Luiza Esteves, Repórter  RJ
O aumento do tempo gasto no ambiente virtual é tendência dos brasileiros. Em média, a duração é de nove horas por dia navegando pela Internet, segundo dados da agência We Are Social e da plataforma Hootsuite de 2018. Por influência dessa adaptação ao ambiente virtual, modificamos a forma de lidar com as pessoas com o passar dos anos. A Web permite a comunicação sem barreiras de tempo ou de espaço, além de facilitar o surgimento de relacionamentos virtuais.
 
Esse foi o caso da estudante de jornalismo Beatriz Brito, 24 anos, que pôde conhecer Vitor, com quem namorou e teve o filho Vicente. Devido a um site que combina parceiros por meio do gosto musical, eles passaram a conversar sobre o assunto em comum, marcaram para se encontrar e, assim, a relação começou a crescer. Para Beatriz, a Internet ajuda a descontrair e a tornar mais fácil a comunicação. Eles estão separados desde que Vítor se mudou para Juíz de Fora, mas continuam a manter contato. O pai se comunica com Vicente por Skype e por Whatsapp por conta da distância.
 
Histórias de relacionamentos que surgiram por meio de sites, redes sociais, ou aplicativos viraram realidade desde o avanço da Era digital. A professora de jornalismo, Érica Ribeiro, afirma que a Internet amplia as possibilidades de conhecer pessoas de qualquer parte do mundo e menciona os sites e aplicativos de relacionamento como auxiliadores desse processo, como aconteceu com Beatriz Brito. “O ambiente virtual possibilita o encontro de pessoas que têm o mesmo gosto. Elas, que não se conheceriam, podem se aproximar por conta disso”, diz a pesquisadora.
 
Assim como a tecnologia melhora a convivência com as pessoas, para Érica Ribeiro, a Internet também precisa ser usada com muito cuidado. “O perigo está em você não saber quem está do outro lado. As fotos e vídeos podem não ser de quem te mandou.” A professora menciona casos de indivíduos que se relacionam virtualmente e quando se encontram, algum deles mente sobre questões como sexo ou aparência. Ela também alerta para os casos de assassinos e criminosos sexuais que usam a estratégia para se aproximar da vítima.
 
A desconfiança em relação ao caráter da pessoa com quem nos relacionamos virtualmente não foi só uma questão para Érica. Camila Medeiros e Gabriel Aziz não acreditavam que pudessem fazer amizades duradouras com alguém sem conhecer pessoalmente. “Como eu ia confiar em gente que nunca vi na viva? Achei que não ia dar nada”, diz Gabriel. Contudo, depois que ganhou amigos por meio da Internet, ele modificou o pensamento e passou a valorizar esse tipo de interação. Ele afirma ainda que não vê diferença em amizades virtuais e as presenciais em relação à confiança e à intimidade.
 
Camila Medeiros também passou a acreditar em amizade virtual depois de experiências positivas e considera a importância de formar laços, independente das barreiras físicas. Ela conversa, recebe ajuda, conselhos e aprende a cada dia com os amigos. “Sou muito difícil de me abrir para conversar, até mesmo com as minhas melhores amigas. Com eles é diferente, porque sinto liberdade e confiança”. Camila deseja continuar a interagir com os colegas por muito tempo e torce para conseguir encontrá-los pessoalmente.
 
A psicóloga e professora do curso de formação em psicoteriapia, Maria Cecília Ribeiro menciona a facilidade de se comunicar com mais descontração por meio do monitor e alerta para as consequências da relação com virtual. “A Internet tem um grande potencial de interação até para quem é mais tímido, se bem usada, mas que pode levar ao individualismo. A gente vê pessoas que passam o fim de semana inteiro no computador.” Os resultados dessa síndrome são percebidos pela psicóloga no consultório.
 
Os pacientes se queixam em relação à falta de curtidas ou ao bloqueio de perfis nas redes sociais. “A necessidade de ser notado ou valorizado na Internet está ligada aos conflitos de rejeição e de ser abandonado.” Caso esse problema seja constante, a pessoa pode se tratar por meio do trabalho verbal e de técnicas corporais. “O meu trabalho consiste no uso da palavra e do corpo como instrumentos de acesso ao inconsciente”.