Por: Marta Dueñas, jornalista
E-mail: marta.duenas@mulheresjornalistas.com
Chefe de reportagem: Juliana Monaco, jornalista
Diretora de jornalismo: Letícia Fagundes, jornalista

Caminho do meio é, quase sempre, associado a uma escolha racional, cordata, com ganhos e perdas medidas, com ganha-ganha. O caminho do meio tem essa pecha de ser o espaço do equilíbrio, em que as partes constroem em conjunto. Será?

Depende. Afinal, estamos indo pelo meio. O meio sempre é uma dependência do que são feitas as pontas, ou os extremos, como alguns preferem dizer. Qual é, portanto, o novo caminho do meio para nossa política nacional?

O Presidente Lula tem sido sabatinado pela imprensa sobre seu poder de articulação. É sabido que Lula é um negociador e uma de suas características políticas, para quem gosta de ler, discutir e saber de política, é de que ele anda pelo meio com compromissos sociais fortes e bem intencionados. Mas anda pelo meio, apesar de alguns ainda acreditarem que ele seja comunista (risos). A questão é que o momento político brasileiro desse governo é outro e, nessa equação, qual é o novo meio? Se antes era preciso negociar entre Psol e PSDB, atualmente, a ponta mais à direita está na extrema direita. E no campo da negociação é inegável que o caminho estará num meio diferente daquele que parte da esquerda (o dos verdadeiros centro, se é que existe) espera.

O novo caminho do meio é mais à direita, sem dúvida alguma; e isso vale para articulação, entregas e programas, e comunicação do novo governo. Esse caminho “conciliador” não vai agradar todos os lados e, se resolver ficar na equidade entre as pontas, vai ser inclinado para o cidadão de bem. Indígena vai ser índio de celular, mulheres serão histéricas e o resto todo que não presta fica entre PCC e vagabundo. Portanto, dessa vez, o caminho do meio vai ter que rasgar muito mais terra e fincar uma nova negociação entre aqueles que estão à direita puxando a governabilidade. As últimas agendas do legislativo já demonstram as dificuldades do atual governo. A imprensa já está cobrando do Presidente a falta de articulação do governo. Seria falta de articulação ou novos termos para negociar com os mercantilistas da república? Outros jornalistas já dizem que o Governo é fraco? Seria fraqueza ou demonstração de força para que o Presidente não tenha que entrar em campo cada vez que um órfão do Orçamento Secreto chore pela falta de mamadeira?

Maio foi um mês especial. Difícil, mas especial. O legislativo demonstra também a que veio e ele não foi composto pelo governo federal. Aliás, o governo federal ainda está numa composição e isso sim é da mão do Presidente e sua base partidária e aliados. Me faz pensar muito na teoria dos seis graus. Lembram? Uma teoria que diz que necessitamos no máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas. Eu, com seis laços ou menos, posso estar conectada a Madonna, por exemplo. Lula está bem mais próximo de Bolsonaro na composição de seu governo do que ele imagina.

A briga paroquial alagoana que assistimos recentemente é um bom exemplo. Calheiros são aliados de última hora, mas em tempos não tão distantes era o lado de lá que puxava a esquerda para um centro mais centrão. Agora eles são o lado de cá e o lado que puxa é Lira. Dá pra perceber o novo fiel da balança?

Lira que amava Bolsonaro que odiava Renan, que é base do governo (enquanto o filho é Ministro) e o outro é oposição que foi apoiado pelo governo para estar na Presidência da Câmara. Se abrirmos as caixas de pandora ministerial, a teoria dos seis, imagino, se reduza!

Lidar com isso é bem desafiador também. Pois não é a presença do ex-presidente que amedronta, mas os valores e verdades que pautam o trabalho daqui para frente. MDB de Alagoas é próximo ao Governo Lula, já o MDB gaúcho, quase uma banda podre onde figuram políticos como Osmar Terra, está no outro hemisfério. Mas foi do primeiro grupo o caroço de azeitona que quase trincou os dentes do governo com a medida provisória de reorganização dos ministérios (MP 1154 de 2023). O relator, Deputado Isnaldo, simplesmente não modificou o texto da medida que suprime poderes dos ministérios do Meio Ambiente e dos povos indígenas. Medida essa que poderia deixar, por exemplo, Renan Filho (de Alagoas, por acaso) sem Ministério.

A troco de que? Negociação. A palavra da semana não foi apenas articulação. A palavra foi negociação. O Centrão sempre tem uma fatura no balcão e a cara do cobrador não foi amistosa. Ao final, já noite adentro, a MP foi aprovada, ainda que sem alterações no seu texto, mas assegurou o mínimo desejado pelo governo.

Falando em legislativo e negociações, de janeiro até maio, as diferenças ideológicas e a endireitada dos legisladores se apresentaram rapidamente. Ainda que tenha sido eleito um governo com propostas sociais claras, pautas urgentes nos temas de meio ambiente, povos indígenas, reforma agrária e combate à pobreza e à fome, ninguém avisou os deputados que esse era o desejo da maioria dos brasileiros. Fato é que teve gente votando por um governo com essas agendas e votando, também, em legisladores com agendas divergentes. Então nesses cinco meses atrocidades estão ganhando como a PL do Marco Temporal, que coloca em risco as demarcações de terras indígenas; a CPI do MST cujo relator é o coordenador da boiada, Ricardo Salles (ex-ministro do Meio Ambiente), a CPI dos atos Golpistas, chamando para a coordenação dos trabalhos pessoas que deveriam ser foco de investigação na CPI.Entre os desafios desse primeiro semestre, penso que um dos mais complexos é o da articulação e negociação do governo com essa nova direita constituída e eleita que é extrema, conservadora, fascista e cristã. E ela vem acompanhada da viúva do orçamento secreto que desde a presidência da Câmara está barganhando o futuro do país.

Então, como dizem colegas jornalistas, o governo tem tido diversas “derrotas” nas relações com o legislativo. O que me causa preocupação é que as derrotas do governo são, na verdade, derrotas da sociedade. Somos nós que vamos viver sob o resultado desse novo caminho do meio, que lá pelas tantas, passa pela República das Alagoas que não é feita só do mais lindo mar do Brasil.