Por Ana Luiza Timm Soares
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, Jornalista
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, Jornalista
Seria mesmo o fim das Fast Fashions? Os preços cada vez menos amigáveis das grandes lojas de departamento vêm assustando os consumidores e se tornando notícia internet afora. Podemos citar inúmeros motivos para que isso esteja ocorrendo: crise mundial, gestão nacional deplorável, guerra na Ucrânia, pandemia etc.

Mas o fato é que já pagávamos muito caro para consumir nesse tipo de local. E aqui falo de valor, não de preço. Tu já te perguntou como uma peça de roupa pode custar tão barato? Pois quem sabe o preço dos tecidos e do trabalho justo das costureiras já. E é inviável uma calça jeans custar R$ 50,00. A menos, claro, que alguém ganhe uma miséria com isso. E, com certeza, não é a grande franquia que mexe em seus lucros. 

No documentário The True Cost – tem na Netflix, corre lá – foram expostas as condições de trabalho de diversos operários de facções que labutam mundo afora, absolutamente insalubres e pessimamente remuneradas. Além disso, cada vez que paro para pensar na produção em larguíssima escala, me lembro do filme de animação WALL.E. Sim, o mundo está virando um lixão, e nossos hábitos de consumo de roupas contribuem largamente para tal. 

Ao invés de choramingar pelo fim das fast fashions e bradar que agora vai comprar só na Shein (SOCORRO), que tal olhar com mais carinho para aquela costureira do bairro? Ou a marca da amiga que se formou em Design de Moda e busca um lugar ao sol? Quem sabe brechós, lojas de second hand ou até os serviços de aluguel citados no último texto desta que vos fala? Já está mais do que na hora dessa mudança acontecer. 

E antes que levante o coro do “marca local é muito caro”, é necessário dizer que existe uma grande diferença entre o trabalho de uma operária da indústria e a sua vizinha costureira. Em geral, os trabalhadores de grandes confecções fazem de uma a duas operações em uma peça de roupa. O que isso significa? Que um costura a manga, o outro fecha a lateral da peça, o outro só faz a bainha e por aí vai. Já o trabalho artesanal dá conta do processo todo, desde a modelagem até o acabamento final da peça. Então não tem sentido nenhum tu desmereceres o custo do trabalho da costureira em favor de algo comprado em uma grande loja de departamento. Lembrando que a  precarização do trabalho da operária da grande fábrica faz parte de uma engrenagem muito maior.

De forma semelhante, ocorre com as pequenas marcas, que, PASMEM (contém ironia), trazem valores por vezes mais acessíveis do que as fast fashions – não só atualmente. Daí tu estás reclamando que a C&A virou Renner, que a Renner virou Zara e a Zara… sei lá; ao invés de olhar para o lado. É só sair da zona de conforto e procurar um pouco. Sem contar que a qualidade das peças que, em geral, também costuma ser bem superior do que aquelas compradas na loja de 5x sem entrada.

E assim como os avisos na última eleição estilo “eu avisei” só são sentidos quando a coisa aperta no bolso, no capitalismo, as mudanças só ocorrem quando isso acontece. Pois que seja, mas não deixemos a oportunidade passar. 

Empresários brasileiros já deram o ultimato ao governo para taxar as compras de sites estrangeiros como AliExpress, Shopee e Shein. Só que precisamos ficar atentos a quais desses empresários querem exclusividade para trazer esses mesmos produtos com valores mais elevados – alô véio da H, não era livre mercado que cês queriam? – e aqueles que de fato pretendem valorizar o produto nacional. 

Aqui no Rio Grande do Sul, temos um movimento muito bacana chamado Somos MAG – Moda autoral gaúcha – e esse pode ser um bom ponto de partida para conhecer designers e marcas bacanas e éticas. Vamos juntes?

Seguindo na lógica da música título, não se deixe enganar pensando que as fast fashions eram a liberdade. Na verdade, eram as chaves da prisão.