Por Daniele Haller, Jornalista – Alemanha 
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Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista  
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista 

Venda de conteúdo adulto se torna segunda via de renda para artistas famosos ou independentes nas redes, mas falha no controle de idade e expõe jovens e crianças

Inicialmente, a plataforma OnlyFans foi criada para a venda de conteúdo exclusivo de artistas ou influenciadores digitais cadastrados no site, que comercializam seu material audiovisual ou escrito. Apesar de não ter sido criado exclusivamente para comercialização de material adulto, o OnlyFans passou a ter a pornografia como o conteúdo mais buscado, em especial na pandemia, em que inúmeras pessoas passaram a vender conteúdo privado em troca de pagamento.

Com acesso através de site ou aplicativo, ainda não disponível no Brasil, os usuários podem se cadastrar de forma gratuita ou por assinatura. O acesso grátis tem determinadas restrições, mas, como assinante, a pessoa pode ter acesso a material exclusivo de diferentes artistas ou influenciadores, pagando valores que podem variar de US$5 até US$50. O preço do conteúdo pode ser definido pelo próprio criador, além do tipo de assinatura que o seguidor escolheu. Isso vale para os criadores, que necessitam realizar um cadastro comprovando sua identidade. Para utilizar a plataforma, os criadores de conteúdo precisam pagar 20% dos seus ganhos ao OnlyFans, recebendo o total de 80% do lucro.

Com uma interface bem similar a outras redes sociais, como o Facebook, e mais de 120 milhões de usuários (número que cresceu na pandemia), a plataforma tem mostrado algumas falhas em questão de mecanismo de controle no acesso de distribuição de conteúdo por menores de idade. Segundo uma matéria publicada pela BBC News, no final de maio desse ano, a polícia britânica confirmou casos de jovens de até 14 anos que conseguiram burlar o sistema de verificação de idade para postar material na rede. Apesar de exigir que os criadores façam uma foto ao lado de sua identidade na hora de se cadastrar no site, o sistema de verificação ainda não é 100% eficaz.

Além da preocupação com o alcance desse tipo de conteúdo por parte dos menores de idade, existem questões mais profundas, como a exploração desses adolescentes, até mesmo o aumento de casos de crianças desaparecidas, como é citado na matéria da BBC News. De acordo com o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas (NCMEC) dos EUA, o número de jovens desaparecidos triplicou desde 2019, casos ligados a conteúdos disponíveis na plataforma OnlyFans, o que levanta a suspeita de que por trás da criação desse material pode haver exploração sexual e tráfico de menores.

Prostituição na pandemia

Com as dificuldades financeiras que chegaram com a pandemia, muitas mulheres viram a venda de material pornográfico como uma forma de se manter. Para alguns, o início de um mundo ainda desconhecido, para outras, uma forma de continuar seu trabalho de maneira virtual, já que as medidas de prevenção impediram que muitas pudessem continuar trabalhando nas ruas. Com a venda de conteúdo adulto, os criadores podem ganhar dinheiro por três formas: através da assinatura mensal, na qual o seguidor tem acesso a todo o conteúdo; oferecendo o material com um valor específico; ou receber por gorjetas, forma por meio da qual o conteúdo é postado gratuitamente e as pessoas podem depositar gorjetas por isso.

A venda desse conteúdo explícito tem levantado questões se essa prática pode ser considerada ou não como prostituição, uma vez que essas pessoas estão vendendo materiais para satisfação de prazer de terceiros. No entanto, essa foi uma das maneiras que muitas pessoas encontraram para se manter durante a crise da covid-19. Com a pandemia, alguns países latino-americanos foram os primeiros a mostrar o aumento no número de adeptos da plataforma, como no México, Venezuela e República Dominicana.

Apesar de muitos criadores ainda serem anônimos, outros já são nomes bastante conhecidos e com um grande número de seguidores, garantindo um alto lucro com a comercialização do seu conteúdo, entre eles, ex- participantes de reality-shows ou famosos como a rapper Cardi B, mas, ela não expõe material de cunho sexual, apenas fotos e vídeos privados do seu dia a dia. A cantora Anitta também está entre os perfis mais seguidos do Only Fans, por meio do qual os seguidores podem ter acesso a seus vídeos e fotos por um valor a partir de US$4,99 dólares por mês.

De acordo com uma matéria publicada pelo site Business Insider, os usuários gastaram 2,4 mil milhões de dólares na plataforma em 2020. O lucro da empresa cresceu 553% até novembro de 2020, um crescimento sete vezes maior, de acordo com o Financial Times, que afirma que mais de 300 criadores de conteúdo já chegaram a ganhar até R$ 7 milhões no OnlyFans.

O consumo de pornografia nas redes é um tema bem conhecido e que tem levantado inúmeras questões, que vão desde os mecanismos de controle de acesso até pautas dentro do movimento feminista, e tem discutido com o mercado pornográfico tem submetido as mulheres. Ganhar dinheiro através da venda de conteúdo explicito será uma nova forma de pornografia independente? Onde cada criador pode ser responsável pela produção e lucro? Dinheiro fácil ou saída para a crise pandêmica, a prática tem se tornado cada vez mais comum, gerando renda não apenas para esses criadores, mas para um império comercial por trás de todo esse sucesso.