Por Mayara Medeiros, jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Daniele Silva Rocha palestrou ao público do IFSP, em Itapetininga/ SP

No início de novembro, ainda em alusão ao mês da inclusão (setembro), a professora da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba, Me. Daniele Silva Rocha, palestrou sobre “Os desafios e as experiências do aluno surdo”. A palestra ocorreu no Instituto Federal de São Paulo, campus Itapetininga, como parceria entre as instituições federais.

Diante de uma sala lotada, a doutoranda e professora universitária falou, principalmente, sobre os tabus que permeiam a verdadeira inclusão de alunos surdos, do nascimento à universidade. Daniela nasceu surda e explanou o tema com bastante propriedade. “É importante priorizar uma comunicação entre toda a sociedade, a comunidade surda e ouvintes, mas que haja essa socialização, inclusive cultural”, disse. “Até quando nós, surdos, vamos esperar que os ouvintes aprendam Libras?!”, questionou.

A professora enfatizou que a inclusão da pessoa surda em todas as esferas da sociedade não se dá somente ao conhecimento da Libras (Língua Brasileira de Sinais), mas sob questões culturais, por exemplo. Segundo ela, quem direcionará a maneira com que essa comunicação e interação será conduzida é o surdo ou surda com quem dialoga. “Pode ser que ele [surdo] se comunique em Libras, ou Português-sinalizado, ou gestos, ou escrita, ou fala pausada. Ou seja, da maneira que lhe foi ensinado. Culturalmente ensinado. Enfim, ele demonstrará”, explicou Daniela.

Por que não LIBRAS?

De acordo com levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referente ao ano de 2022, no Brasil são mais de 10 milhões de brasileiros surdos, mas nem todos se comunicam em Libras. “A Libras é reconhecida por Lei [Lei nº 10.436/ 2002], mas muito pouco implantada”, pontuou a doutoranda. De fato a Lei não é cumprida e em serviços básicos, inclusive públicos, não tem a presença do tradutor e intérprete de Libras, também previsto em Lei. Esse descumprimento apenas mostra de maneira clara como o país tem agido referente aos surdos ao longo de décadas.

No Brasil, nem mesmo a educação básica prevê o estudo da Língua Brasileira de Sinais e a presença de intérpretes e tradutores em instituições de ensino pública e privada é pouco ou nada, o que necessita ser pautado por toda a sociedade brasileira.

Representatividade sim!

As escolas, em grande parte da esfera pública, têm se colocado à disposição de escolas técnicas e Institutos a fim de fomentar parcerias para o incentivo à ingressão de discentes com algum tipo de necessidades específicas.

O número de matriculados no ensino superior ainda é pouco, segundo dados da última divulgação em 2019 do Censo da Educação Superior, sobre o ingresso e permanência de estudantes com deficiência, houve um aumento de 113% no número de alunos com deficiência matriculados em cursos de graduação entre 2009 e 2018. Deficiências físicas são as mais frequentes, seguidas de baixa visão, deficiência auditiva, deficiência intelectual, cegueira e surdez

Ao final da palestra foi aberto espaço para perguntas da plateia à palestrante, com auxílio de duas intérpretes. Na oportunidade, a adolescente Brenda Matias, de 15 anos, também surda, foi a frente, próximo a Daniele, para fazer sua pergunta em Libras. A jovem perguntou como ela [Brenda] poderia criar uma rotina de estudos, pois tem muita dificuldade em matemática. Daniele riu e disse que sempre teve muita dificuldade em cálculos, também. “Minha mãe e meu irmão foram uma forte rede de apoio, me ajudavam com as tarefas da escola e em tudo. Foi com esse alicerce que cheguei onde estou hoje”, concluiu a doutoranda Daniele Silva.

Brenda foi uma das duas surdas que se candidataram ao processo seletivo 2024 para ensino médio integrado no Instituto Federal. Ambas vêm da escola pública do Estado de São Paulo e ambas passaram através da Lei de Cotas para Pessoas com Deficiências.