A internet tem impulsionado a participação feminina no mercado das HQs

Por Giulia Ghigonetto, Jornalista-SP
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Chefe de Reportagem: Juliana Mônaco

Editora Chefe: Letícia Fagundes, Jornalista- RS

O que a Mulher-Maravilha, Betty Cooper, Monica Rambeau, Sailor Moon, Capitã Marvel e Jean Grey têm em comum? Além de serem mulheres, elas nasceram na ponta do lápis. Essas e muitos outros personagens vieram das histórias em quadrinhos que conquistaram milhares de fãs ao longo dos anos. 

As HQs foram criadas por homens e logo foram taxadas como “coisa de menino”. “Simplesmente não havia nada do gênero para meninas depois da infância. As garotas liam romances, foto-novela”, explica a jornalista e pesquisadora, Sônia Luyten, pioneira no estudo de histórias em quadrinhos no Brasil. “Continuei a ler quadrinhos de ‘menino’ com temas variados, como ficção científica, aventuras na selva, na Idade Média e meu mundo era povoado de heróis masculinos por falta de uma visão editorial que não publicava histórias de interesse para adolescentes mulheres”, complementa. 

Homenagem do HQMix para Sonia, com Jal, Gualberto e Daniela

Seu interesse pelo gênero veio da infância e se intensificou enquanto estava na faculdade. Logo, ela assumiu o lugar de uma colega na tradução de tirinhas do Jornal da Tarde (do grupo do Estadão). Mais tarde, a convite de seu ex-professor, José Marques de Melo, começou a dar aulas de Editoração das Histórias em Quadrinhos, na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), um curso pioneiro na área. 

Para ela, o interesse feminino pelas HQs veio com a popularização dos mangás e animês no Brasil. “Eles formaram novos leitores, principalmente do sexo feminino. A editoração dos quadrinhos japoneses tem uma forma específica dividindo mangás para crianças, adolescentes masculinos e femininos, adultos (homens e mulheres), idosos e todas as variantes homossexuais”, conta. Desse modo, garotas do mundo todo se identificam com as heroínas em histórias de romance, do dia a dia e da escola, por exemplo.

Segundo uma pesquisa feita recentemente pela startup de marketing digital Zygon, com base em dados de navegação online, o número de mulheres interessadas em quadrinhos supera em 6% o de homens. Não demorou muito para que elas fossem de leitoras para quadrinistas, principalmente com a ajuda da internet, onde passaram a divulgar seus trabalhos e se reunir em grupos, uma vez que o mercado editorial brasileiro apresenta muita dificuldade. “As editoras, em geral, não aceitavam trabalhos de principiantes ou originais de livros com assunto que não estivesse na linha deles”, comenta a professora, que também lecionou no Japão. 

De acordo com ela, a grande revolução na área editorial foram as plataformas de financiamento. Para as pequenas e médias editoras e artistas independentes, elas foram uma solução viável para publicar quadrinhos. Dessa forma, se obteve uma presença feminina benéfica desenhando, publicando e fazendo pesquisas sobre o assunto. Através de suas histórias, se teve uma nova visão de mundo, a partir da perspectiva feminina. Luyten aponta que “elas falam de si, de seus problemas, seus relacionamentos, suas alegrias e traumas que enfrentaram”.

Entre alguns nomes, a jornalista destaca o de Nair de Teffé, a primeira mulher caricaturista do mundo e primeira-dama do Brasil de 1913 a 1914, esposa do marechal Hermes da Fonseca; e de Dani Marino e Laluña Machado, que juntas lançaram em 2019 o livro “Mulheres e Quadrinhos”, dando espaço em suas 500 páginas para 120 mulheres ligadas as HQs, desde ilustradoras, coloristas, desenhistas. 

Também não se pode esquecer da famosa quadrinista Laerte, além de Adriana Melo, que, em 2019, foi uma das vencedoras do Prêmio Eisner, entregue durante a San Diego Comic-Con. No cenário internacional, Marjane Satrapi foi responsável pelo sucesso francês “Persépolis” (2000), que, em 2007, foi adaptado para uma animação dirigida pela autora e dublada por Catherine Denueve, Chiara Mastroianni, Sean Penn, entre outros. 

Não há dúvida que só se pode ganhar com a participação feminina nas HQs, que trazem histórias mais plurais, rompendo com a representação da mulher vinda por meio do olhar masculino.