A ansiedade e a pandemia
Por Ana Joulie, Psicóloga especializada em patologias graves, fundadora e diretora clínica da Rede Internacional de Acompanhamento Terapêutico (RIAT)
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Ansiedade, ansiedade, ansiedade. Desde o ano passado, essa palavra se tornou ainda mais frequente nos discursos da população mundial. Os riscos da covid-19, o distanciamento físico obrigatório e todas as variáveis que surgiram com o vírus aumentaram a quantidade de pessoas que sofrem com crises e transtornos de ansiedade.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou, antes de surgir o coronavírus, que o Brasil já era considerado o país com o maior número de pessoas ansiosas no mundo. Cerca de 9,3% dos brasileiros têm algum transtorno de ansiedade, que inclui, além do Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Fobias, o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), o Estresse Pós-Traumático e os Ataques de Pânico. Todos esses transtornos são acometidos de sintomas ansiosos.
Desde 2020, os casos de ansiedade atingem uma margem de 80% de aumento no Brasil, número muito chamativo. A ansiedade é um transtorno carregado de sintomas e, muitas vezes, não existe um critério específico para senti-la, são múltiplos fatores que atuam de forma conjunta para criar o padrão de desordens ansiosas. Especificamente no Brasil, e em alguns países vizinhos, os principais fatores de risco incluem aspectos econômicos, desemprego, desigualdade, perdas de pessoas da família, fatores ambientais e sociais.
A pandemia instalou em muitas pessoas a condição de vulnerabilidade, seja pelo vírus ou por qualquer impacto por ele promovido. A pessoa ansiosa sofre pela impotência de controlar questões futuras, perda de controle, medo, sentimentos de incapacidade, dúvidas, expectativas, desejos de obter soluções e incertezas.
A ansiedade atinge diretamente o corpo e a mente, é uma reação de fuga e luta. É um fenômeno emocional que dissipa o corpo e altera o processo metabólico. Geralmente, as pessoas sentem sintomas físicos, como batimentos cardíacos acelerados, dores no peito, transpiração aumentada, cansaço, alteração na pressão arterial, tensão ou fadiga, tontura etc; sintomas cognitivos, tais como dificuldade de concentração, confusão mental, pensamentos catastróficos, medo de perder o controle e enlouquecer, sintomas comportamentais como inquietude, isolamento, insônia, fuga de situações estressoras; e sintomas emocionais, como angústia, medo, irritabilidade, raiva, impaciência. Toda essa sintomatologia pode surgir de forma gradual ou imediata.
Atualmente, todas as pessoas, independentemente da idade, estão sendo acometidas por sintomas de ansiedade: crianças, adolescentes, adultos e idosos manifestam os mesmos quadros da sintomatologia ansiosa, que diferem em pequenos aspectos, devido a condições ambientais, sociais e fatores como idade.
Diante deste cenário crítico e preocupante, que gera efeitos de curto, médio e longo prazo, temos que buscar identificar quais são os fatores que ativam os quadros de ansiedade e buscar mitigá-los. Entender e se conscientizar de que esse tempo caótico de pandemia acabará, adaptar-se ao “novo normal” e lidar com a rotina, sem criar tantas expectativas a curto prazo. Viver um dia de cada vez ajudará a prevenir fatores de risco que produzem ansiedade.
A sociedade precisa fixar a atenção em questões mais sanas, mais otimistas e não ficar paralisada diante dos obstáculos que surgem. Precisamos aprender a enfrentar crises, sabendo que não estamos sozinhos, que todos padecem do mesmo, que a questão pandêmica atinge todo o mundo e que já se está promovendo inúmeras soluções. Quando fixamos a atenção em soluções, minimizamos sintomas ansiosos.
Cuidar da emoção, cognição, comportamento e vínculos sociais é fundamental para a prevenção de transtornos de ansiedade. Fazer terapia é uma excelente ferramenta para trabalhar os aspectos de impotência, medo e desespero. Quando a pessoa se desespera, automaticamente pode perder a capacidade de raciocínio. Por isso é importantíssimo se autoconhecer, para poder evitar entrar em vulnerabilidades emocionais.
Existem dicas para tratar e prevenir a ansiedade e vou dá-las aqui. Converse mais sobre o que vive e sente, faça terapia, pratique alguma atividade física, utilize técnicas para controlar sua respiração, durma bem, cuide de sua alimentação, não procrastine, se organize em seus distintos papéis e funções sociais, mantenha sua atenção somente no presente, busque obter prazer e valorizar pequenas coisas, esteja em contato social, mesmo que seja de maneira virtual, regule seu consumo de entretenimento, ouça música e faça meditação, adquira autoconhecimento. Todas essas ações servem para lidar melhor com o processo de autocuidado e, consequentemente, previnem a ansiedade.
Por último, entenda e se conscientize: ter ansiedade não é o fim. Há tratamento. É um transtorno e pode ser também uma característica de personalidade, seja ela momentânea ou não. Não se assuste, trate. Aceite sua condição e não paralise. A ansiedade tem se tornado comum. Por isso, não se cobre tanto, busque ajuda e minimize seus fatores de risco. Ter ansiedade atualmente é comum, mais cuidado, não naturalize e banalize algo que deve ser enfrentado e tratado. Cuide-se! Cuide de sua família e amigos, fale com eles sobre ansiedade!