Giselle Cunha, Jornalista -SP

giselle.cunha@mulheresjornalistas.com

Chefe de Reportagem: Juliana Mônaco, Jornalista

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista

Como a reforma e mudança de conceito do BioParque do Rio influenciam na qualidade de vida dos animais que lá vivem

O antigo Jardim zoológico do Rio de Janeiro está de cara nova, agora se chama BioParque do Rio. Após dois anos de obra, finalmente o espaço fica pronto e mais de mil animais, de 140 espécies, podem se instalar na nova moradia. O projeto está inserido em uma área de 60 mil metros quadrados e, atualmente, conta com um tripé de conduta da instituição formado por: educação, pesquisa e conservação. Também fica evidente a ampliação das áreas de vivência dos animais, o trabalho de paisagismo e, principalmente, a retirada das grades que foram substituídas por enormes painéis de vidro, que dão um ar mais leve e feliz ao local.

Você sabe a diferença entre zoológico e Bioparque?

A principal diferença entre eles, basicamente, é que no Bioparque  os animais têm um estilo de vida livre, com o seu habitat natural reproduzido. Já no zoológico, os animais vindos de diversos lugares moram em cativeiros com grades e são vistos, principalmente, como atrações para as pessoas.

O Mulheres Jornalistas conversou com a Bióloga e guarda do parque, Izenita de Oliveira Barbosa Brum, que, antes de sua formação, atuou por 4 anos como estagiária do antigo Jardim zoológico.

Mulheres Jornalistas (MJ): Qual foi a importância dessa mudança de estrutura do zoológico para o Bioparque, especificamente para os animais?

Izenita Brum: Essa estrutura antiga sempre gerou polêmica, pois uns eram a favor e outros eram contra. Anos atrás, não havia uma legislação forte e, infelizmente, muitos achavam que o fato de disponibilizar comida e água já era o suficiente para manter o animal enjaulado. A exposição precisa ser feita de forma ética e responsável, pois existe sim a importância de as pessoas conhecerem a espécie, saber como ela se alimenta, como vive, mas sem que isso cause sofrimento para bichinhos. Muitos desses animais já têm um histórico de exploração e abuso, vieram de circos e passaram por diversos fatores que os levaram a ficar debilitados.

MJ: Uma das questões mais levantadas sobre o antigo zoológico era o fato de os animais apresentarem falha nos pêlos e aspecto de tristeza. Isso era observado pelos profissionais da instituição? Quais as possíveis causas para isso ocorrer?

Izenita Brum: Quando eu trabalhava na parte de educação, essa pergunta era bem comum. Também questionavam sobre os movimentos repetitivos (como balançar a cabeça). Devido ao histórico de exploração e sofrimento, que comentei anteriormente, muitos desenvolveram doenças crônicas, como o Urso Pardo, Zé Colméia, que foi resgatado de um circo onde usava uma coleira com um sininho que, ao mexer a cabeça, fazia barulho. Mesmo após anos do resgate, ele ainda repetia esse movimento e acreditava-se que, devido ao trauma, ele ainda reproduzia em sua mente aquele som.

São realizados uma série de trabalhos de enriquecimento e tratamentos para diminuir essas sequelas. Alguns conseguem passar pela reabilitação e se reestabelecer na natureza, mas outros não. Depende do tipo de sequela e condição física dos animais. Existem centros que avaliam essas condições como o CETAS (Centro de Triagem de Animais Silvestres) e o CRAS (Centro de reabilitação de Animais Silvestres).

Um fato que me chama muito atenção é a falta de conhecimento do público de como se comportar neste tipo de ambiente, pois a gritaria, a oferta de alimentos não permitidos, o arremesso de objetos para que o animal acorde ou mude de posição para uma foto são extremamente prejudiciais, já que também impactam na saúde dos animais, gerando estresse.

MJ: No mundo inteiro, observa-se essa estrutura de Bioparque. Qual o seu sentimento e expectativa para a novo formato no Rio?

Izenita Brum: O zoológico do Rio tem uma importância histórica, pois foi o primeiro zoológico do nosso país, inaugurado em janeiro de 1988, no bairro de Vila Isabel, e teve como idealizador Barão de Drummond, que era um empresário influente na época.

Essa mudança de estrutura mais ampla e natural é muito importante para a vida dos animais que habitam o local. O projeto do Bioparque se baseia nas experiências positivas existentes em outros países. A tendência é que, com o tempo, mais algumas alterações ocorram, pois é natural que haja uma fase de aprimoramento.

Esse tipo de instituição proporciona uma conscientização da população em preservar a biodiversidade, auxilia na conservação de espécies ameaçadas de extinção (como a Onça Pintada e a Arara Azul), colabora também para a pesquisa e educação de forma ética.

Entre as principais atrações do BioParque estão áreas como a Ilha dos Primatas, a Savana Africana, a Vila dos Répteis, o Jardim de Burle Marx e a Alameda Macaco Tião. O visitante pode ver de perto o leão Simba, o tigre William, a elefanta Koala e o casal de hipopótamos Bocão e Tim, além de araras azuis, jacarés-do-papo-amarelo e muitas outras espécies.

O BioParque foi dividido em áreas temáticas, incluindo:

  • Imersão Tropical – O passeio começa por esse espaço com mais de 40 espécies, em sua maioria aves como o
    Foto: Reprodução/Giselle Cunha

    tucano-do-bico-preto batizado de TucTuc. A área também é habitada por araras-azuis-grandes, araras-vermelhas e papagaios. Há também cutias, ouriços terrestres e bicho-preguiça.

Foto: Reprodução/Giselle Cunha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Vila dos répteis – Nesses ambientes abertos e cercados de vidro, estão os jacarés-de-papo-amarelo que convivem em harmonia com tartarugas-amazônicas e cágados. Cobras píton podem ser vistas no espaço que fica ao lado.

 

  • Jardim Burle Marx – Projetado pelo famoso paisagista brasileiro, o espaço foi totalmente revitalizado. É o lar de flamingos que passeiam pelas curvas do projeto paisagístico, esbanjando harmonia e elegância.
Foto: Reprodução/Site diariodorio.com

 

 

 

 

 

  • Reis da selva – O leão Simba e o tigre William poderão ser vistos nessa área, projetada para recriar de forma mais próxima possível seus locais de origem. Simba herdou em seu espaço parte do projeto arquitetônico assinado por Índio da Costa que, na década de 60, foi projetado para moradia dos ursos do Himalaia. A elefanta Koala recebe um novo espaço de cerca de 8 mil metros quadrados, dez vezes maior ao que vivia anteriormente.

 

 

 

 

 

  • Polinizadores – Trata-se de uma redoma de tela onde os visitantes poderão entrar e ter contato com pequenos insetos polinizadores e borboletas.

 

  • Ilha dos primatas – Neste espaço, vivem cinco espécies de pequenos primatas, entre eles o macaco-aranha-da-testa-branca, o cuxiú e o parauacu. Os animais ficam bem próximos aos visitantes, que poderão conferir essa interação passeando por dentro do espaço.

    Foto: Reprodução/Giselle Cunha

 

 

 

 

 

 

 

 

  • Fazendinha – Área em que as crianças conhecem a origem dos alimentos consumidos no dia a dia, como leite e ovos, além de ter a oportunidade de um contato próximo com os animais domésticos, como vacas, pôneis e cabras.
Foto: Reprodução/Giselle Cunha
  • Cerrado – Ali estão espécies como a ema, o tamanduá-bandeira, capivaras, catetos e antas. Em frente aos primatas, o casal de lobos-guarás e as irmãs orangotango ganharam recintos maiores, com mais espaço.

 

  • Savana africana – No fim do passeio, o espaço conta com cerca de 10 espécies que vivem naquele continente.
    Foto: Divulgação/Site BioParque

    Ele é cortado por um rio de 250 metros de extensão e uma passarela suspensa, que possibilita que os visitantes contemplem os animais, incluindo o casal de hipopótamos Bocão e Tim. Também existe um barco que passeia por todo o rio.

 

 

 

  • Alameda Macaco Tião – Essa área foi totalmente revitalizada. O nome foi dado em homenagem a esse primata muito famoso que viveu no antigo zoológico e era conhecido por atirar coisas nos visitantes.
Foto: Reprodução/rio.temporadacopacabana.com.br

Conheça também outros locais ao redor do mundo que adotaram esse conceito de Biopaque:

  1. San Diego/Califórnia (EUA)
  2. Pequim (China)
  3. Berlim (Alemanha)
  4. Toronto (Canadá)
  5. Taronga Zoo/Sydney (Austrália)
  6. Smithsonian Nationalzoological Park/Washington DC (EUA)
  7. NationalZoologicalGardensof South Africa/Pretória (África do Sul)
  8. Cingapura (Cingapura)
  9. Bronx Zoo/Nova York (EUA)
  10. Londres/Inglaterra