Sobre roupas e a fragilidade da masculinidade
Por Ana Luiza Timm Soares
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
“Masculinidade frágil explica como a masculinidade na verdade é um castelo de cartas muito bem elaborado e com muitos detalhes, mas facilmente derrubado com um sopro. A masculinidade é uma performance, assim como a feminilidade. Ninguém nasce com o ideal de macho no DNA, mas a sociedade torna os meninos protótipos de homens alfa, e nem todos conseguirão atingir esse grau”, diz o estudante de psicologia e influencer digital João Marques – @joaomarques.psi.
Essa frase explica muito sobre como algo que muitos consideram tão frugal – a Moda – tem o poder de abalar a construção do que chamamos de “ideal de masculinidade”, né? “No meu tempo não era assim… “Onde já se viu, homem de saias? O mundo está mesmo perdido” deve bradar o cidadão (de bem) ao se deparar com o perfil da marca @galosoltosaiasmasculinas no Instagram (aliás, achei o nome muito espirituoso).
O ator Billy Porter, referência em moda não-binária, sempre abala as estruturas nos eventos de premiação por onde passa. Criativo e engajado, ele encontrou na Moda uma ferramenta política para chamar a atenção para a luta pelos direitos da comunidade LGBTQIA+ (o ator recentemente criticou a edição mais esperada da Vogue por trazer o cantor Harry Styles de vestido na primeira capa com um homem como modelo, questionando a escolha pela falta de representatividade negra e LGBTQIA + da revista – com razão, a meu ver).
Homens adornados com peças que hoje fazem parte do closet feminino é uma prática bem mais antiga do que se pode imaginar. Não só as saias, como maquiagem, perucas, saltos e todas as cores do arco-íris já cobriram corpos masculinos ao longo da História.
Na indumentária de diferentes povos e em distintos períodos, podemos observar o uso de túnicas, togas e saias, por serem fáceis de fabricar e de vestir. Basta pesquisar um pouquinho as iconografias dos egípcios, gregos, romanos, astecas – entre outras civilizações pretéritas – para compreender esta afirmação.
Mas foi na sociedade de corte francesa, nos séculos XVII e XVIII, que o armário do homem aristocrata se torna ricamente adornado e voluptuoso, com o uso de saltos – quanto mais alto, mais poderoso aquele que o carregava. A utilização da cor vermelha também era um ponto importante nos calçados, sendo permitida somente aos nobres mais próximos ao rei. O rosa, por ser associado ao carmim, representava a força masculina, enquanto o azul era visto como mais delicado e feminino (olha a simbologia das cores aí de novo, gente! Só que ao contrário…).
Já as perucas foram popularizadas pelo jovem calvo Luís XIII e eternizadas pelas pinturas de seu sucessor, – o “Rei Sol” – bem como o uso de maquiagem e pintas postiças para ambos os sexos. Nenhum destes adornos colocava em xeque a virilidade de quem os vestia, pelo contrário: todos estavam associados a símbolos de poder e masculinidade.
A queda da monarquia francesa e o advento da sociedade industrial modificam completamente o padrão de vestuário formal masculino, e ele fica muito mais parecido com o que conhecemos hoje. Se anteriormente a ideia de Moda era primordialmente guiada pelo conceito de imitação, a derrocada do Antigo Regime e a perda do prestígio da nobreza culminaram na necessidade de diferenciação por parte da burguesia em ascensão.
O traje dos homens passa do exagero ostentatório e aristocrático à sisudez sóbria, linhas retas e tons neutros do producente capitalista. Em meados do século XIX, o poder era medido pela altura do cilindro da cartola: quanto maior o “efeito chaminé” do chapéu, mais rico seria seu portador.
Como no verão o que a gente mais quer são roupas confortáveis e fresquinhas para enfrentar o calor, esperamos que os meninos também consigam se libertar “dessa tal masculinidade” e também possam sentir “essa magia colorida”!
Beijos e até a próxima!