Por Daniele Haller
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Os dispositivos eletrônicos têm feito cada vez mais parte do nosso dia a dia, mas, infelizmente, o uso excessivo e incorreto destes aparelhos pode trazer graves consequências. Responder e-mails, utilizar aplicativos de mensagens e reuniões online são, atualmente, hábitos que fazem parte da rotina de muitos brasileiros, em especial após o surgimento da pandemia, onde muitos foram obrigados a trabalhar de casa. Essas práticas, no entanto, têm trazido consequências e gerado uma nova síndrome que, segundo a OMS (Organização Mundial de saúde), já é considerada uma epidemia mundial: a “Neck Text” ou “Pescoço de texto”.

Segundo o Neurocirurgião Dr. Rafael Albanez Andrade, membro titular da Sociedade brasileira de neurocirurgia, os primeiros sintomas geralmente são dores e/ou enrijecimento na região cervical após longos períodos de uso de smartphone, dores na região cervical, ombros e quadros de dor de cabeça. Ele explica como a doença se desenvolve:

“A síndrome do pescoço de texto acontece quando a pessoa faz uso ,por várias horas diárias, de celular. A dor é
decorrente do avanço e da flexão excessiva da cabeça. A cabeça na posição vertical causa uma força de cerca de 6kg sobre o pescoço. No entanto, na posição de flexão, a força exercida pela cabeça é de aproximadamente 27kg, o que sobrecarrega estruturas da coluna cervical como os discos intervertebrais e as articulações facetárias. Outras estruturas a sofrerem e que são fontes de dores, são os músculos do pescoço e da parte superior do tronco, alguns por ficarem encurtado e outros por ficarem esticados nessa posição”.

O diagnóstico é feito através de exame físico e análise da história clínica do paciente, portanto, é necessário consultar um especialista, alerta o neurocirurgião.

Com a chegada da pandemia, o aumento de uso de eletrônicos também alcançou outra parcela da população; crianças e jovens. Aulas online, tarefas escolares feitas em tablets ou
computadores, além do tempo de uso dos dispositivos para entretenimento. Todos esses fatores têm contribuído para que a geração mais jovem também sofra com tais sintomas e até mesmo tenham consequências a longo prazo.

Sobre os possíveis efeitos que esses hábitos podem causar na infância, Dr. Rafael Albanez alerta: “Sim, as crianças correm o risco de sofrer dores relacionadas ao uso desses aparelhos. Cada vez mais precocemente, a população pediátrica é exposta ao uso de aparelhos eletrônicos. Além da elevada intensidade em que são submetidas a tais estímulos, podem sofrer dos mesmos sintomas que a população adulta. Somado a isso, crianças são mais propensas pelo fato que elas têm a cabeça maior em relação ao corpo, quando comparadas aos adultos. Isso pode levar a um processo de degeneração das estruturas do pescoço precoce”.

Questionado sobre como os pais podem ajudar a diminuir tais consequências , ele diz: “Primeiramente, os pais devem limitar o uso de computadores, tablets e smartphones das crianças. Outras medidas que podem ajudar a diminuir as consequências são fazer pausas frequentes durante o uso–a cada 30 minutos, melhorar a postura deixando o mais natural, mantendo a cabeça mais alinhada e em posição neutra durante as atividades e durante o sono, através do uso de travesseiros ergonômicos”, conclui.

Apesar de parecer algo inevitável, pois tais hábitos têm se tornado cada vez mais rotina, a notícia boa é que existem tratamentos e métodos para aliviar os sintomas. Dr. Rafael define a síndrome do pescoço de texto como um conjunto de sinal e sintomas, portanto, deve der tratada de acordo com o sintoma apresentado pelo paciente: “Devemos sempre focar na prevenção do surgimento da síndrome. Mas quando instalada, devemos dar preferência a terapia física com programas que incluam o fortalecimento da musculatura cervical e aumento da flexibilidade e, algumas vezes, associado a terapia medicamentosa como medicações analgésicas comuns e/ou outras que devem ser avaliadas pelo médico especialista. Quando a dor é refratária a essas terapias, pode-se lançar mão de procedimentos como infiltrações em articulações cervicais, em pontos-gatilhos musculares (músculos em que pode ter pontos de espasmos), radiofrequência, quiropraxia”, completa.

No primeiro semestre de 2020, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o Brasil tem 134 milhões de usuários de internet. Dentro desse número, 99% utiliza smartphones ou dispositivos móveis para se conectar. Com relação à frequência de uso, 90% informou acessar a internet todos os dias.

Segundo a EBC(Agência Brasil), o acesso à internet pelo celular aumentou de 97% para 98,1% entre pessoas de 10 anos ou mais, do ano de 2017 até 2018. O uso do aparelho foi identificado tanto nas cidades(98,1%), como nas zonas rurais (97,9%).