Por Ana Joulie, Psicóloga especializada em patologias graves, fundadora e diretora clínica da Rede Internacional de Acompanhamento Terapêutico (RIAT) 

anajoulie@riat.app 

Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista  

Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista 

Falar sobre depressão se tornou uma questão comum, acessível e frequente, já perceberam? Vamos conversar um pouco a respeito, dando início a uma série de conversas sobre o assunto, para cuidarmos mais de nossa Saúde Mental.

Em tempos de pandemia, não existe conversa social que não envolva esse assunto, seja em conversas íntimas entre familiares, em debates do âmbito laboral, educacional, religioso, em grupos dos profissionais de saúde, grupos de pais, de adolescentes, de educadores do ensino fundamental, está em todas as classes sociais, não existe distinção. “Fulano está com depressão”, “Beltrano faz terapia para tratar o transtorno depressivo”, “Cuidado, pode ser depressão”, são frases que se tornaram comuns de serem ditas e ouvidas.

A depressão se tornou “comum” porque aumentou a demanda de pessoas que padecem desse tipo de transtorno do humor. O transtorno depressivo é conhecido como um sentimento de tristeza intenso que afeta o desempenho do indivíduo, interferindo na vida diária, nos recursos operativos que baixam e/ou anulam a capacidade de dormir, trabalhar, comer e ter prazer. É causada por uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos.

Para obter um diagnóstico de depressão, é necessária uma avaliação técnica, realizada por profissionais da saúde, especializados. De acordo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) e a Associação Psiquiátrica Americana (APA), o diagnóstico de depressão deve apresentar pelo menos cinco (5) dos nove (9) critérios listados a seguir. Os critérios observados devem estar presentes por pelo menos duas semanas, sendo que um deles deve ser, de forma obrigatória, humor deprimido ou perda de prazer nas atividades cotidianas.

Os critérios enumerados pela APA no DSM 5 são:

  1. Humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, conforme indicado por relato subjetivo (por exemplo: sente-se triste, vazio ou sem esperança) ou por observação feita por outra pessoa (Nota: em crianças e adolescentes, pode ser humor irritável).
  2. Acentuada diminuição de interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades na maior parte do dia, quase todos os dias (conforme indicado por relato subjetivo ou observação).
  3. Perda ou ganho significativo de peso sem estar fazendo dieta (por exemplo, mudança de mais de 5% do peso corporal em menos de um mês) ou redução ou aumento no apetite quase todos os dias. (Nota: em crianças, considerar o insucesso em obter o peso esperado).
  4. Insôniaou hipersonia quase diária.
  5. Agitação ou retardo psicomotor quase todos os dias.
  6. Fadiga ou perda de energia quase todos os dias.
  7. Sentimentos de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente autorrecriminação ou culpa por estar doente).
  8. Capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou indecisão quase todos os dias (por relato subjetivo ou observação feita por outra pessoa).
  9. Pensamentos recorrentes de morte (não somente medo de morrer), ideação suicida recorrente sem um plano específico, tentativa de suicídio ou plano específico para cometer suicídio.

Obs: qualquer diagnóstico dado sem fundamento técnico não é considerado transtorno ou doença. Por isso, mesmo que a depressão esteja mais conhecida e seja comum em nossa sociedade, podemos, por exemplo, sentir tristeza sem estarmos depressivos.

Pesquisas apontam que a depressão é um transtorno comum no mundo. São cerca de 300 milhões de pessoas que padecem desse transtorno. Recentemente, a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), realizou uma pesquisa que diz que o índice de pacientes com sintoma de depressão ultrapassa 90% na pandemia.

Por se tratar de um transtorno que afeta a saúde mental, e que muitas vezes se confunde com preguiça ou chamado de atenção, é importante conversar e discutir sobre a gravidade da depressão. A classe do transtorno é diferente das oscilações usuais de humor e das respostas emocionais que damos em nossa dinâmica cotidiana. A depressão altera a condição normal da pessoa, impossibilitando-a de ser produtiva, feliz, saudável. O sofrimento é intenso, gerando impacto nos aspectos sociais e funcionais da pessoa. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar a pessoa ao suicídio. A depressão mata.

A depressão insere a pessoa em um complexo de pensamentos distorcidos, sensações físicas irreais, perspectivas de sanidade falidas. Promove outros tipos de transtornos e precisa ser tratada de forma ampla, já que afeta a pessoa em vários aspectos. Consumo de drogas, transtornos alimentares, desajustes comportamentais são possíveis causas que podem desencadear a depressão também. Por isso, hoje vemos uma quantidade exorbitante de pessoas felizes nas redes sociais, que fora delas, são tidas como depressivas.

Como podemos observar, a depressão afeta massivamente a vida das pessoas e não é uma realidade isolada. Jamais foi tão fácil obter acesso aos serviços de saúde e nunca os meios de comunicação em massa se voltaram tanto para essa temática. Faz-se necessário tratar o tema de forma mais educativa, para evitar o crescimento já previsto de mais casos de depressão, ainda mais em isolamento, crise e pandemia.

Se conseguirmos mudar o cenário, se todos trabalharmos em prol da psicoeducação, certamente vamos ter melhorias no que diz respeito ao cuidado da saúde mental, evitando tantos transtornos mentais. Preste atenção ao redor, isso pode salvar vidas.