Por Karol Rodrigues, jornalista

Doutor em endocrinologia clínica Flavio Cadegiani explica quais hormônios são mais seguros e quais podem aumentar o risco da mulher desenvolver câncer de mama

O câncer de mama é o tipo de câncer que mais acomete mulheres em todo o mundo. São fatores de risco: a idade avançada, o excesso de peso, a genética, o histórico familiar e a exposição prolongada a hormônios femininos. No caso do uso de hormônios, uma pesquisa publicada em 2019 na revista científica The Lancet apontou que uma em cada 50 mulheres que fazem tratamentos hormonais durante cinco anos acaba desenvolvendo a doença.

O estudo revisou 58 estudos epidemiológicos que envolveram mais de 100 mil mulheres. Foi observada a incidência de tumores em mulheres na menopausa que usavam tratamentos de reposição hormonal em comparação com as que não usavam. De acordo com os resultados, uma em cada 50 mulheres com o peso na média que usaram a forma mais comum de reposição hormonal (estrogênio e progesterona) pelo período de cinco anos desenvolveu câncer de mama.

A pesquisa ainda revelou que o risco de surgimento desse tipo de câncer em mulheres de 50 a 69 anos que se submetem à reposição hormonal por mais de cinco anos é de 8,3%, contra 6,3% na população feminina em geral.

Hormônios naturais

Mas, afinal, existem tratamentos hormonais seguros? O doutor em endocrinologia clínica Flavio Cadegiani explica que é preciso observar caso a caso, mas que, em geral, hormônios como o estradiol e a progesterona, que são naturais, devem ser priorizados em vez de estrógeno e progestágenos, que são sintéticos.

Endocrinologista Flavio Cadegiani | Imagem: divulgação

“No caso da mulher que usa somente o estradiol na pós-menopausa, principalmente a mulher que não tem útero, por exemplo, não há aumento de risco. Já quando adiciona a progesterona, pode passar a aumentar um pouco”, diz Cadegiani.

Ele comenta que há no mercado um medicamento de reposição hormonal que “imita um pouco” o estradiol, a progesterona e a testosterona, além de se mostrar seguro como reposição: a Tibolona. “Mas, hoje, preferimos os hormônios naturais, que são os próprios hormônios iguais aos que nós produzimos.”

Histórico na família

Segundo Flavio Cadegiani, ter histórico de câncer na família não é mais uma contraindicação absoluta para tratamento de reposição hormonal pós-menopausa. “Só se forem vários casos na família ou se uma pesquisa genética mostrar algum gene alterado”, afirma.

“Para anticoncepcional, a mesma coisa: não é uma contraindicação absoluta. Mas, se tiver uma genética positiva, a gente contraindica”, completa o médico.

O endocrinologista finaliza pontuando que, seja qual for o tratamento, ele deve melhorar a qualidade de vida da mulher. “Então, a gente não pode também ignorar ou menosprezar as queixas da mulher na hora da indicação do medicamento. O ideal é fazer o acompanhamento com endocrinologista pelo menos anualmente e também com o ginecologista, para saber qual a melhor forma de tratar algo sem riscos à saúde da paciente”, conclui Cadegiani.

Prevenção

É importante lembrar que o câncer de mama não tem apenas uma causa, podendo decorrer de outros fatores além da questão hormonal, como tabagismo, obesidade e sedentarismo. Assim, a prevenção é sempre o melhor caminho.

A comunidade médica recomenda que todas as mulheres com mais de 50 anos de idade façam a mamografia periodicamente. Para mulheres com histórico familiar de câncer de mama, a orientação é que o exame seja feito a partir dos 35 anos, anualmente.