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Pesquisa revela que os passageiros tendem a considerar o bem-estar mental tão importante quanto o físico em um cenário de viagens pós-pandemia

Por causa do novo coronavírus, milhões de pessoas adoeceram, perderam o emprego ou sofreram as consequências da redução dos contatos sociais. É difícil saber qual é a consequência mais devastadora da crise sanitária atual: os aspectos médicos, as dificuldades econômicas ou o impacto psicológico?

Para muitas regiões do país, foi mais de um ano em regime de “fique em casa”, o que reduziu seus dias a um resumo de medo, saudade e restrição. Não à toa, muito se discutiu sobre a qualidade de vida que é possível ter em quarentena dentro de casa.

Viajar para renovar a alma

Antes da pandemia, já se sabia que as férias ou as pequenas viagens eram uma parte importante da felicidade das pessoas e, diante da atual realidade, abrir mão desses passeios reforçaram a sensação de que estamos vivendo uma das experiências humanas mais difíceis do nosso tempo.

Com o avanço da vacinação em cenário mundial, a flexibilização e abertura dos comércios e a queda nos índices, o setor do turismo vem se reaquecendo. Viajar já não é mais apenas conhecer novos lugares, museus e praias. Nunca foi apenas isso. Entretanto, agora outros critérios passam a ser considerados importantes por turistas de todo o mundo ao planejar uma viagem, como higiene, segurança e estrutura para receber o turista de forma agradável.

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Foto: Arquivo pessoal/Amanda Campanha

Viajar se torna, então, uma forma de relaxar, uma busca por bem-estar e escape da rotina intensa. E não é preciso ir tão longe: uma viagem de fim de semana, uma cachoeira, ou até uma visita aos parentes do interior. Essas rápidas fugas da realidade para um “detox” são a realidade da advogada Amanda Campanha. A mineira se viu tão tensa, preocupada e ansiosa com os dias de quarentena durante as piores fases da pandemia, que, assim que se sentiu segura, foi para o interior visitar os pais, e foi diferente: “é um lugar que eu sempre fui, sempre visitei, mas dessa vez foi com outros olhos. Antes era mais uma rotina corrida para visitar meus pais, e agora eu vou querendo ver com outros olhos. Quero fazer tudo com mais calma, poder tirar um tempo para respirar com sentimento, espairecer a cabeça, fazer passeios diferentes, e claro, aproveitar mais a companhia da minha família. Meu olhar mudou.”

Amanda não pretende fazer longas viagens, nem tirar grande período de férias e, portanto, usa e abusa dos fins de semana e feriados para conciliar a rotina cansativa com roteiros que envolvam muita natureza, distanciamento social e relaxamento.

“Aqui tão pertinho de Belo Horizonte, comecei a valorizar passeios nas montanhas, como no caso da Serra da Piedade; fazer uma caminhada ao ar livre para ver o mirante do Parque das Mangabeiras; e já estou com previsão de mês que vem ir conhecer o Parque do Caraça, onde vamos ter um pernoite. É um passeio cheio de história, onde vamos conhecer Lobo-guará, e caminhar entre cachoeiras”.

Voltar a viajar significa fazer face às multidões, à interação humana, em hotéis e transportes. Mas significa também regressar ao mundo das experiências novas, das aventuras enriquecedoras onde se conhecem pessoas e terras antes desconhecidas.

Saúde mental

Uma pesquisa realizada pelo instituto de pesquisas Datafolha registrou o impacto da pandemia de covid-19 na saúde mental das pessoas. De cada 10 indivíduos, pelo menos quatro relataram problemas psicológicos como ansiedade ou depressão desde o início da crise do coronavírus.

A médica psiquiatra Jaqueline Bifano lida com essa intensa demanda relacionada à saúde mental e pontua que, quanto profissional, percebeu esse aumento de pessoas procurando ajuda. “É nítido que as pessoas estão mais ‘cansadas e pesadas’. Muitas pessoas adoeceram pela preocupação com o futuro, não poder sair de suas casas e abraçar seus familiares. Esse ambiente tenso fez com que até pessoas que eram mais sorridentes e levavam a vida de forma mais leve se tornassem, de alguma forma, mais tristonhas”, pontua.

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Foto: Arquivo pessoal/Jaqueline Bifano

É totalmente compreensível sentir ansiedade frente à situação atual e às incertezas em relação ao futuro, e, portanto, percebe-se que quem vai viajar também tem sido mais criterioso, desejando encontrar tranquilidade e paz, algo que o turismo de saúde e bem-estar sempre ofereceu.

Turismo e bem-estar

No Brasil, esse tipo de turismo não só é tradicional como também lucrativo. Segundo o Ministério do Turismo, o estrangeiro que vem ao país para cuidar da saúde é o que permanece mais tempo, aproximadamente 22 dias, além de ser o que mais gasta, em torno de R$ 660 por dia.

A ideia é que os espaços estejam preparados para oferecer valor ao turista, destacando-se da concorrência ao poder proporcionar ao viajante mais conforto e serviços especializados na cura, no relaxamento e no bem-estar. Objetivo que o Aruna Eco SPA entende bem. Aproveitando o visual do alto da montanha, o espaço se isola da área urbana de Florianópolis, proporcionando momentos de tranquilidade com vista para o mar. O spa investe em terapias naturais e conta ainda com uma piscina ecológica com água da vertente. A hospedagem é oferecida em cabanas rústicas suspensas sobre as copas das árvores.

“Nossa proposta se resume em oferecer um refúgio familiar e aconchegante para alívio de stress. Não somos um hotel e nem mesmo uma pousada comercial. Disponibilizamos duas acomodações de hospedagem de curta duração através de AirBNB e Booking. Ainda disponibilizamos alguns dos pacotes de relaxamento, praticados por profissionais em Naturologia terceirizados. Este serviço não é aberto ao público. Apenas uma comodidade para nossos hóspedes”, explica o proprietário Wily Scur.

Wily conta que, desde o início da pandemia, foi percebido um aumento na busca pelo espaço, e que são, na maioria, pessoas buscando relaxamento em um local para curtir a natureza. Ainda segundo o proprietário, tem sido muito comum ouvir retornos como “Era isso que procurávamos” ou “estar aqui é uma bênção”. Não a toa, ele conta que a incidência de retorno ao refúgio aumentou, já que antes da pandemia as pessoas passavam e poucos retornavam.

O local é envolto da natureza nativa e rodeado de diversas espécies de animais. Oportunidade perfeita para deixar o celular de lado e se conectar com as belas paisagens oferecidas. O Aruna Eco SPA Estamos fica a 140m acima do nível do mar, a 3,8 km de praias e em meio a exuberante natureza no sul da Ilha de Florianópolis, em zona de farta vegetação nativa. “Aqui temos uma flora e fauna rica em espécies, gigantescas Guarapuvus, Embaúba, vegetação pantanal e outras são abrigos de várias espécies de mamíferos, tais como cotias, preás, lontras, jacarés no pântano, macacos (que entram nas dependências) e outros. Muitas aves. É frequente observar Tucanos, Gralha azul, Aracuãs (que nos acordam diariamente com sua algazarra) Araras, Cambacicas, Bemtevis, corujas e muitos beija flores. Em dezembro, chegam os vagalumes gigantes que possuem três fontes de luz bem intensa, uma no traseiro e duas na cabeça, como Leds esverdeados que iluminam o ambiente a sua volta”, explica Wily.

“Aqui já operávamos com o conceito da permacultura e profissionais naturólogos formados em saúde, muito antes da pandemia. Então os cuidados com o ambiente e operativos sempre seguiram um padrão EPI. Pois desde a implantação, tem sido norma em nosso refúgio a preservação do ambiente, da saúde e bem-estar. Acreditamos que a saúde do corpo, do intelecto e da alma é a chave da preservação humanitária”, finaliza Wily.

Uma recente pesquisa revelou que os passageiros tendem a considerar o bem-estar mental tão importante quanto o físico em um cenário de viagens pós-pandemia. O estudo “Jornada de Retorno” foi realizado pela Collinson, especialista global em fidelização de clientes e experiências dos viajantes, e traz dados inéditos de dois levantamentos feitos pela empresa em 13 países, incluindo um recorte dedicado ao Brasil.

Jaqueline Bifano reforça que a busca por passeios e viagens é uma fuga da realidade para um relaxamento emocional e que é uma boa alternativa para prevenir o estresse desse período que estamos vivendo. É importante que ocorra esse tipo de viagens para manter uma boa saúde emocional. “É uma forma de esvaziarmos ou desconectarmos um pouco com nossa rotina, com as dificuldades que enfrentamos no dia a dia e com o bombardeio de notícias que, muitas vezes, acaba fazendo com que fiquemos ainda mais preocupados, temerosos ou angustiados”.

A conscientização da sociedade e a importância da saúde mental aumentaram drasticamente nos últimos anos, e não é diferente quando se trata de viagens. No âmbito global, a pesquisa mostra que, a partir de agora, 73% dos passageiros vão priorizar mais seu bem-estar mental quando viajarem do que antes da covid-19. No Brasil, esse percentual chegou a 90%.

O estudo demonstrou que os entrevistados do Brasil foram os mais preocupados com a saúde, tornando-os mais propensos do que os dos outros países a pagar por serviços adicionais para melhorar seu bem-estar no aeroporto – quase metade (44%) disse que pagaria por espaço extra para as pernas no avião, enquanto 41% pagariam por embarque prioritário. Os serviços pelos quais os brasileiros teriam mais probabilidade de pagar, em função da covid-19, seriam os testes no embarque e desembarque no aeroporto. Quarenta e sete por cento relataram que pagariam pelo teste no desembarque, enquanto 53% disseram que o fariam no embarque. Mais pessoas no Brasil pagariam por testes no aeroporto do que em qualquer outro país, indicando uma demanda reprimida por viagens internacionais dos consumidores brasileiros.

A psiquiatra Jaqueline acredita que esse crescimento por viagens relacionadas ao bem-estar e à saúde mental tende a ser uma realidade cada vez mais presente no dia a dia do brasileiro: “as pessoas tiveram que rever seus valores e a própria vida. Cuidar de si, hoje, é imprescindível”.

A profissional reforça ainda que é importante sempre tirar um tempo para si, reavaliar suas metas e objetivos e avaliar se está feliz com que está fazendo. “Por mais que pareça difícil, esse exercício de reavaliação é fundamental para conseguir mudar esse sentimento de desanimo e frustração. Às vezes, só o fato de mudar a forma como estamos realizando nossas tarefas no dia a dia já faz toda diferença”, esclarece.