Por Alexandra Costa, socióloga portuguesa
E-mail: internacionalgest@gmail.com
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Estava a pensar no tema da minha primeira crónica no Instituto Mulheres Jornalistas, parceria que muito me orgulha, dada a plena comunhão com os seus valores e princípios e, nada melhor do que escrever sobre a potencialidade de ser mulher no mundo e do longo caminho percorrido até aqui e o que ainda faltará desbravar.

O ser humano é único e ser mulher é mais ainda, sobretudo, numa sociedade que ainda reluz ímpectos de tempos antigos de cariz mais masculinizado.

A entrada no mundo de trabalho, na era industrial, redimensionou o papel social da mulher, deixou o seu papel eminentemente de “fada do lar”, cuidadora de marido e filhos, para se empoderar no mercado de trabalho onde se pode expressar livre e materialmente. Mas as coisas não aconteceram exactamente assim, pois agora, para além de inseridas no mercado de trabalho, ainda acumulam o papel de cuidadoras, esposas, mães, filhas e mulheres, este último, muitas vezes, é subjugado pois não sobra tempo.

É o batom, a reunião, o relatório, o supermercado, as fraldas, o sexo e o jantar, (ou jantar e depois o sexo, fica ao vosso critério). Tantos papéis sociais simbólicos que representamos no dia a dia e nem nos apercebemos do seu devido valor.

E existe uma certa conotação social, por vezes de índole pejorativa, sobre esses papéis, pois se a mulher dedica mais tempo à carreira, então certamente não será boa mãe, pois faltou à última reunião de pais da turminha do 4º ano, o célebre julgamento de que a generalidade das mulheres é alvo de forma recorrente.

Perspectiva sociológica

Segundo os manuais de Sociologia, o papel social relaciona-se com as funções e atividades exercidas pelo indivíduo em sociedade, principalmente ao desempenhar suas relações sociais ao viver em grupo. A vida social pressupõe um conjunto de expectativas, símbolos, crenças e comportamentos entre os indivíduos e destes consigo mesmos. Essas funções e esses padrões comportamentais variam conforme diversos fatores, como a origem, o país, faixa social, posição na divisão social do trabalho, grau de instrução, credo religioso e, principalmente, segundo o gênero.

Em Portugal, a promoção de um estatuto mais igualitário do papel da mulher na sociedade levou cerca de uma centena de anos, na passagem do século XIX para o século XX, a ser conseguido em resultado de intensos movimentos cívicos e sociais que perduraram no tempo, sobretudo, nas décadas de 60 e 70.

Poder-se-à dizer que o Dia Internacional da Mulher, implementado em 1975 na sociedade portuguesa, relembra a importância e o contributo indelével da mulher no mundo, bem como a necessidade de rever e actualizar condições de igualdade de gênero – uma construção evidentemente cultural – e condições de trabalho mais igualitárias e justas.

Recuando um pouco na História e, sob o signo da libertação,  há cerca de sensivelmente 100 anos, as mulheres deixaram de dever obediência ao marido, adquiriram o direito de voto, até então, exclusivo dos homens, tiveram a oportunidade de frequentar o ensino secundário e superior marcando uma nova etapa na vida das mulheres, incluindo a minha, pois nascida no ano de 1976 fui a primeira mulher na família, de origem humilde, a ter oportunidade de  frequentar o ensino superior na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, em Portugal, terminando o meu Curso de Sociologia em 2000.

Por isso, acredito que somos nós, mulheres, que estamos a construir uma nova era, muito mais criativa, atendendo às especificidades de cada individuo, livre e consciente de si mesmo, sem gênero que o aprisione ou limite, numa lógica de verdadeiro empoderamento social e humanitário.