Por Adriana Buarque, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista

A metrópole paulistana expõe inúmeros desafios para quem nela decide viver, entretanto, sobreviver numa cidade tão densa e ao mesmo tempo tão dura exige um empenho nem sempre recompensado. O desemprego e a consequente falta de moradia mostra que o contexto atinge cada vez mais a população, fazendo com que a sociedade civil procure soluções para estancar um quadro que insiste em aumentar.

Com um trabalho voltado para pessoas em situação de rua, a ONG ABCP não apenas ampara mas também procura reinserir no mercado de trabalho quem busca reconstruir seus laços profissionais. Fundada em 2007, atua na promoção da reintegração social por intermédio do resgate da dignidade e da autonomia, além da ampliação de visão de mundo para crianças e adolescentes da periferia de São Paulo.

A seguir, trechos da entrevista em que a organização apresenta suas atividades.

IMJ: Qual a média mensal de pessoas em situação de rua que buscam a ABCP?

ABCP: Varia bastante. Atendemos cerca de 300 pessoas por semana em nossa busca ativa nas ruas. Recebemos mais de 100 indivíduos semanalmente por procura espontânea.

IMJ: Qual o perfil delas?

ABCP: O público em situação de rua é vasto em termos de comportamento e perfil. Atendemos os mais diversos gêneros, idade, escolaridade, credos, raça, por exemplo. Existem os que estão na rua há décadas porque assim o preferiram, bem como os que estão na rua há meses, por motivos como uso de drogas lícitas ou ilícitas ou brigas familiares – vale dizer que esses dois motivos são os maiores para levar uma pessoa para a situação de rua em SP, de acordo com a SMADS. Por esse público ser um extrato da sociedade em si, a diversidade é imensa.

IMJ: Quantas efetivamente querem sair das ruas?

ABCP: Por volta de 92%.

IMJ: Por quais processos elas atravessam para serem reintegradas na sociedade?

ABCP: Temos uma metodologia criada, prototipada e validada pela ABCP nos últimos anos chamadas 4 A’s, que é um programa de longo prazo que visa o atendimento integral do indivíduo, sua autonomia e reinserção produtiva e social.

Ele é dividido em Abordagem, Acolhimento, Acompanhamento e Autonomia. Cada uma das etapas tem sua estrutura, metodologia, equipe, parceiros e projetos próprios. Elas são definidas de acordo com as dores, ameaças e oportunidades de cada acolhido em seu atual capítulo de vida.

IMJ: Quais atividades ou nichos de mercado absorvem esse grupo?

ABCP: Já reinserimos profissionalmente e socialmente desde artistas plásticos a jornalistas. A nossa maior fatia é para o setor de construção civil, por isso parcerias com empresas são tão importantes. Além de serem um excelente canal para nosso programa, elas ainda apoiam indiretamente o impacto social da cidade de São Paulo. Temos parceiros como a Cyrela e ps4, por exemplo.

IMJ: Os reintegrados também procuram voltar aos estudos?

ABCP: Sim. Uma das nossas condições para avanço em nossas etapas é a elevação de escolaridade, seja a educação formal ou específica. Para isso temos parceiros como o Mackenzie, SEBRAE e SENAI.

IMJ: Para finalizar, numa cidade tão complexa como São Paulo, o que poderia contribuir para atenuar ou até mesmo reverter o quadro de pobreza social?

ABCP: Acreditamos que, além da atuação na causa que promove o crescimento desse público, é necessário um programa como o da ABCP que seja personalizável, focado na experiência do atendido e a longo prazo (temos alguns casos de acompanhamento bem-sucedido que acontecem há mais de três anos).