Turismo LGBT no pós-pandemia: pesquisas e representatividade
Eliza Dinah, Jornalista- MG
eliza.dinah@mulheresjornalistas.com
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Ainda em clima de luta e muita festa pela celebração do Mês do Orgulho LGBTQ+, dados interessantes tem mostrado como esse público vem movimentando o mercado do turismo mundial. A Associação Internacional de Turismo LGBTQ+ (IGLTA) apresentou um levantamento que revelou uma grande demanda reprimida entre os viajantes LGBTQ+, devido às restrições de viagens desde o começo da pandemia.
Cerca de 60% dos entrevistados disseram que planejam tirar suas próximas férias importantes antes do fim de 2021. Nas intenções de viagens por mês, se destaca dezembro (14%), seguido por julho, outubro e novembro empatados (8%). Os meses de junho, agosto e setembro também aparecem empatados (6%), seguidos pelo mês de maio (4%). Além disso, 11% dos respondentes fizeram reservas de viagem uma semana depois de responder à pesquisa.
A “Pesquisa de Viagens LGBTQ+ Pós Covid 2021” foi realizada entre 26 de março e 9 de abril de 2021 com 6.300 viajantes da comunidade LGBTQ+ em todo o mundo, com a maior representação dos Estados Unidos, Brasil, Índia, Europa e México.
As viagens domésticas, com estadas em hotéis ou resorts e voos de curta distância, estão no topo da lista de atividades nos próximos seis meses, enquanto voos mais longos e atividades em grupo levarão mais tempo para se recuperar. Já a probabilidade de participar de eventos e festivais LGBTQ+ nos próximos seis meses foi a mais alta entre os brasileiros entrevistados (56%), ressaltando o forte desejo de se reconectar com a comunidade.
Representatividade Importa
Uma outra pesquisa, esta realizada pelo Expedia Group, revela que seis em cada dez norte-americanos da comunidade LGBTQ+ cancelaram ou alteraram os planos de uma viagem ao se sentirem inseguros por conta de sua identidade de gênero ou orientação sexual.
Patrocinado pela Orbitz, uma marca do grupo, e produzido pela OnePoll, o estudo “Representatividade Importa” explorou hábitos de viagem e analisou a importância da representatividade LGBTQ+ na mídia. Para o levantamento, foram entrevistadas 2 mil pessoas da comunidade que moram nos Estados Unidos.
Ao serem questionados sobre o processo de planejamento de uma viagem, 20% disseram que “sempre” pesquisam um destino para saber se o local é amigável à comunidade LGBTQ+. Para 58%, os viajantes LGBTQ+ investem mais tempo em pesquisas sobre destinos e acomodação do que turistas heterossexuais. O levantamento também demonstrou que, para muitos da comunidade, viajar, participar de uma entrevista de emprego e conhecer alguém novo são os principais momentos em que sentem a necessidade de esconder sua identidade.
Os entrevistados, no entanto, não irão desistir de seus planos de viajar. Aproximadamente metade (48%) planeja participar de alguma Parada do Orgulho LGBTQ+ este ano e, dentre estes, 66% afirmam que a primeira grande viagem pós-covid será uma oportunidade para celebrar.
Comunidade representada
E falando em representatividade + viagens, o Viaja Bi!, blog comandado pelo paulista Rafael Leick, desde 2014 conta de forma alegre e irreverente sobre os lugares e roteiros por todo o mundo. Junto com seus convidados, eles contam um pouco das experiências pessoais, de como e onde o mercado LGBTQ+ deve correr para conhecer. Segundo o fundador, esse foi o 1° blog de turismo LGBTQIA+ do Brasil! Ele conta que fez uma viagem para o sul da França para visitar amigos e um deles o chamou para conhecer uma praia de nudismo gay. “Achei curioso e topei. No dia, ele não podia ir e fui tentar descobrir na internet como chegar porque não falo francês e tive muita dificuldade. Só encontrei em um site de conteúdo adulto. Daí surgiu a vontade de ter um espaço com informações corretas e confiáveis para nossa comunidade que fosse possível de acessar em qualquer lugar”.
O Viaja Bi! sai do armário para se posicionar de maneira ativa (ou versátil) como mídia gay participativa, informativa e, mais importante do que isso, assumida! “Além dos relatos, você também pode esperar divulgação de informações relevantes pra você que é uma bi antenada, descolada, inteligente e culta. Nosso objetivo é se tornar um agregador de conteúdo de viagem gay referência no país”, brinca Rafael.
O paulista relata que duas das maiores dificuldades para a comunidade LGBTQ+ em viagens estão no mapeamento de estabelecimentos voltados para comunidade, como bares e baladas, mas principalmente a questão da violência, de saber se o destino escolhido é inclusivo de fato, na prática. “O Brasil, por exemplo, é bastante avançado em termos legislativos, mas, na sociedade, ainda há muito preconceito. É o país que mais mata LGBTQ+. Então não é uma tarefa simples. Dentro do que é possível, tento ajudar como posso com o Viaja Bi!”.
Rafael finaliza comemorando a conquista: “quando falamos de turismo LGBTQ+ mundialmente, há diversos avanços. O turismo para a comunidade já faz parte das políticas públicas dos destinos, há investimento porque o retorno é certo”. Já quando falamos de âmbito nacional, o paulista reconhece que não há investimento público no turismo, que dirá turismo LGBTQ+. “Esse momento que estamos vivendo no país é obscuro, mas há iniciativas, especialmente do setor privado, que já entenderam que além de certo, é lucrativo. Há dados que mostram que a comunidade LGBTQ+ representa 10% dos viajantes do mundo e 15% da receita gerada com turismo, ou seja, o ticket médio desse viajante também é maior, costumam viajar fora de temporada e há um menor número com filhos, revertendo esse valor para viagem como uma das prioridades de gasto. Eu vejo o turismo LGBTQ+ como uma das vias de saída da crise que a pandemia colocou o setor” pontua.
Hospedagens LGBTQIA+
Para suprir a lacuna da possibilidade de encontrar com mais facilidade hospedagens gay-friendly, nasceu o serviço Misterb&b, um site de aluguel por temporada voltado para a comunidade LGBTQ+. A ideia começou com uma má experiência: foi quando Matthieu Jost, um dos fundadores da plataforma, reservou uma acomodação em Barcelona junto a seu namorado e percebeu que o anfitrião não estava confortável com o fato de eles serem um casal gay. Isso arruinou as férias dos dois, mas fez com que surgisse a ideia de criar o serviço.
Algum tempo depois, surgia o Misterb&b, que hoje já conta com 310 mil anfitriões em mais de 135 países. Para usar o site, não é preciso ser necessariamente gay, mas sim apoiar a causa, existindo a opção de se inscrever como gay-friendly.
Além de criar um ambiente amigável para pessoas LGBTQ+, a ideia é também oferecer um espaço de troca de dicas entre hóspedes e anfitriões, já que eles poderão obter informações em primeira mão sobre onde ir e estabelecimentos que são gay-friendly na região. Algumas listas personalizadas são disponibilizadas pelo site por bairros, como o Soho, em Londres (Inglaterra), o Marais, em Paris (França) e Le Village, em Montreal (Canadá).
Os apartamentos podem ser reservados por dia, semanas ou até mesmo para estadas mais longas, quando necessário. Para saber mais sobre o serviço e conhecer as acomodações disponíveis, acesse o Misterb&b ou faça download do app disponível gratuitamente para iOS ou Android.