33º Troféu HQMIX homenageia Eva Furnari
Por Silvana Cardoso, Jornalista- RJ
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Uma premiação que acontece há 33 anos no país para o ramo dos quadrinhos. Sim, há um pouco mais de três décadas acontece o Troféu HQMIX, criado em 1988 pela dupla JAL (José Alberto Lovetro) e Gual (Gualberto Costa), no programa TV MIX, da TV Gazeta de São Paulo. Apadrinhado por Serginho Groisman, então apresentador do programa na época, o prêmio tem votação nacional feita pela categoria dos desenhistas de HQs e Humor Gráfico, por meio da Associação dos Cartunistas do Brasil (ACB) e do Instituto Memorial das Artes Gráficas do Brasil (IMAG). E a cerimônia de entrega da 33ª edição do Troféu HQMIX, para as 26 categorias, acontece no dia 27 de novembro, quinta-feira, de forma remota e transmitida pelas redes sociais do Sesc São Paulo.
Criador do prêmio com Gualberto Costa, em 1988, o Troféu HQMIX, José Alberto Lovetro, o JAL, reflete: “Em 1988, o momento era muito bom para os quadrinhos e, principalmente, para o quadrinho nacional. Os desenhistas independentes começaram a publicar suas revistas não mais como fanzines, mas com acabamento igual a das grandes editoras. Mauricio de Sousa fazia a base do mercado, como até hoje, estimulando crianças bem pequenas a gostarem de quadrinhos com a Turma da Mônica. E como ele começou esse processo nos anos 60 já estava na segunda geração de leitores. Então, esses leitores infantis que foram criados nos anos 60 já eram pais e começaram a se interessar por quadrinhos adultos”.
E sobre a diversidade e a evolução dos quadrinhos no Brasil nestes 33 anos, JAL declara: “Aquela época foi um bom momento, mas a inflação da era Sarney foi destruindo essa construção e Collor complicou mais ainda. Quadrinhos não são prioridade dentro de casa e aconteceu uma queda. Mas os independentes continuaram porque eram tiragens menores e foram aprendendo a lidar com o mercado. São eles que sustentam esse boom dos quadrinhos atualmente, com mais de 1.500 lançamentos de títulos por ano em plena pandemia. Então, vejo que nestes mais de 30 anos do Troféu HQMIX passamos por um boom no começo, que teve que se adaptar a momentos difíceis logo em seguida, mas que se adaptou e ganhou mercado neste inicio de século.
Além do Troféu HQMIX valorizar estes artistas e profissionais, a cada ano um famoso personagem nacional é escolhido para representar o troféu da premiação. E para 2021, a Bruxinha Atrapalhada, da desenhista Eva Furnari, é o símbolo do evento. Personagem que esteve presente por mais de uma década como “tirinhas” de quadrinhos nos cadernos infantis dos principais jornais do País, nas décadas de 1980 e 1990, será a estatueta do prêmio, criada pelo artista plástico Wilson Iguti.
Personagem que sai do papel e se transforma em “boneca” na estante da sua criadora, teve grande representatividade nos quadrinhos e na carreira de Eva, que também é escritora de sucesso, com a conquista de sete prêmios Jabuti, pela CBL, e nove vezes pela FNLIJ – Fundação Nacional para o Livro Infantil e Juvenil. Nascida em Roma, na Itália, veio ainda criança para o Brasil e se formou em Arquitetura e Urbanismo pela USP. Professora de artes, começou em 1980 a sua carreira como escritora e ilustradora de livros. De lá para cá, mais de 70 publicações no Brasil, lançados também em outros países, como na Inglaterra, Turquia, China, Chile e México.
O Instituto Mulheres Jornalistas conversou com Eva Furnari, na entrevista que vem a seguir.
MJ: Como recebeu a notícia da homenagem na 33ª edição do Troféu HQMIX, através da estatueta ser a Bruxinha Atrapalhada? E como foi ver a sua personagem como uma “boneca”, criada pelo artista plástico Wilson Iguti?
Eva Furnari: Estou feliz demais. Fiquei maravilhada, encantada e pode colocar todos estes adjetivos. Eu adorei. Acho o Wilson Iguti um baita artista. Ele conseguiu captar a figura em 2D e ficou sensacional. Tenho grande admiração por ele. O troféu com a imagem dela ficou linda (da Bruxinha Atrapalhada). Está aqui na minha sala e estou exibindo o Troféu HQMIX com muito orgulho.
MJ: Sucesso dos jornais O Estado de São Paulo e da Folha de São Paulo entre as décadas de 1980 e 1990, a personagem que faz sucesso nos livros ainda está na memória de muitas leitores Brasil afora. Como a senhora vê o sucesso da Bruxinha Atrapalhada?
Eva Furnari: Ela fez sucesso numa certa época. As coisas tem um certo ciclo de expansão e de recolhimento. O ciclo da Bruxinha na imprensa já terminou. O que continua acontecendo é o uso dos livros pelos professores, nas escolas. Usam os livros da Bruxinha como forma de percepção, da construção do pensamento, para a leitura dessas historias mudas. Com as sequências da esquerda para a direita.
MJ: Divertida e desastrada, nem sempre bem-sucedida com a sua varinha mágica, a Bruxinha Atrapalhada foi um marco na sua carreira como ilustradora e autora premiada de livros infantis. Qual a importância dela na sua carreira?
Eva Furnari: Muito importante, já que os dez primeiros anos da minha carreira foram livros sem texto, jogos de palavras, poucos textos. E o jornal me deu esta oportunidade nos suplementos infantis, com as “tirinhas”. E, com o tempo, vamos ganhando com a prática. E com o dia a dia vamos tendo retorno das pessoas. Fazer historias semanais me deu a projeção pública como autora, uma segurança pessoal que a experiência me deu: fazer com mais conhecimento. Foi importante para mim este inicio da carreira.
MJ: Ainda há espaço para o lúdico nos quadrinhos da atualidade?
Eva Furnari: A história em quadrinhos tem uma grande vantagem ainda hoje nas escolas, porque tem o texto e a imagem interligados e isso é natural para as crianças. Acredito que seja um grande recurso na educação. Eu sou fã desse tipo de trabalho, que é uma comunicação rápida e espontânea.
MJ: Se a Bruxinha Atrapalhada pudesse fazer uma mágica neste momento, o que ela mudaria no Brasil?
Eva Furnari: A magia seria para amenizar essa polarização que estamos vivendo. Um amadurecimento dos diálogos sem esse excesso de polarização.
MJ: Em meio ao momento de mudanças de planos, por conta da pandemia, quais seus novos projetos para 2022?
Eva Furnari: A pandemia trouxe uma consciência de que as pessoas e as relações são o que temos de mais importante. Devemos estar mais próximo das pessoas que amamos. Fiquei longe dos meus netos e desejo estar mais junto dos meus em 2022.
MJ: Eva Furnari continua morando na lua e na floresta encantada?
Eva Furnari: Olha, com certeza. Acho que tenho um universo de imaginação que me ocupa, mas não o tempo todo, pois tenho essa parte do cotidiano da vida prática. Mas estou sempre desejando entrar mais no meu universo que na vida prática (risos). É uma alegria ter um universo ao qual me diverte.
MJ: Ainda hoje Eva Furnari produz como antes?
Eva Furnari: Sentar e produzir é uma disciplina de todos os dias na minha vida, sem sábado ou domingo. É o meu lazer, mas é mais profundo que isso: da sentido para a minha vida ainda estar trabalhando no lúdico, nesse universo.
Quando a repórter que vos fala começou a agradecer a entrevista dizendo que faria uma última pergunta, a autora pediu para falar: “Estou muito honrada por ter recebido o prêmio há alguns anos, mas o troféu é um outro tipo de premiação, é um reconhecimento diferenciado. E essas poucas pessoas movidas por essa paixão que mantem a arte e a cultura., que mantem vivo o Troféu HQMIX, o meu maior respeito pela dedicação por estas três décadas do prêmio.
Obrigada Eva! E para terminar, podemos esperar novos lançamentos? O que a ilustradora me respondeu: “Livros novos sempre tem… mas ainda estão dentro da barriga ou dentro do caldeirão.”
E viva a magia de Eva Furnari para aquecer os corações das crianças de todas as idades.