Pesquisa expõe a rotina de assédio sexual a mulheres jornalistas
“Na primeira redação em que trabalhei, tinha um âncora que agarrava as jornalistas na redação. E todo mundo ria. Uma vez eu estava sentada e ele veio me incomodar… e lambeu minha orelha. O-cara-lambeu-minha-orelha. E as pessoas riam. E os chefes viam. E riam.”
— Maria*, trabalha como jornalista há 10 anos
A pesquisa “Mulheres no Jornalismo Brasileiro” promoveu grupos focais em quatro capitais – Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e São Paulo – com 42 jornalistas, que abordaram as principais questões em relação à desigualdade entre mulheres e homens no jornalismo a partir de suas próprias experiências. Estas conversas serviram como base para a elaboração de um questionário online, respondido por 531 jornalistas em todo o Brasil, das quais 477 responderam ao perfil solicitado pela pesquisa – funcionárias de veículos jornalísticos – e foram consideradas para a consolidação dos resultados. Um dos temas mais presentes no debate público nos últimos anos têm sido o assédio sexual de homens contra mulheres, e este tipo de abuso contra jornalistas no exercício do trabalho também tem sido cada vez mais repudiado publicamente por muitas profissionais.
“Acho que o fato de eu ser mulher dava ao chefe mais ‘poder’. A impressão que tenho é que ele dominava e manipulava bem as relações com mulheres. Claramente ele não gostava de ser peitado por ninguém, mas ele não usava a mesma ‘psicologia’ com os homens. Se peitado por um dos meninos da redação, a coisa parecia ficar em um patamar de igualdade. Se peitado por uma mulher, fazia a vida dela um inferno.”
— Joana*, trabalhou como jornalista durante 7 anos
Na pesquisa, 70,4% das respondentes disseram já ter sido alvo de abordagens de homens durante o exercício da profissão que as deixaram desconfortáveis.Além do assédio sexual por parte de fontes e colegas e da violência psicológica, as jornalistas com frequência também têm que enfrentar a discriminação sexista dentro da redação em relação a seu trabalho, como relataram 86,4% das participantes da pesquisa. Para Garcia, este tipo de discriminação não pode ser dissociado de uma cultura de assédio moral nas redações. “As empresas ainda não entenderam que o sujeito que está exposto a isso não é a pessoa jurídica [da empresa], é a pessoa física”, afirma. “O assédio afeta psicologicamente a pessoa [que é alvo], é uma questão de saúde também, não apenas um debate sobre gênero e condições de trabalho.”
Fonte: generonumero