Para onde vai o ódio nos gramados?
Por Adriana Buarque, jornalista
Email: adriana.buarque@mulheresjornalistas.com
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Navegando na internet, me deparei com um curso que acabou inspirando o título da coluna. Ainda que o sentimento venha de forma descontrolada, o desenrolar – e a origem, por quê não? – das ações geradas pela ira merecem ser analisadas. Sim, é necessário ver os desdobramentos para ter consciência e tomar uma atitude efetiva a fim de, quem sabe, poder chegar à raiz do problema, além do que é um tema interessante para ser abordado hoje em que é comemorado o Dia do Futebol.
A violência das torcidas organizadas ao redor do mundo, por exemplo, não é novidade. Este mês as manchetes estamparam a morte da torcedora palmeirense Gabriela Anielli, 23, atingida por estilhaços de garrafa de vidro durante a confusão entre torcedores do clube paulista e do Flamengo. Uma outra face da agressão se apresentou como racismo nos gramados há pouco tempo: o caso do jogador Vini Jr. do Valência espanhol, em que a torcida o chamava de “macaco”.
Com novo formato, a Copa do Mundo Feminina deste ano começa amanhã diretamente da Austrália e da Nova Zelândia. O avião que levou a seleção brasileira fez uma homenagem em apoio às mulheres iranianas: de um lado da cauda da aeronave estava a imagem de Mahsa Amine, 22, acusada de infringir a lei de vestimenta feminina ao deixar uma mecha de cabelo aparecer sob o hijab e morta após ser detida pela polícia da moralidade de Teerã; de outro, o jogador iraniano Amir Nasr Azadani, condenado a 26 anos de prisão por seu posicionamento perante às manifestações contra a tragédia ocorrida.
Frases como “nenhuma mulher deve ser morta por não cobrir sua cabeça”, “nenhuma mulher deve ser forçada a cobrir sua cabeça” e “nenhum homem deve ser enforcado por dizer isso” foram utilizadas no Boeing 787. O público feminino iraniano não pode assistir às partidas de futebol em estádios locais.
Os protestos contra para o abuso de direitos humanos no Irã foram constantes durante a Copa do Mundo ano passado no Qatar. O evento foi uma das poucas oportunidades em que as mulheres puderam comparecer e fizeram valer sua voz ao se manifestarem nas arquibancadas. No entanto, a FIFA avisou que durante o torneio na Oceania irá banir qualquer material de natureza política.
Por outro lado, iniciativas para estabelecer a paz entre torcidas são bem- vindas. No início do ano, o artilheiro português Cristiano Ronaldo, atualmente jogador pelo Al Nassr Football Club da Arábia Saudita, foi sondado para promover a normalização das relações entre os Emirados e Israel nos gramados. Uma ideia bastante pertinente representando um imbróglio que se arrasta por milênios.
Poderia enumerar mais casos envolvendo violência ligada ao futebol: agressão a narradora de partidas, misoginia em relação a jogadoras e tantos outros. A hostilidade no esporte criado por Charles Miller ironicamente remonta aos hooligans ingleses, com a morte de 39 pessoas durante o jogo do Liverpool contra os italianos do Juventus em 1985, por exemplo.
O uso da força física e o constrangimento psíquico gera um ambiente em que o espírito competitivo perde seu sentido – inclusive resta saber se o espírito bélico no ambiente desportivo continuará pairando sobre o público e os atletas. Como diria Naná Vasconcelos em “Futebol”: “não deixe o futebol perder a dança”.