Por Maria Cristina da Silva, jornalista

Obra aborda o desamor parental como uma modalidade de violência e será lançada no dia 1º de novembro, na Livraria da Travessa, em Ipanema

Desde cedo aprendemos que a família é o bem mais precioso. Os pais costumam ser as primeiras referências de valores e são muito importantes para o desenvolvimento dos filhos. Portanto, é fundamental que essa relação seja saudável. Mas, infelizmente, isso não é sempre possível. A psicanalista Patrícia Serfaty pesquisou a experiência traumática das crianças devido à incapacidade parental de fazer com que elas se sintam amadas e escreveu o livro “Pais gentilmente narcisistas: A violência silenciosa do desamor”, publicado pela editora Appris. Aberto ao público, o lançamento será no dia 1º de novembro, às 19h, na Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio de Janeiro.

 

Dividido em quatro capítulos, a obra aborda a perversão narcísica, a experiência subjetiva da maternidade e da paternidade, a violência moral, a vivência na indiferença e as suas implicações. A peculiaridade dos genitores gentilmente narcisistas é que eles exercem violência no registro da indiferença. Eles não são violentos porque batem, agridem ou usam palavras hostis, mas porque não manifestam real interesse por seus filhos. Trata-se de uma rejeição afetiva em que é feito um apagamento silencioso do filho. “O que me motivou a estudar este tema foi a característica de invisibilidade dessa modalidade de violência, sendo difícil de perceber tanto pela própria criança como pelo entorno. O objetivo deste trabalho é fazer compreender o desamor como uma modalidade de violência que se refere a um sistema de destruição”, explica a autora, que é Mestra em Teoria Psicanalítica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Também Mestra em Liderança e Psicanálise pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Patrícia conta que os pais narcisistas costumam fazer de seus filhos suas extensões, assim, não podem contrariar o roteiro de vida programado por eles. “Eles são perversos porque  precisam alimentar para si a imagem de que são bons pais. Em termos gerais, podemos dizer que há uma distorção dos fatos. O pai ou mãe injeta culpa no filho, fazendo-o sentir-se responsável por seu mal-estar. Há uma manipulação para gerar um sentimento de gratidão inesgotável em que ele será eternamente devedor. Este tipo de comportamento faz com que os filhos cresçam frustrados e sem confiança, sentindo que nunca serão suficientemente bons perante o roteiro que foi idealizado pelos pais”, explica.

O livro também fala do processo de identificação desse tipo de genitores. Como existem gradações de violência não há uma forma de como apresentar esse limite saudável. Em alguns casos será o distanciamento definitivo. “O apagamento do eu se do filho de pais narcisista se dá através de um processo silencioso e imperceptível. A indiferença experimentada por esses eles consiste em uma modalidade de abuso que esvazia, desvitaliza e debilita a criança psiquicamente. Provavelmente, um dos maiores desafios seja conseguir se afastar e estabelecer uma distância segura.  É importante sair do lugar que gerou o trauma para iniciar o processo de cura. Se sua relação com seus genitores não é sadia, você não precisa sentir culpa em não conviver com eles. Há meios de preencher a vida com amor e carinho longe.

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