Por Sara Café, jornalista
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Abalos sísmicos são desencadeados pelo contato entre duas placas tectônicas, seja através da convergência ou transformação e a intensidade do tremor varia com a proximidade ao epicentro, sendo mais forte quanto mais próximo estiver

Em uma movimentação sísmica que ocorre debaixo de nossos pés, os terremotos revelam a intrigante coreografia das placas tectônicas que compõem a crosta terrestre. É um fenômeno natural, mas pode abalar estruturas e destruir cidades inteiras ou sequer ser sentido a depender de sua magnitude. 

Segundo o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), uma das entidades brasileiras que estuda o assunto, os terremotos “são resultado do deslizamento e do atrito entre as placas tectônicas, que são grandes blocos rochosos semirrígidos que compõem a crosta terrestre e estão em constante movimento.” 

Por vezes, as placas se chocam entre si durante esse deslocamento em locais que se chamam “falhas”. Esse atrito libera uma grande quantidade de energia, em forma de ondas, que se propagam em todas as direções e que causam os tremores sentidos na superfície da Terra. Tal fenômeno é registrado em todo o mundo. Recentemente ,ocorreu um abalo sísmico na região próxima a Taiwan na quarta-feira (03/04), com magnitude 7,5 na escala Richter, que deixou mais de 1.100 feridos e subiu para 16 o número de mortos, segundo as autoridade locais. 

A Agência Meteorológica do Japão também confirmou um terremoto de magnitude 6,1, que atingiu a região de Fukushima na quinta-feira (04/04), um dia depois de um poderoso tremor atingir a ilha vizinha de Taiwan. Ao contrário do que aconteceu com o sismo de quarta-feira, Tóquio não emitiu alerta de tsunami desta vez. 

Outro terremoto de 4,8 de magnitude atingiu a região de Nova York, nos Estados Unidos, na sexta-feira (05/04). Segundo o Serviço Geológico dos EUA, o tremor ocorreu às 10h28 no horário local e a profundidade do terremoto foi de 5 quilômetros abaixo da superfície, uma profundidade considerada muito baixa e que pode aumentar a intensidade do tremor.

Para ilustrar os terremotos que acontecem ao redor do mundo, pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos EUA, elaboraram um mapa interativo que mostra terremotos ao redor da Terra em tempo real. A ferramenta é usada tanto para o ambiente acadêmico como para o público geral e também é útil para educar os residentes sobre os riscos de terremotos e o que fazer para permanecerem seguros.

Mas porque acontecem esses grandes terremotos?

Imagem: Reuters

Cerca de 80% de todos os terremotos do planeta ocorrem ao longo da costa do Oceano Pacífico, região também chamada de “anel de fogo” devido à preponderância de atividade vulcânica. “Caracteriza-se por concentrar algumas das zonas de subducção mais importantes do mundo, o que provoca intensa atividade sísmica e vulcânica no território que abrange”, segundo a Universidade Autônoma de Nuevo León (UANL), em entrevista à CNN Brasil. 

O Serviço Geológico dos Estados Unidos, por sua vez, detalha que o “Anel de Fogo” do Pacífico é a maior zona sísmica do mundo, registrando cerca de 81% dos maiores terremotos do planeta e mais de 450 vulcões ativos. Nessa área ficam duas placas tectônicas terrestres: a placa do mar das Filipinas e a placa da Eurásia. 

Esses impactos geralmente são graduais e imperceptíveis na superfície; no entanto, uma pressão imensa pode se acumular entre as placas. Quando essa pressão é liberada rapidamente, envia vibrações massivas, chamadas de ondas sísmicas, muitas vezes por centenas de quilômetros através da rocha e até da superfície. Outros terremotos podem ocorrer longe das zonas de falha, quando as placas são distendidas ou comprimidas.

Em média, ao menos um terremoto de magnitude 8 ocorre em algum lugar todos os anos, ocasionando cerca de 10 mil mortes anualmente. Edifícios que desabaram são os que causam a maioria das mortes, mas a destruição é muitas vezes agravada por deslizamentos de terra, incêndios, inundações ou tsunamis.

Imagem: USGS

“Os edifícios matam as pessoas, não os terremotos. Quando há muitos terremotos, a tendência é desenvolver melhores códigos de construção. Se você estiver em conformidade, seus edifícios tendem a falhar menos”, disse Raffaele De Risi, professor sênior da Escola de Engenharia Civil, Aeroespacial e de Design da Universidade de Bristol, ao diário The National News, dos Emirados Árabes Unidos, em entrevista a Folha de Pernambuco. 

As mortes podem ser evitadas por meio de planejamento de emergência, conscientização e a construção de edifícios que não colapsem durante um terremoto. De uma ponta à outra, o governo de Taiwan reforçou as leis de gestão de catástrofes, melhorou a coordenação para resgate e socorro e aplicou códigos de construção mais rigorosos para a resistência aos terremotos.

Mudanças climáticas podem impulsionar terremotos 

O clima na Terra está mudando muito rápido. Olhando mais para trás, entre 2000 e 2019, as geleiras do planeta perderam cerca de 267 bilhões de toneladas de gelo por ano. O derretimento das geleiras contribui para o aumento do nível do mar (atualmente subindo cerca de 3,3 mm por ano) e para outros perigos costeiros, como inundação e erosão.

Pesquisas sugerem que as mudanças climáticas podem causar problemas não apenas na superfície, como o aquecimento do planeta, o aumento dos níveis de chuva e o derretimento das geleiras, mas também podem exacerbar os perigos sob a superfície, como terremotos e erupções vulcânicas.

O sexto relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), em 2021, revelou que, na média, a chuva tem aumentado em muitas regiões do mundo desde 1950. Os geólogos identificaram uma correlação entre índices de chuva e atividade sísmica. Nos Himalaias, por exemplo,  48% dos terremotos acontecem durante os meses secos pré-monções (março, abril e maio), enquanto apenas 16% acontecem durante a temporada de monções.

Evidências encontradas na Escandinávia sugerem que esse “ajuste pós-glacial”, em combinação com a atividade das placas tectônicas da região, desencadeou diversos terremotos entre 11 mil e 7 mil anos atrás. Agora existe a preocupação de que o derretimento continuado de geleias hoje possa causar efeitos similares em outros locais.

Por que o Brasil não tem grandes terremotos?

É necessário saber que existem tremores de terra no Brasil. De acordo com Marcelo Assumpção, professor da Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Geofísica pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, em entrevista à National Geographic Brasil, explica: “O Nordeste é a região mais vulnerável. Em estados como o Ceará e Rio Grande do Norte, já ocorreram diversos tremores com magnitude 5 causando danos e até desabamentos em casas fracas.”

Uma consulta ao site do Centro de Sismologia da USP, que monitora a atividade sísmica do país, mostra que o Brasil teve tremores poucos dias antes do feriado da Independência. Em 4 de setembro de 2023, a cidade de Uauá, na Bahia, registrou abalos sísmicos de magnitude 2.2 e 2.3 no começo da manhã. 

No entanto, nem todo abalo sísmico é perceptível pela população ou destrutivo como os que atingiram Taiwan, Japão e Nova York no início deste mês de abril. A explicação está na localização do território brasileiro em relação às bordas das placas tectônicas. Isso porque terremotos são resultado do deslizamento e atrito entre essas placas.

“Os terremotos mais fortes ocorrem nas bordas das placas tectônicas. O Chile está ao longo do limite entre a placa oceânica de Nazca (parte do fundo oceânico do Pacífico) e a placa da América do Sul. Já o Brasil está no meio da placa Sul-Americana, longe das suas bordas”, explica Assumpção.

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