A agenda da guerra
Por Marta Dueñas, Jornalista
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Por que defendemos uns e ignoramos outros?
Enquanto bombas estouram na Somália, os olhos da população mundial pouco enxergam afora a guerra entre Rússia e Ucrânia. Quando foi que o mundo aprendeu que uma dor é maior que a outra? Quantas batalhas em curso no mundo. Não quero com isso minimizar a dor de russos e ucranianos, referindo-me especialmente à população que sofrerá perdas e traumas de dimensões que apenas posso imaginar num exercício de empatia.
Mas, quando percebo a majoritária cobertura de imprensa focada na guerra da Rússia com Ucrânia, e repito, entendo a conjectura internacional e seus desdobramentos, sinto como um olho fechado e um coração blindado a respeito de atrocidades mundiais que ocorrem em paralelo. Para citar alguns: Síria, Somália e Iêmen.
Segundo informações do Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados, pelo menos 28 países enfrentam conflitos ou combates armados no início de 2022. Conflitos bélicos. Armas, bombardeios, mortes. Crianças e jovens sangrando no chão. Se é que vocês estão me entendendo. Gosto de detalhar (ainda que pouco), pois não tem vídeos e fotos. Nem tudo é noticia, tampouco viraliza em redes sociais que comovem o mundo. Será a cegueira da imprensa que nos torna frios ou eles cegam porque poucos de nós se importam?
Não existe dor maior. Uma dor é sentida por quem está envolvido e por isso informação importa. Ela cria atmosfera para que possamos fazer parte, nos envolve. Também, por isso, a agenda da imprensa é fundamental para termos uma visão de mundo que não seja restrita, desumana ou pautada nos interesses que não sejam os coletivos.
E por que não falar nas batalhas dentro da guerra? Se vamos focar na Guerra da Rússia contra Ucrânia, ainda que um dos bandidos tente se passar de mocinho, bora lembrar que na semana do Dia Internacional das Mulheres, um Deputado brasileiro assediou mulheres refugiadas. Que vergonha!! Que tapa na cara de toda agenda humanista. Primeira questão? Foi fazer o que lá, além de reproduzir o machismo bélico tão bem representado pelo seu governo? Fomos passar mais uma vergonha internacional. O problema dessa vergonha é que ela arde! O problema dessa vergonha é que ela violenta e expõe a violência cotidiana das mulheres no Brasil. Para além de uma violência sexista, há um crime eugenista, um recorte estético. Tudo de ruim dito em poucas frases. Ah, se os grupos de Whats vazassem em telões…
Mamãe Falei, tem que trocar de nome! O nome do deputadinho é Papai Falou. Porque tudo ali representa esse patriarcado em que Putin, Bolsonaro e outros menos lustrosos fazem parte, alicerçam e mantêm vivo matando e estuprando. A guerra mata. O machismo mata. Putin mata. EUA mata. Bolsonaro mata.
Pronto, falei!