Coluna Opinião, por Letícia Fagundes Jornalista

A vitória de “Ainda Estou Aqui” como melhor filme no Oscar é um momento histórico para o Brasil e para a América Latina. Em um país onde a cultura é constantemente sufocada pela falta de incentivo, um prêmio dessa magnitude serve como prova do nosso talento e da nossa resiliência. Agora, se o Oscar tem o poder de premiar grandes histórias, também tem o hábito de reforçar padrões problemáticos.

A categoria de melhor atriz deste ano escancara uma questão incômoda: por que, quando o tema envolve violência e nudez feminina, a escolha recai sobre atrizes jovens? Demi Moore trouxe uma crítica afiada ao etarismo, Fernanda Torres interpretou uma mulher madura com profundidade e ambas foram preteridas por Mikey Madison, de 25 anos. Não se trata de negar o talento da vencedora, mas de questionar o que está sendo premiado. Quando mulheres maduras protagonizam narrativas densas e impactantes, por que suas performances não recebem o mesmo reconhecimento?

Há uma linha tênue entre retratar a violência contra a mulher e explorá-la de forma fetichizada. Hollywood, com sua longa história de objetificação feminina, ainda se beneficia dessa ambiguidade com seu padrão? Filmes que escancaram o sofrimento feminino costumam ser celebrados, mas será que é pelo impacto da mensagem ou pelo prazer subliminar que certas cenas proporcionam? A violência contra a mulher só choca quando serve a um propósito específico ou tem alguéns vendo um tanto de pornografia em sofrimento feminino?

A indústria precisa parar de tratar atrizes como descartáveis à medida que amadurecem. A experiência, a bagagem e a complexidade que atrizes como Demi Moore e Fernanda Torres trazem para a tela não podem ser menosprezadas. Mikey Madison pode ter uma carreira brilhante pela frente, mas justiça não é sobre quem ainda pode ganhar — é sobre reconhecer quem já entregou atuações inquestionáveis. E nesse ano, ficou claro que o critério da Academia ainda segue um roteiro previsível e problemático, o de corpos femininos jovens e nus.