Quem opta por não se imunizar coloca em risco não apenas a si, mas toda a comunidade 

Comentarista Melissa Rocha- RJ
melissa.rocha@mulheresjornalistas.com

A pandemia da Covid-19 virou o mundo de ponta cabeça. Em menos de um ano, a vida como conhecíamos mudou drasticamente – e não para melhor. 

Mas é sempre importante retirar algum aprendizado, mesmo das piores experiências. No caso da pandemia, uma das lições foi a comprovação da importância da vacina.  

Em um mundo onde movimentos antivacina ganhavam espaço, a devastação gerada pela falta de apenas uma vacina serviu como um chamado à razão. Hoje, a tão esperada vacina contra a Covid-19 é objeto de desejo ao redor do globo. E quando ela finalmente estiver disponível no Brasil, será necessário um esforço conjunto entre governo federal, estados e municípios para iniciar um programa de imunização em massa. No entanto, uma declaração dada pelo presidente Jair Bolsonaro lançou dúvidas se haverá algum esforço nessa direção. 

Na segunda-feira, 31, Bolsonaro afirmou que a vacinação contra a Covid-19 será uma decisão individual. “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”, disse o presidente. A declaração foi dada em resposta a uma apoiadora que contestou a segurança das vacinas que estão sendo produzidas e exortou o presidente a proibi-las. No dia seguinte, a declaração de Bolsonaro foi oficializada pela Secretaria de Comunicação da Presidência, que comunicou que o governo “preza pela liberdade dos brasileiros” e que não está em seus planos “impor obrigações”. 

O episódio mostra que, mais uma vez, o presidente optou por abandonar seu papel de líder para afagar seus apoiadores, muitos dos quais são críticos das vacinas contra a Covid-19, atualmente em fase de testes. Em outras palavras, após passar meses mais atrapalhando do que ajudando no combate à pandemia, o presidente agora dá sinais de que pretende fazer o mesmo durante a fase de imunização.  

A postura do governo contraria ações positivas tomadas em governos passados, que resultaram na erradicação de um rol de doenças. No Brasil, o aumento da expectativa de vida observado nas últimas décadas caminhou junto com o aumento da cobertura vacinal. Campanhas de imunização em massa levaram à redução de mortes causadas por doenças infecciosas preveníveis. Um exemplo disso foi a erradicação da poliomielite. Em 1994, o Brasil obteve o certificado de país livre doença graças a um programa de rastreamento e vacinação em massa, implementado no final da década de 1980.  

Bolsonaro também comete um erro ao considerar a imunização uma decisão individual. Isso porque uma pessoa não imunizada coloca em risco toda a comunidade. Não à toa, em resposta a movimentos antivacina, alguns países criaram leis para tornar obrigatória algumas vacinas. Na Alemanha, por exemplo, para matricular os filhos em escolas os responsáveis devem apresentar um documento comprovando que a criança foi vacinada contra o sarampo. Vale destacar que a Alemanha é governada por uma coalizão formada por três partidos: os conservadores CDU – da chanceler Angela Merkel – e CSU e o social-democrata SPD. Ou seja, a imunização não é uma questão de ideologia. É sobre salvar vidas e trabalhar pelo bem coletivo.    

Além disso, a postura do governo sobre a vacina pode ter impacto negativo na economia. Afinal, que governo estará disposto a fechar acordos com um país pária no combate à pandemia? Em um momento em que o Brasil já está em recessão técnica – com uma queda recorde de 9,7% do PIB no segundo trimestre – essas são questões que devem ser levadas em conta. Especialmente em uma gestão que diz prezar tanto pela economia.