Luiza Esteves, Repórter do Rio de Janeiro
 
O jornalismo se transforma a cada geração de modo a adaptar-se às novas tecnologias e exigências do mercado. Atualmente, jornalismo não é mais sinônimo das tradicionais redações. A automatização e o inteligência artificial já fazem parte desse processo de reinvenção da comunicação.
 
Hoje em dia existem robôs que fazem a transcrição de gravações e eles já podem ser treinados para identificar determinadas palavras em declarações. Além disso, a tradução automática permitirá contratar melhores repórteres locais e traduzir o conteúdo.
 
Em relação às pautas, os computadores passam a procurar indícios de notícias nas redes sociais e perguntam ao jornalista se aquela informação poderia virar matéria. O uso dos computadores também viabiliza a publicação automática de milhares de textos em poucos minutos.
 
A Bloomberg News é uma empresa e agência de notícias americana de tecnologia e dados para o mercado financeiro que utiliza produção jornalística automatizada. Por meio do sistema Cyborg, a empresa decifra relatórios trimestrais de lucros da organização, ajudando os repórteres a produzir milhares de artigos.
 
Além da Bloomberg News, o jornal The Washington Post faz uso da inteligência artificial. O veículo conta com um “repórter robô” chamado Heliograf, que foi o responsável por cobrir os Jogos Olímpicos e as eleições de 2016 dos EUA.
 
A publicação gerada pelo robô atingiu a categoria de “Excelência em Uso de Bots” no Global Biggies Awards, premiação que reconhece a eficácia do uso do big data e da inteligência artificial. O uso dos “repórteres robôs” requer a implantação, nas redações, dos chamados softwares de Natural Language Generation (NLG), um subcampo da Inteligência Artificial.
 
A tecnologia também pode ser utilizada com o objetivo de combater as chamadas “Fake News”. A startup “Fabula.ai” utiliza o “deep learning” para detecção de “Fake News”, identificando o padrão de disseminação das notícias nas redes sociais. Esse sistema seria aplicado para qualquer idioma.
 
Há também o “Deepnews.ai”, feito pelo pesquisador francês Frederic Filoux, que pretende detectar jornalismo de valor agregado. O algoritmo analisa textos e gera um indicador de qualidade de 0 a 5. Após a identificação das matérias mais importantes a ideia seria oferecer produtos premium para ter acesso ao conteúdo ou escolher anúncios mais caros com base no indicador de qualidade.
 
Com base no cenário atual da comunicação, a jornalista Silvia Furtado defendeu a dissertação chamada “Cartografando o jornalismo automatizado: redes sociotécnicas e incertezas na redação de notícias por robôs”, no Programa de Pós-graduação em Comunicação Social. Ela analisou 3 veículos jornalísticos que fizeram uso do repórteres robôs nos EUA e na França.
 
“Com base nesses três casos, concluo que existe um ecossistema em formação, em que há atuação integrada de jornalistas, empreendedores, programadores, analistas de dados, softwares, algoritmos e bancos de dados”, avalia a autora.
 
Após todas essas transformações na comunicação, a insegurança em relação a oferta de emprego para repórteres se faz presente. Em uma época onde quase tudo é máquina e tempo é dinheiro, como contornar essa situação?
 
“Trata-se de uma estrutura muito mais complexa do que um conjunto de programadores de algoritmos automáticos. O método exige monitoramento e correção de erros, o que só pode ser feito por jornalistas especializados. Mas a dimensão humana que fica em evidência não é mais, de fato, aquela clássica, representada por um repórter com caneta e papel na mão, conversando com sua fonte”, analisa.
 
Assim como explica a pesquisadora, a transformação se dará apenas no modo como se faz jornalismo. Desse modo, a análise humanizada do fato e a sensibilidade do repórter serão sempre essenciais. Jornalismo precisa de uma olhar questionador da realidade e de se aproximar ao máximo da sociedade.