Saúde mental: Brasil é o 4º país mais estressado do mundo
Por Sara Café, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista
O Brasil foi classificado como o quarto país mais estressado do mundo, segundo um relatório da World Mental Health Day 2024, divulgado pelo Instituto Ipsos em 14 de outubro. A pesquisa foi conduzida entre 26 de julho e 09 de agosto de 2024 com a participação de 23 mil adultos entre 18 e 74 anos de 31 países. Para países como Brasil, Chile, Colômbia e outros, a amostra representou uma parcela mais urbana e conectada da população.
Esse aumento do estresse no Brasil pode estar ligado a fatores como a crise econômica e os efeitos da pandemia de COVID-19, que intensificaram as preocupações com a saúde mental nos últimos anos. A psicóloga Andreia Calçada destaca que o estresse elevado entre os brasileiros “está ligado a múltiplos fatores, incluindo as pressões econômicas e sociais, além do impacto emocional residual da pandemia.” Ela explica que a incerteza econômica é um fator muito significativo, pois gera uma sensação de insegurança constante, contribuindo para o aumento do estresse entre as pessoas.
Ainda segundo o relatório, 42% dos brasileiros disseram ter enfrentado mais de um episódio de estresse que prejudicou seu desempenho no trabalho no último ano, enquanto apenas 26% disseram não ter experimentado picos de estresse. A percepção sobre a importância da saúde mental também cresceu entre os brasileiros, com 54% apontando essa questão como a principal prioridade de saúde em 2024, um aumento significativo em relação aos 18% de 2018. Entre os países pesquisados, Chile, Suécia e Austrália também mostraram alta preocupação com a saúde mental de suas populações, com taxas superiores a 60%.
Já a psicóloga clínica Patrícia Cordeiro observa que o Brasil vive uma “crise silenciosa” de saúde mental, onde muitas pessoas ainda evitam buscar ajuda profissional por causa do estigma. “Ressalto a importância de práticas de autocuidado e apoio psicológico, estratégias como meditação, atividades físicas e terapia podem ajudar a reduzir a sobrecarga emocional e promover uma maior resiliência”, afirma.
O cenário global do estresse
No cenário global, 62% da população entrevistada relatou ter experimentado níveis de estresse que impactam sua vida diária pelo menos uma vez. Este dado mostra que a saúde mental é uma preocupação mundial, com países como Chile, Suécia e Austrália liderando a lista de preocupação, enquanto Brasil ocupa a nona posição.
A saúde mental também tem se tornado uma preocupação global. De acordo com o estudo, a saúde mental foi o maior problema relatado no Chile, com 69%, seguido da Suécia (68%) e Austrália, com 60%. O Brasil é o nono da lista, com 54% que concordam com essa afirmação. Os países que menos concordam são o México (25%), a Índia (26%) e o Japão (28%).
“A saúde mental ainda é a preocupação número um. Nosso último Relatório do Serviço de Saúde descobriu que 45% citam a saúde mental como um dos principais problemas de saúde enfrentados por sua nação. O câncer está em segundo lugar com 38% e o estresse segue com 31% mencionando-o em 31 países”, disse o Instituto Ipsos.
Impacto do estresse nas diferentes gerações
A pesquisa também revelou que 46% das mulheres da geração Z enfrentam impactos significativos em sua rotina devido ao estresse. Em contraste, apenas 33% dos homens dessa mesma geração relataram sentir os efeitos do estresse em suas rotinas. Essa diferença sugere que as mulheres podem estar lidando com pressões sociais e emocionais de maneira mais intensa, refletindo padrões de comportamento e expectativas de gênero que ainda persistem.
O estudo mostrou que a geração Millennial também sente o peso do estresse, com 37% relatando impactos na vida cotidiana e 22% afirmando que o estresse afetou suas capacidades de trabalho. A geração X apresentou percentuais ligeiramente menores, enquanto a geração Baby Boomer, nascida entre 1945 e 1964, relatou os níveis mais baixos de estresse, com apenas 25% das mulheres e 19% dos homens relatando impactos do estresse em sua rotina. Isso sugere uma maior resiliência ou diferentes expectativas em relação à vida cotidiana e ao trabalho.
Os sistemas de saúde parecem priorizar questões físicas
O público acredita que a ênfase pelos profissionais de saúde continua no corpo físico, 41% dizem que a saúde física é tratada como mais importante do que a saúde mental pelo sistema de saúde atual de seu país, 13% dizem que a saúde mental é tratada como mais importante e 31% dizem que ambas são tratadas igualmente.
Isso ocorre, em parte, porque problemas físicos muitas vezes são mais visíveis e têm sintomas que afetam diretamente a capacidade de trabalho e mobilidade, enquanto questões mentais podem passar despercebidas ou serem tratadas como secundárias. Essa visão tradicional de priorizar a saúde física gera um desequilíbrio na abordagem dos sistemas de saúde, que tendem a destinar menos recursos e infraestrutura ao atendimento de saúde mental, mesmo em situações de estresse e ansiedade amplamente relatadas.
Outro ponto destacado pela pesquisa é a dificuldade de acesso a tratamentos de saúde mental, algo que aumenta a sobrecarga emocional dos indivíduos. Fatores como estigma social e falta de políticas públicas efetivas para integrar o cuidado mental com o físico também reforçam essa disparidade. Para especialistas, uma mudança no sistema de saúde, com a implementação de políticas que considerem a saúde mental tão essencial quanto a física, é fundamental para reduzir os índices de estresse e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros.
Como melhorar a saúde mental, segundo a pesquisa
A pesquisa da Ipsos revelou que a saúde mental está entre as principais preocupações de brasileiros e especialistas destacam algumas estratégias para melhorar o bem-estar mental e reduzir o estresse:
- Acesso à terapia e apoio psicológico: buscar ajuda de um profissional de saúde mental é essencial, especialmente para lidar com o estresse crônico e a ansiedade. A psicóloga Patrícia Cordeiro enfatiza que a terapia ajuda a identificar fontes de estresse e desenvolver estratégias de enfrentamento.
- Práticas de autocuidado: Andreia Calçada sugere práticas diárias como meditação e exercícios físicos, que ajudam a reduzir o cortisol (hormônio do estresse) e promovem bem-estar. Essas atividades podem aliviar a tensão e melhorar a resiliência emocional.
- Limites com o uso de redes sociais: O uso intenso das redes sociais pode aumentar o estresse e a comparação social, especialmente entre jovens. Mônica Nogueira recomenda limitar o tempo online e focar em interações presenciais para reduzir a pressão e fortalecer laços reais.
- Apoio social e comunitário: manter uma rede de apoio, como amigos e familiares, é fundamental, contar com um grupo de confiança proporciona alívio emocional e ajuda a compartilhar dificuldades, algo que pode reduzir significativamente os níveis de estresse e ansiedade
- Políticas Públicas para saúde mental: especialistas também apontam a necessidade de políticas públicas que promovam o acesso à saúde mental e criem ambientes de trabalho saudáveis, onde o estresse possa ser gerido de forma adequada.