O surgimento e a representatividade do setor Pecuário no Brasil
Por Giselle Cunha, Jornalista- RJ
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Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Editora de conteúdo – Site MJ: Beatriz Azevedo, Jornalista
Conheça a história e a importância dessa atividade no setor financeiro do nosso país
O setor Pecuário teve início no século XVI, pelas mãos de uma mulher chamada Ana Pimentel de Sousa, que governava a capitania de São Vicente através de uma procuração concedida por seu marido. Ana trouxe as primeiras cabeças de gado no ano de 1534, mas a atividade só foi ganhar destaque a partir de 1550, quando, em Salvador e por todo o Nordeste, começaram a ser usados como tração nas fazendas para facilitar o plantio.
No século seguinte, a criação de gado começou a ter como finalidade o abate. Porém, com o aumento dessa atividade, começaram a surgir algumas restrições quanto ao local de criação, por exemplo. Como o consumo de carnes estava ligado mais ao público interno e o principal lucro de Portugal era proveniente da cana de açúcar, foi emitida a Carta Régia, que proibia os bovinos a terem acesso aos primeiros 50 km da costa brasileira, com o objetivo de não prejudicar o plantio.
Após séculos de muita dedicação e aprimoramento, fechamos, no ano de 2020, como o primeiro lugar no ranking dos maiores exportadores de carne bovina do mundo. A atividade pecuária é dividida em dois segmentos: a pecuária de corte e a pecuária de leite. Outros animais compõem essa importante fatia da economia brasileira: aves, porcos, carneiros, cabras, cavalos e búfalos.
O Instituto Mulheres Jornalistas entrevistou Guilherme Souza Dias, zootecnista e assessor técnico da comissão nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Instituto Mulheres Jornalistas (MJ): O que é a CNA?
Guilherme Dias: É uma entidade representativa do setor produtivo perante aos órgãos reguladores, ao governo, ao ministério da agricultura, às instituições financeiras e também à sociedade. Trabalhamos em prol das cadeias produtivas como um todo, representando aqueles que produzem os alimentos e ficam sujeitos a todos os imprevistos climáticos e ambientais. Fazemos a representatividade desse setor que é considerado um dos mais importantes da economia.
MJ: Qual o principal animal que representa o setor pecuário?
Guilherme Dias: Os bovinos, que são divididos em duas categorias: uma voltada à produção de corte, de carne e os animais com aptidão leiteira. Existem raças específicas para cada um desses segmentos e, dentro de cada segmento, também há uma maior especificidade tanto na produção quanto na adaptabilidade de acordo com as diferentes regiões do Brasil, dado que somos um país continental. Portanto, temos diferentes realidades produtivas, realidades climáticas. Um animal leiteiro dos campos gerais do Paraná vai ser diferente de um animal que esteja no triângulo mineiro ou no norte de Minas Gerais. Cada região produtiva apresenta sua característica e sua adaptabilidade. O mesmo vale para os animais de corte. Temos três linhagens de animais: os de origem indiana, que são mais rústicos e adaptáveis ao clima tropical, e duas linhagens de animais taurinos de origem britânica e continental. Explorarmos o vigor híbrido, que é o cruzamento dessas linhagens diferentes, que gera uma prole (filhotes nascidos deste cruzamento), mais produtivos que seus pais.
MJ: Qual a importância econômica desse setor no Brasil e qual o principal mercado consumidor, interno ou externo?
Guilherme Dias: Em se tratando de pecuária de corte, nosso principal consumidor é o brasileiro. O Brasil é o principal exportador de carne bovina no mundo, cerca de 26 % de toda a nossa produção. É uma carne produzida majoritariamente em pastagem, o que é um diferencial, pois preserva-se toda a questão do bem-estar animal.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, o valor bruto da produção estimado só para a ovinocultura é de R$ 155 bilhões movimentados no campo. O valor da produção agropecuária é um cálculo feito a partir da produção, multiplicado pelo valor médio de comercialização. Nesse ano de 2021, só na parte de bovinos, há uma expectativa de movimentar R$ 156 bilhões. Associado ao leite, temos mais R$ 50 bilhões. É um setor que sozinho movimenta cerca de R$ 200 bilhões só na produção primária, sem contar a geração de valor no pós porteira com a oportunidade de empregos na indústria, a comercialização dos co produtos, o aproveitamento dos co produtos do boi, entre outras coisas.
MJ: Qual o principal desafio encontrado hoje pelo produtor?
Guilherme Dias: O Brasil é um importador líquido de lácteos, nossa produção é muito próximo do que a população brasileira absorve. Qualquer oscilação, seja na demanda, seja na oferta do leite, gera uma oscilação muito grande de preços no campo. Se tratando de uma cadeia produtiva voltada quase que 100% para o mercado interno, ficamos à disposição da situação econômica da população. Não existe no mercado externo um suporte para momentos de crise econômica.
As adversidades climáticas recentes, comprometeram a produção em importantes lugares com a geada que afetou a qualidade, a quantidade e a disponibilidade de forragem disponível para os animais, isso gera uma necessidade de investimento maior dos produtores em suplementação alimentar para os animais, ou seja, aumenta o custo com rações.
MJ: Qual o percentual de produção deste setor entre as regiões do país?
Guilherme Dias: Segundo dados do IBGE, de 2019, o Brasil produziu 4,8 bilhões de litros de leite. A região sudeste produziu 11,9 bilhões de litros (34%), o sul, 11,6 bilhões; o nordeste, 4,8 bilhões; o centro oeste, 4,1 bilhões; e o norte, 2,2 bilhões.
A logística da cadeia leiteira é um pouco diferente das outras produções, pois é diária. Não tem sábado, domingo ou feriado. Todo dia, o caminhão precisa passar na propriedade para recolher o material.
Gostaria de destacar que a produção do Brasil tem esse diferencial do ponto de vista ambiental e de bem-estar animal que é muito relevante, com a sua criação em pastagens que permite ao animal expressar o seu comportamento natural. Associa-se muito a produção bovina ao desmatamento, mas na verdade o principal vilão do desmatamento e da invasão às áreas virgens é a especulação imobiliária. O boi é a atividade mais fácil de conduzir nessas regiões recém abertas, pois é um animal rústico que se adapta bem às regiões onde existem pastagens.