Você já ouviu falar em seletividade alimentar infantil?
Por Raquel Banus, jornalista
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista
Transtorno afeta também adultos, porém é mais comum em crianças na idade pré-escolar
É natural que pais e cuidadores enfrentem desafios ao apresentarem novos alimentos às crianças na fase da primeira infância, período que dura até os 6 anos de idade. A criança pode resistir com receio de provar algo novo, se levantar, chorar e tentar substituir o alimento por algum que ela já conheça e goste. Porém, quando essa recusa se torna extrema e ela passa a escolher sempre os mesmos alimentos, excluindo grupos alimentares inteiros, é importante procurar ajuda profissional pois ela pode estar sofrendo de seletividade alimentar.
A seletiva alimentar é um transtorno que se reflete na grande dificuldade em aceitar alguns alimentos ou grande parte deles, tornando a alimentação altamente restrita. Esse problema não afeta apenas crianças, mas suas consequências podem ser mais graves pelo fato desse grupo estar em um momento de desenvolvimento fisiológico e cognitivo e a falta de nutrientes pode impedir que elas se desenvolvam plenamente.
A psicóloga Jaqueline Soares afirma que é imprescindível buscar ajuda profissional assim que surgir a dúvida sobre a presença da seletividade alimentar “não sendo tratada, a criança pode levar a seletividade para a adolescência e, nesses casos, a abordagem é ainda mais complexa”.
Jaqueline aconselha que, surgindo a dúvida sobre a presença do transtorno, os responsáveis devem procurar a princípio um pediatra, que poderá encaminhar a criança para um tratamento multidisciplinar que poderá envolver nutricionista, nutrólogo, fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional.
Características da seletividade alimentar infantil
- A criança se recusa a experimentar novos alimentos;
- Apresenta pouco ou nenhum apetite;
- Sofre com náuseas e vômito quando precisa ingerir um alimento novo;
- Teve perda ou ganho repentino de peso;
- Sofre com a aversão a grupo alimentares inteiros, não é o caso da criança que prefere uma fruta a outra e sim a que rejeita todas as frutas ou todos os laticínios;
- Aceitação de apenas alimentos que tenham uma característica em comum. Por exemplo, se a característica do alimento aceito for relacionado à textura, a criança pode buscar sempre ingerir apenas os alimentos mais crocantes ou os mais macios. Essas características podem estar associadas também ao cheiro, sabor, cor e temperatura dos alimentos.
A ausência de informações agravam os desafios enfrentados pela criança e pela família no enfrentamento da seletividade, como consequência surge o preconceito que pode afetar as relações sociais da criança.
Mariana Alves lida com os desafios da seletividade da filha Maria Eduarda, de 4 anos, diagnosticada quando tinha apenas um ano. “Muita gente acredita que esse problema é frescura, não entendem a real gravidade da seletividade alimentar, mas eu não permito que o preconceito das pessoas afetem minha filha. Quando me deparo com a falta de conhecimento e empatia, eu oriento que a pessoa busque informação sobre o assunto e deixo claro que eu não permito que ninguém a obrigue a comer, até porque a alimentação da Maria Eduarda é acompanhada junto à nutricionista e ela come de forma adaptada”.
Seletividade alimentar x autismo
Um estudo realizado pela University of Massachusetts Medical School comprovou que cerca de 67% das crianças no espectro autista apresentam transtorno ou seletividade alimentar. Essa relação é comum por conta do estímulo sensorial dos alimentos que levam a criança com TEA a ter comportamentos restritivos relacionados à alimentação. Apesar desse percentual, o diagnóstico da seletividade alimentar não define se a criança sofre com o TEA, portanto é necessário que se faça uma consulta com especialistas para realizar um diagnóstico mais preciso.
O transtorno alimentar não tem uma causa definida, mas pode estar associado à dificuldade de mastigar e deglutir, problemas gastrointestinais, a uma experiência traumática na alimentação e também a fatores genéticos e ambientais.
Dicas de como lidar com a seletividade em crianças
- Usar a criatividade para decorar o prato ajudando as criança e se sentir atraída pelo alimento;
- Oferecer um alimento novo em pequena quantidade ao lado de um alimento que ela já conheça e goste;
- Envolvê-la no processo de preparo da refeição, com funções de acordo com a idade, como separar ingredientes, lavar o arroz e temperar a salada;
- Realizar refeições em família, em que todos tentem incluir diversas opções no seu prato, servindo de exemplo para os mais novos;
- Promover um ambiente calmo e sem a distração de telas na hora da refeição;
- Respeitar a quantidade de alimento aceito;
- Não realizar comentários negativos e desencorajadores;
- Não pressionar ou realizar chantagens para a criança se alimentar.
É fundamental que essas ações façam parte da rotina da família e que os cuidadores consigam lidar com suas emoções, pois a busca por avanços rápidos durante o tratamento pode trazer muita ansiedade para a família e atrapalhar o engajamento e, por consequência, os resultados do tratamento. É importante levar informações sobre a seletividade à escola, pois os profissionais da educação também precisam estar preparados para lidar com esse desafio. Lembrando sempre que a criança seletiva também sofre nesse processo e precisa de apoio, compreensão e acolhimento.
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