da saga da super-heroína. O Portal Feminist & Geek, criado em março de 2019 com o intuito de dar mais espaço para as mulheres nesse meio, esteve no evento e fez a cobertura completa em suas redes sociais com muitas informações sobre o que aconteceu por lá. Atualmente, são 21 colaboradoras na página, que foi feita para alcançar, principalmente, o público feminino e gerar debates sobre pautas que as incomodam no universo nerd.

A museóloga Katharina Kossak começou a se interessar pelo mundo geek quando pequena. Ela assistia algumas séries junto com seu irmão e acabou se apaixonando por Cavaleiros do Zodíaco e Sailor Moon, que foi o desenho japonês que mais amou. “Me marcou por muitos anos e acho que a minha personalidade foi moldada por conta da série”, relata.

A jovem acredita que naquela época havia um machismo entranhado nas produções no sentido de que a personagem feminina sempre precisava ser salva pelo homem. Ela conta que, por isso, era até mais fã dos personagens masculinos por serem fortes e corajosos. “Eu vejo que o que eu gostava em desenhos japoneses hoje já não me agrada. Prefiro muito mais uma personagem que se impõe, que é forte e está se resolvendo sozinha, do que a que precisa ser salva o tempo inteiro”. Ela acrescenta: “Eu acredito sim que as mulheres estão cada vez mais ocupando esses espaços, porque a gente começou como fã de personagens masculinos e agora, mais que tudo, consumimos coisas em que nos sentimos representadas e em que vemos uma semelhança com a personagem principal”.

Katharina foi uma dos milhares de fãs que estiveram na CCXP 2019 em São Paulo. Apesar de sempre ter amado mais videogames e animes, ela conta que sua expectativa era enorme para o painel da Mulher-Maravilha, que aconteceu no domingo, dia 8. Tanto que chegou às três e meia da manhã no local, sendo que ele só aconteceria às cinco da tarde. O momento contou com a participação da diretora Patty Jenkins e da atriz principal e produtora do filme, Gal Gadot. “A Mulher-Maravilha representa o feminino em várias etapas, então foi uma expectativa grande por ser uma produção enorme com muitas mulheres à frente”.
 
Ela reforça que há uma importância muito grande na inserção das mulheres em todos os níveis desse universo. “Hoje, conseguimos subir de patamar em uma área que era muito fechada. Agora não só consumimos, como também estamos dentro do exercício de criação e publicidade do mundo geek”, ressalta.
A estudante de turismo Eduarda Peixinho ainda não conseguiu ir a um evento grande desse universo como a Comic Con, mas não esconde o desejo de participar um dia. “Além de estarmos em uma era em que que a mulher é vista com mais vivacidade de ser uma heroína, eu acho esse universo fascinante por ser cheio de magia e encanto”, declara.

Ela conta que fica feliz em ver o lugar que as mulheres estão tendo nessas produções, onde antigamente eram vistas majoritariamente como a mocinha indefesa. “Atualmente, elas já não são mais vistas como a donzela em perigo ou a princesa. Pelo contrário, são vistas como mulheres independentes e fortes, que podem se proteger sem precisar de um homem ao seu lado”, diz.

E como não podia ser diferente para uma fã desse universo, Eduarda já está ansiosa com os lançamentos do ano quem vem. “Estou aguardando o filme da Viúva Negra, com certeza. Além dele, o segundo da Mulher Maravilha. Duas mulheres que são o símbolo do feminismo nesse universo incrível”, conclui.