Respostas rasas e excesso de adjetivos no ChatGPT: como extrair o melhor da ferramenta
Lançado em novembro de 2022, o ChatGPT tornou-se assunto frequente em muitas das conversas do dia a dia, sendo que várias dúvidas envolvem seu uso e de que modo extrair o melhor dessa ferramenta. É nesse universo que se fala nos “prompts”. Apesar do nome estranho, aparentando ser algo super técnico, o prompt basicamente é uma frase utilizada para iniciar uma conversa com o modelo de linguagem. Pode ser uma pergunta, uma afirmação, uma palavra-chave ou qualquer outra informação que ajude essa tecnologia a entender qual é o tópico da conversa que será gerada.
Respostas rasas, excesso de adjetivos e ambiguidades são algumas críticas comuns de quem usa essa IA e, na qualidade de comandos específicos, que ajudam o ChatGPT a produzir respostas mais precisas e completas, os prompts são fundamentais para que se obtenha o conteúdo desejado. Conforme o professor da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador na área de inovação tecnológica aplicada à saúde, Dr. Paulo Henrique de Souza Bermejo, ao criar um prompt, é importante ser direto e objetivo. “Uma boa prática é incluir uma pergunta ou uma frase que indique claramente o tema. O ideal é não utilizar frases vagas, que possam gerar respostas imprecisas”, explanou. Vale destacar que as dicas aqui fornecidas pelo professor são úteis em qualquer interação com modelos de IA baseados em linguagem.
O professor acrescentou que os prompts devem ser escritos de forma mais natural possível, como se fosse uma conversa com outra pessoa. Dessa forma, o contexto será mais bem assimilado pelo ChatGPT, que entregará, assim, respostas corretas. Por outro lado, como explicou o docente, um prompt muito longo ou complexo pode confundir a máquina.
Segundo Bermejo, não existe fórmula mágica ou única na hora de elaborar um comando certeiro na ferramenta da OpenAI. “Mas há meios que vão auxiliar bastante, aprimorando a experiência. Uma boa ideia é explicar qual é o público-alvo que você deseja atingir com a resposta, o tom de linguagem que a IA deve seguir e se há alguma informação que ela precisa entender, exterior ao modelo que a abastece. Nesse caso, o usuário pode oferecer um texto de referência para que o chatbot produza um conteúdo de acordo com o esperado”, destacou.
Outra dica interessante dada pelo pesquisador é que nem sempre a IA traz o melhor resultado possível de primeira, mas isso não quer dizer que seja necessário refazer o prompt do zero. “É sempre bom ter em mente que a IA se baseia numa conversa, esse é o ponto de partida dela. Assim como em um diálogo real, a conversa deve seguir um tom. É preciso manter a coerência e procurar ajustar a linguagem ao seu interlocutor. Além disso, o prompt pode ir sendo refinado, através de novas mensagens na conversa. Desse modo, a IA utiliza as informações fornecidas anteriormente e reformula o material gerado. Então a pessoa pode iniciar com um prompt básico e adicionar mais detalhes ou ajustes à medida que testa os resultados”, disse.
Principalmente quem trabalha com conteúdo avalia negativamente a linguagem “floreada” que às vezes surge no chatbot. “Nesse caso, pode-se pedir clareza e concisão, uma linguagem mais polida e profissional, levando a respostas mais diretas e menos prolixas. O comando pode variar, por exemplo, pedindo um tom mais formal, informal, técnico, detalhado, acadêmico, entre outras sugestões. Dependendo do que se quer, outra indicação é solicitar que seja usado um vocabulário variado ou mesmo inserir um modelo de texto”, esclareceu. A versão paga do ChatGPT, aliás, possibilita que os usuários anexem arquivos (como imagens, textos, planilhas e códigos de programação como referência) a cada prompt.
Um problema adicional é que em alguns casos, o ChatGPT pode criar respostas fictícias ao invés de admitir desconhecimento a respeito de um tópico, conforme o professor. Isso acontece porque prompts que fazem perguntas excessivamente específicas, ou sobre temas muito incomuns, podem levar o modelo a “alucinar” informações, se ele não tiver dados suficientes, já que a ferramenta tenta sempre gerar uma resposta, mesmo não possuindo uma base sólida para isso.
Exemplos de prompts
Paulo endossou que o nível de profundidade e relevância das respostas está diretamente ligado ao conhecimento do usuário em relação à plataforma. “Quanto mais você souber acerca do que deseja e de como formular seus prompts, mais a resposta será eficiente”, enfatizou.
Noutras palavras: um prompt vago cria uma resposta superficial, enquanto um prompt bem definido pode gerar resultados surpreendentemente detalhados, com uma resposta customizada. A seguir alguns exemplos propostos pelo professor:
– Prompt genérico: “Me fale sobre marketing de conteúdo.”
Prompt claro: “Explique as melhores estratégias de marketing de conteúdo para médias empresas em 2024, levando em conta um orçamento limitado”.
– Prompt genérico: Quero melhorar o SEO do meu site de e-commerce
Prompt claro: Explique como posso melhorar o SEO do meu site de e-commerce de um jeito eficiente, sem precisar aumentar meu orçamento.
– Prompt genérico: Me dê ideias para uma campanha de lançamento de produto
Prompt claro: Forneça 10 ideias criativas para uma campanha de lançamento de produto, focada no Norte do Brasil, que combine marketing de conteúdo e marketing de influência, mas com um budget limitado.
Outras dicas
Paulo Bermejo pontuou que determinar o contexto também é muito útil para melhorar a qualidade das respostas. Desse modo, são dadas informações complementares que auxiliam o modelo a entender a situação em que a tarefa está inserida. Detalhes como público-alvo, ou outros que podem influenciar na resposta podem ser incluídos, como: “você está explicando para um aluno do ensino médio que não tem nenhum conhecimento prévio sobre ciência da computação”.
De acordo com o especialista, uma estratégia adicional é orientar o ChatGPT com formatações de resposta, do tipo “Liste os cinco maiores benefícios”, “Responda em três parágrafos”, “Forneça uma resposta longa”, ou qualquer outra forma específica de resposta.
Outro ponto válido é evitar instruções negativas, pois elas abrem margem para interpretações equivocadas do chatbot. “A ideia é enfatizar o que ele deve fazer. Por exemplo, ao invés de instruí-lo com a sentença ‘não escreva uma resposta longa’, é mais adequado orientá-lo com ‘responda de forma concisa e direta’”, revelou.
Por fim, Paulo alertou para a questão do viés, ou seja, que especialmente prompts que não foram bem formulados podem refletir tendências presentes nos dados de treinamento, resultando em respostas inadequadas, estereotipadas ou insensíveis a aspectos culturais, sociais ou políticos.