Pela primeira vez, a Disney e Pixar lançam um filme na plataforma digital antes de estrear nos cinemas, em pleno natal

Por Daniele Haller
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jornalismo, filme, cinema, soul, pixar, filme soul, mulheres jornalistas, Daniele HallerNão haveria época mais significativa para o lançamento de um filme como SOUL, uma produção que  aborda não apenas a morte, mas o que acontece antes e depois dela. Após a animação “Viva: A vida é uma festa”, a produtora traz, mais uma vez, a abordagem sobre o além-vida, com mensagens subliminares que podemos relacionar com doutrinas reencarnacionistas.

O filme traz a trajetória de Joe Gardner, um professor de música apaixonado por Jazz, mas que chegou à meia-idade sem realizar seu sonho de viver da música. Dando aulas em uma sala de alunos desmotivados, ele vive o dilema entre viver do que ama e se manter com o que consegue. Tal situação não está muito longe da realidade de muitos, que adorariam fazer da sua paixão a própria profissão e obter sucesso com isso. No entanto, em uma aventura regada de decepções e descobertas, o personagem descobre o que realmente importa entre viver e morrer.

Na primeira cena, Joe tenta ensinar aos seus alunos a música “Things Ain’t What They Used To Be”, um jazz de Mercer Ellington, filho do célebre pianista Duke Ellington. Assim como Mercer, Joe Gardner segue os passos do pai, que o apresentou o Jazz ainda na infância, quando Joe se apaixonou pela música e piano. Enquanto o pai o introduzia no mundo da música, já a sua mãe, dona de um ateliê de costura, o desencoraja a ganhar a vida como músico, até que um dia chega em suas mãos a grande oportunidade de realizar seu sonho.

Gardner recebe o convite para participar de um teste e tocar em um famoso quarteto de Jazz. Depois de ser aprovado no teste, ele finalmente irá realizar seu grande sonho de tocar com a famosa Dorothea Williams. Ocorre que a distração de Joe fez com que ele partisse antes de ter seu sonho realizado. Ao cair em um bueiro, o personagem entra em coma e inicia então a maior experiência de sua vida.

Após a queda, Joe acorda em um ambiente desconhecido e acredita ter morrido, no entanto, ele não aceita partir sem ter realizado seu sonho, sua missão. “É isso que vem depois da vida?”. Ele tenta fugir do caminho para o “além” e acaba caindo no setor de preparação para nascer na terra, o prévida. Ao chegar, Joe é confundido com um mentor e, para não ser enviado para o além-vida, ele se aproveita do engano para tentar retornar à terra.

Como mentor, ele recebe a tarefa de ajudar a alma número 22 a achar seu propósito e receber o selo que a permite nascer na terra, tarefa que ele acredita ser fácil, mas nem tanto. A pequena alma tem medo de viver na terra e já passou por vários mentores renomados, como Gandhi e Madre Teresa, no entanto, nenhum deles conseguiu cumprir sua missão, tarefa que Joe deve realizar.

Na determinação de retornar à terra e realizar seu sonho, Joe Gardner decide que irá ajudar a alma 22 e conseguirá, assim, retornar ao seu corpo. Depois de conhecer e viver várias experiências no mundo “pré-vida”, Joe consegue, acidentalmente, retornar à terra, mas não como ele esperava.

O filme vem carregado de mensagens que interligam nosso modo de viver e suas consequências, sobre o que a sociedade entende por missão de cada um, despertando no telespectador, reflexões sobre como encaramos nossas vidas. Certas cenas podem ser relacionadas a hábitos diários que acabam nos influenciando negativamente e não percebemos.

Do ponto de vista de quem parte dessa para outra, Joe Gardner, no caso, nos deparamos com inúmeros detalhes que nos remetem à espiritualidade. No plano além-vida, se descortinam mensagens impregnadas de significados, como a chegada de almas de diferentes nacionalidades ou etnias tendo o mesmo destino após a morte física, uma  demonstração clara sobre igualdade. A imagem da resignação demostrada no personagem de uma senhora de 106 anos que esperava ansiosamente por aquele momento, os trabalhadores do “plano espiritual” despojados de imagem
física, hierarquia ou nomes.

Do outro lado, durante o tempo que a alma 22 vive no corpo de Joe Gardner, ela experimenta sensações que nunca havia imaginado antes, detalhes corriqueiros como o prazer no paladar, os laços de amizade, laços sanguíneos, os pequenos prazeres da vida e o contato com a natureza.

Com delicadeza, os roteiristas Pete Docter, Mike Jones e Kemp Powers abordam não apenas a morte, mas a forma como lidamos com nossas vidas e o que entendemos como missão e propósito. Diante de um momento de insegurança e incertezas sobre o amanhã, Soul nos traz uma bela lição sobre valorizar o que somos e o que vivemos. Uma animação que, sem dúvidas, encanta o público infantil e emociona os adultos, do início até o final.