Racializando a Moda
Por Ana Luiza Timm Soares
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Ocorreu, na última semana, a edição N51 do São Paulo Fashion Week (SPFW), que novamente apresenta as coleções de marcas brazucas através de um evento 100% digital, em função da pandemia do coronavírus. Entre os novos nomes no line-up, estavam 8 marcas participantes do Projeto Sankofa, que tem como objetivo visibilizar o trabalho de jovens estilistas negros(as) e indígenas, escolhidos através de um processo seletivo gerido pela startup de inovação social VAMO – Vetor Afro-Indígena na Moda, em parceria com o coletivo Pretos na Moda.
Os selecionados receberam apoio profissional em suas mais diferentes formas – mentoria mercadológica, jurídica, contábil, em marketing, psicológica, entre outros – garantindo visibilidade ao trabalho destes criadores racializados. Cada um dos estilistas foi “amadrinhado” por uma marca já renomada no universo fashion nacional, e o resultado foi um show de talento e valorização das culturas negra e indígena no maior evento de Moda do país!
O Ateliê Mão de Mãe, por exemplo, apostou nas manualidades ressignificando o crochê em um trabalho belíssimo e repleto de alma. Idealizado por Vinícius Santana e sua mãe Luciene, o ateliê carrega o orgulho de suas raízes baianas.
Vídeo: Fashion film apresentado no SPFW N51
Já os irmãos Céu e Júlio Rocha, idealizadores da Meninos Rei, resgatam “a autoestima do povo preto, desconstruindo padrões e enaltecendo, com orgulho, nossa beleza através das roupas que vestimos” – palavras dos criadores na marca. Intitulada “Aos olhos de Exu”, a coleção traz uma explosão de cores e referências de estampas da Guiné-Bissau, mescladas com modelagens em alfaiataria e técnicas de patchwork, que recentemente apareceram em várias outras grifes mundo afora, provando que é possível aliar saberes ancestrais mantendo a autoralidade de cada estilista.
Vídeo: Fashion film apresentado no SPFW N51
Outras marcas do projeto são: AZ Marias, Mile Lab, Naya Violeta, Santa Resistência, Silvério, Ta Studios, todas com coleções-cápsula cheias de identidade e propósito.
Desde 2020, os organizadores do evento exigem que ao menos 50% dos modelos sejam negros, afrodescendentes ou indígenas; buscando mais diversidade nas passarelas. Nesse sentido, o Sankofa é mais um passo importante para a inclusão no SPFW, e um avanço para o evento que, em um passado recente foi palco de episódios tristes em impactantes de racismo – em 2017 Fióti (dono da marca Lab. Fantasma juntamente o irmão, o rapper Emicida) foi barrado por seguranças do evento em seu próprio desfile.
Que o vento da mudança siga soprando por aqui, e sucesso para os novos criadores!
Até a próxima!