Por Mariana Mendes, Jornalista –SP
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Jogos Olímpicos de Tóquio traz importantes discussões sobre sexualização do corpo de atletas femininas

A sexualização do corpo de atletas femininas é uma discussão crescente no mundo esportivo. Recentemente, o assunto foi trazido à tona após a recusa das jogadoras norueguesas de handebol de areia de utilizarem o tradicional biquíni em partida pela disputa de bronze no Campeonato Europeu de Handebol de Praia. A seleção feminina optou por usar shorts e, pela atitude, foram multadas em 1,5 mil euros (R$ 9,4 mil) pela Federação Europeia de Handebol (EHF). Para a organização, o uniforme foi considerado “impróprio” e cada jogadora presente no jogo recebeu punição de 150 euros.

Após a punição, fotos dos atletas noruegueses da seleção feminina e masculina viralizaram na internet, causando revolta entre os internautas pela diferença do que é considerado o uniforme oficial do esporte. As norueguesas pediram permissão à federação para utilizarem shorts, com a justificativa de hiper sexualização e restrição de movimentos, mas, mesmo assim, a recusa foi feita.

 

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Foto: NICLAS DOVSJÖ/NORWEGIAN HANDBALL FEDERATION

A Federação de Handebol da Noruega afirmou que irá apoiar as atletas em busca desta mudança e arcará com a multa imposta pela EHF. Em nota, a entidade apoiou as atletas em busca de “mudar as regras das vestimentas, para que as jogadoras possam jogar com as roupas com as quais se sentem confortáveis”.

Tóquio 2020 abre discussão na ginástica

E nos Jogos Olímpicos de Tóquio, o assunto ganha força. A delegação de ginástica artística da Alemanha chamou atenção por decidir usar uniforme com calças nas competições, ao invés do tradicional collant. O full-body suit não é proibido pela federação do esporte, mas as alemãs provaram que é possível quebrar padrões até na vestimenta do esporte.

 

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Foto: Reprodução/Instagram/@pauline_schaefer

As ginastas já tinham usado o uniforme nas competições europeias e afirmaram se posicionar contra a sexualização do corpo no esporte e buscar transformar a ginástica em uma modalidade segura para todas. “Queríamos mostrar que toda mulher, todo mundo, deve decidir o que vestir“, disse a ginasta Elisabeth Seitz.

Geralmente, mulheres usam vestimentas mais cumpridas por motivos religiosos, como a egípcia Doaa Elghobashy, que foi a primeira jogadora olímpica de vôlei de praia a usar um hijab nos Jogos de Rio 2016.

Em entrevista ao Fantástico, Flávia Saraiva, ginasta olímpica brasileira, aprovou a atitude das colegas de profissão. “A gente já vem lutando por uma causa há muito e muito tempo. Então, ver elas conseguindo conquistar isso, eu me sinto parte da vitória delas também”, disse. Vale lembrar também que a ginástica é um esporte que possui diversas atletas jovens, muitas vezes menores de idade, que usam collants cavados, realçando o corpo.

Um esporte muito vítima das vestimentas tradicionais curtas é o vôlei de praia. Em 2020, a esportista Carol Solberg revelou que passou por diversas situações desagradáveis envolvendo fotógrafos que cobriam as partidas, tirando fotografias apenas com conotação sexual.

Ela ainda adicionou a falta de conforto das roupas dependendo da competição. “Muitas vezes, a gente joga em lugares tipo a Noruega, e entra uma frente fria que é um gelo. E aí rola esse assunto: ‘Mas vai jogar de roupa? É ruim para a televisão!’ Por quê? É triste pensar que um esporte está ligado à pessoa ligar a televisão e ver um monte de mulher de biquíni, não é esse o jogo”, disse.

O Comitê Olímpico Internacional (COI) se situou na discussão e tomou medidas necessárias para controlar que as imagens transmitidas para o mundo todo não tenha como foco o corpo das atletas. O presidente do Serviço Olímpico de Transmissão, Yiannis Exarchos, disse: “Você não verá em nossa cobertura algumas coisas que vimos no passado, com detalhes e close-ups em partes do corpo.”

Além disso, foi atualizado as “Diretrizes de representação”, especificando para os detentores de direitos de transmissão que “não foque desnecessariamente na aparência, roupas ou partes íntimas do corpo”.